Zhu: Somente nesse ano, Brasil e China conseguiram avanços significativos nas cooperações nos setores de energia e finanças. E inclusive, durante a visita que Xi Jinping fez ao Brasil, os dois países assinaram um memorando de cooperação na área de energia. Como o senhor embaixador avalia esses avanços?
Embaixador: Esses avanços foram muito importantes. A visita do vice-presidente Xi Jinping foi uma visita histórica no Brasil, e ele estabelebeu um excelente diálogo com o presidente Lula e com o ministro das relações exteriores do Brasil, Celso Amorim. E por ocasião da visita, como a senhora indicou, foram assinados vários memorandos entre o Banco de Desenvolvimento da China e a Petrobrás, entre o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social do Brasil (BNDES), e entre o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco Itaú. A nossa expectativa é de que possamos concretizar todas essas operações e muitas outras durante a visita do presidente Lula. O Brasil fez descobertas de petróleo muito significativas na região costeira brasileira, e isso vai fazer com que nos próximos anos, o Brasil se torne um grande exportador de petróleo. A China é hoje o principal importador de petróleo brasileiro e pretendemos que essa cooperação, que se iniciou agora, envolva a China no processo de exploração de petróleo no Brasil, e permita o crescimento das exportações de petróleo para a China. O Banco Nacional de Desenvolvimento, o maior banco público de financiamento de longo prazo do Brasil, é fundamental no processo de financiamento do programa de aceleração do crescimento, um programa de estímulo fiscal para manter o desenvolvimento da economia brasileira. Esse programa está sendo acelerado este ano com o intuito de ajudar a economia brasileira a enfrentar a crise. Portanto, essa parceria entre o Banco de Desenvolvimento da China e o BNDES, vai possibilitar que a China também possa participar de projetos de infraestrutura e associar-se a esse esforço de aceleração do crescimento no Brasil.
Zhu: Em abril passado, durante seu encontro com o presidente Lula em Londres, o presidente chinês Hu Jintao declarou que "as relações sino-brasileiras têm um impacto mundial cada vez maior". Senhor Chen, do ponto de vista acadêmico, como o senhor explica tal afirmação?
Professor Chen: Bom, essa pergunta é bastante abrangente em diversos pontos. Primeiramente, tanto a China quanto o Brasil são potências de grande influência internacional, por sua população, tamanho, peso econômico e desempenho regional internacional. Segundo, os dois países estão ganhando voz nos assuntos internacionais de grande importância estratégica, como a questão financeira, da energia, do comércio e das mudanças climáticas. Em terceiro lugar, o desenvolvimento das relações entre os dois países auxilia a influência dos países em desenvolvimento, em especial dos emergentes, favorecendo as tendências de multipolarização. E finalmente, nos últimos anos, Brasil e China têm intensificado a consulta e a coordenação em busca da nova ordem econômica e política internacional, como por exemplo, ambos procuraram desempenhar um papel maior durante as duas recentes cúpulas do G20 destinadas a discutir a crise financeira mundial.
Zhu: Senhor Chen, quais são as suas expectativas quanto à visita do presidente Lula em maio?
Professor Chen: É muito interessante analisarmos o que está acontecendo com a China e com o Brasil no momento em que o presidente Lula vem ao país asiático. A meu ver, alguns fatores merecem menção especial. Atualmente, China e Brasil procuram resistir a vários impactos negativos da recessão econômica para poder manter o ciclo de crescimento econômico. Além disso, ambos se situam numa fase de aumento rápido de seu poderio econômico, e buscam o direito de maior participação na decisão dos assuntos internacionais. Neste contexto, o encontro dos dois chefes de Estado desperta grande expectativa. Acredito que se pode esperar a consolidação da parceria estratégica e o estreitamento do diálogo e da cooperação em alguns assuntos globais.
Zhu: A China e o Brasil já têm muitos projetos de cooperação bem-sucedidos, como por exemplo, a criação de joint-ventures como Embraco, Embraer, etc. Essas empresas já foram instaladas na China. Senhor embaixador, para as empresas chinesas que têm interesse em investir no Brasil, quais são os setores recomendados?