Em fevereiro de 1962, quando eu era chefe de reportagem do jornal "Última Hora" de São Paulo, fui ao aeroporto internacional para despedir-me de um casal amigo - os poetas Elvio Romero e Antonieta Dias de Moraes - casal que ia para Cuba, a fim de integrar o Conselho Diretor da entidade cultural "Casa de las Americas".

Antes de caminhar para o avião eles me perguntaram:

- Se aparecer um convite para trabalhar em algum país socialista, você aceitaria?

E eu respondi:

- Conforme o país...

Menos de dois meses depois eu recebia telegrama desses amigos, dizendo que o embaixador chinês em Cuba havia perguntado se eles sabiam de algum jornalista brasileiro que pudesse trabalhar no Serviço de Português da Rádio Pequim (antigo nome da Rádio Internacional da China). E me perguntavam nesse tegrama:

- Você aceitaria um convite para trabalhar na Rádio Central da China?

- Da República Popular da China? É claro que aceito - gritei imediatamente pra dentro de mim mesmo. A resposta para o casal amigo, só seguiria na semana seguinte, pois eu tinha uma namorada em Jundiaí (cidade vizinha de São Paulo) e eu a convidaria para almoçar no domingo, a fim de comunicar-lhe o convite e saber de sua reação, pois eu teria que cumprir um contrato de dois anos no País de Confúcio e Mao Zedong!

A resposta imediata de Angelina foi:

- Me leva com você!...

Pois ela também gostaria de verificar pessoalmente como andava a construção da China como República Popular depois de 1949 e conferir o que se aprendia nas escolas brasileiras sobre os cinco mil anos de civilização chinesa.

E erguemos vários brindes pelo casal amigo que me encaminhou o convite, e votos de boa viagem para mim e também para Angelina, pois eu tinha certeza de que, ao chegar em Pequim, os chineses convidariam também a minha namorada, prestes a concluir o curso de assistente social, para trabalhar na China.

Em seguida, transmiti minha resposta afirmativa ao convite e tratei de prepara-me para a viagem: pedi demissão do jornal, vendi alguns bens que possuía, paguei algumas dívidas, passei procuração para meu irmão Gregório me representar em algum evento ou assinar algum papel em meu nome.

Isso feito, fui a Jundiaí com minha mãe e dois irmãos, a fim de "pedir a mão" de Angelina a seus pais. E ficamos noivos numa noite muito animada, com muitas flores e mil e um brindes de felicidade para os noivos e votos de boa viagem e bom trabalho na China.

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