Embaixador: Primeiramente, eu concordo plenamente com a análise do presidente sobre a importância das relações entre os dois países no contexto da atual situação internacional. Os dois países são membros importantes do grupo BRIC, juntamente com a Rússia e a Índia. E o que esse grupo reflete é a tendência dos países emergentes em aumentar sua participação no cenário internacional, dados o seu desenvolvimento econômico e sua projeção no mundo. Os resultados da cúpula do G20 devem bastante nas áreas de participação dos países em desenvolvimento em organismos internacionais, seja na área financeira, na área de reforma do sistema monetário e financeiro internacional, e na área de supervisão de instituições financeiras. Quanto aos investimentos, o Brasil é bastante aberto a investimentos estrangeiros e há um espaço muito grande para investimentos na área de infraestrutura, na área de logística de transporte. O Brasil tem um programa de modernização de rodovias, ferrovias e portos, e essa é uma área muito desenvolvida na China. Amplos investimentos têm sido feitos na área industrial, na parte eletrônica, de informática e na parte de bens de capital. Há também muitas oportunidades para o investimento em energias renováveis, especialmente na área de biocombustiveis, onde o Brasil tem liderança mundial. As produções de etanol e biodiesel, por exemplo, vem crescendo bastante e podem contribuir para a área ambiental na China. Existe a oportunidade para investimentos na área do agronegócio, tanto na produção, mas sobreduto na comercialização e industrialização de alimentos. Uma área importante de investimento é a de serviços, sejam de comunicação, de eletrônicos, informática ou financeiros. O Banco da China, por exemplo, acaba de inaugurar uma agência em São Paulo. Enfim, existem inúmeras empresas brasileiras interessadas em contribuir para o desenvolvimento da China.
Zhu: Voltamos à questão do comércio. O aumento do volume do comécio entre o Brasil e a China é acompanhado de conflitos comerciais. Como o senhor embaixador vê esses conflitos? Isso vai afetar o futuro das relações bilaterais?
Embaixador: Isso acontece à medida que o comércio cresce. Quanto o comércio cresce de forma intensa, sobretudo a taxas muito elevadas, como ocorreu com o comércio entre o Brasil e a China, é perfeitamente natural que apareçam problemas específicos. Esses problemas ocorrem principalmente em relação aos produtos das indústrias brasileiras mais tradicionais, a indústria têxtil e de calçados, que são altamente competitivas e de escala mundial, e por essa razão, pressionam as vias de exportação chinesas. No entanto, isso representa uma pequena parte no conjunto das exportações chinesas para o Brasil, que cada vez mais são de produtos de alta tecnologia e bens de capital. Portanto, esses incidentes comerciais são naturais num comércio que está crescendo, mas que desde a segunda metade do ano passado, tiveram suas exportações diminuídas para o resto do mundo com a queda do comércio mundial. Mas é muito significativo notar que o único país para o qual as exportações brasileiras estejam crescendo seja a China. As exportações chinesas para o Brasil caíram um pouco, mas creio que sejam recuperadas no segundo semestre, na medida em que a economia brasileira acelere novamente seu crescimento e encerre o ano com uma taxa de crescimento positiva.
Zhu: Senhor Chen, quais são as suas expectativas sobre as relações China-Brasil do ponto de vista de um acadêmico chinês?
Senhor Chen: A mim só cabe expor alguns aspectos, já que essa pergunta foi muito bem respondida pelo senhor embaixador. Devemos olhar o futuro das relações China-Brasil em dois campos diferentes, o das relações bilaterais e multilaterais. Na esfera bilateral, acredito que os dois países vão intensificar o nível do comércio, e lembre-se de que eu estou usando o termo nível ao invés de volume, pois me refiro aos aspectos qualitativos. O Brasil, além de manter a performance de exportação dos produtos primários, vai aumentar a venda de produtos manufaturados para a China com o aumento gradual de investimento em pesquisa, desenvolvimento e competividade industrial. Os dois países vão aumentar consideravelmente o investimento mútuo com o melhoramento do conhecimento de empresários chineses sobre o Brasil, e o melhoramento do ambiente de investimento no Brasil. Os investimentos chineses no Brasil aumentarão em volume e diversificação, como o senhor embaixador já mencionou. O intercâmbio e a cooperação nas áreas cientificas e tecnológicas também verão crescimento, a exemplo do sucesso da cooperação espacial. E darei alguns exemplos; a cooperação bilateral ou com países terceiros também será estabelecida com a formação e o treinamento de profissionais na área de mudanças climáticas, a fim de atender a demanda mundial crescente. Outro exemplo seria a cooperação no aproveitamento da biodiversidade. Na esfera multibilateral, a China e o Brasil vão reforçar ainda mais a consulta nas instituições internacionais. Em suma, têm se falado da intensificação do diálogo entre os países do BRIC e da representação dos mesmos em fóruns internacionais como o G20.