Os veículos de imprensa incluem Valor Econômico do Brasil, La Nación da Argentina, a Agencia Venezolana de Noticia da Venezuela e a Prensa Latina de Cuba.
A seguir, o texto completo da entrevista:
1. Já faz cinco anos que se iniciou a cooperação do BRICS. Como é que o senhor avalia a cooperação do BRICS nos últimos cinco anos e como se fortelece essa cooperação no futuro? Quais são as suas expetativas sobre a Cúpula de Fortaleza? Num momento em que o crescimento econômico dos países desenvolvidos se desacelera ou até se estagna, grande esperança está depositada no BRICS. Ao seu ver, como é que o BRICS vence as dessemelhanças entre os seus membros para se transformar no motor do desenvolvimento econômico global? (Valor Econômico, Brasil)
Ao longo dos últimos cinco anos, o BRICS vem formando um arcabouço de cooperação de multi-nível e ampla extensão, liderado pela cúpula dos líderes. Neste contexto, os países do BRICS vêm aumentando a confiança política mútua, aprofundando a cooperação pragmática numa ampla gama de domínios, como economia, finanças, comércio e assuntos relacionados a desenvolvimento, e reforçando a articulação e coordenação nos relevantes assuntos internacionais.
Os fatos comprovam que o desenvolvimento econômico, a estabilidade social, a coordenação e cooperação, bem como o crescimento conjunto dos países do BRICS, que somam 42,6% da população mundial, vão em consonância com a corrente do tempo, caraterizada pela paz, desenvolvimento, cooperação e ganhos compartilhados, e são também favoráveis para que o mundo tenha maior equilíbrio econômico, melhor eficiência da governança global e mais democracia nas relações internacionais.
O escritor brasileiro Paulo Coelho disse: "O mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de viver seus sonhos cada qual com o seu talento." Atualmente, o cenário internacional continua experimentando mudanças profundas e complicadas. Embora a recuperação econômica mundial tenda a se estabilizar e consolidar, persistem os diversos riscos e desafios. Neste sentido, a Cúpula de Fortaleza, carregada da missão histórica de retrospetivar a trajetória da cooperação do BRICS e arquitetar o seu desenvolvimento no futuro, reveste-se de importante significado de herdar as experiências do passado e inspirar a cooperação do futuro. Estou na expetativa de que esta Cúpula possa aprofundar a cooperação, sinalizar a inclusão e transmitir a confiança.
Para aprofundar a cooperação, a Cúpula de Fortaleza deve projetar, a nível estratégico, o futuro desenvolvimento do BRICS. No ano passado, sugeri na Cúpula de Durban que o BRICS devia avançar em direção a "vasto mercado integrado, grande circulação de múltiplos níveis, abrangentes ligações terrestre, marítima e aérea, e amplo intercâmbio cultural." Tudo isto constitui a minha sincera expetativa de formar uma parceria econômica mais estreita entre membros do BRICS. Espero que todas as partes envolvidas aproveitem o arranque do novo ciclo das cúpulas do BRICS para conceber novas perspetivas e explorar nova mola mestra de cooperação, fazendo com que o mecanismo do BRICS seja mais aprimorado, a coordenação política mais amaturada entre os seus membros, a cooperação pragmática mais aprofundada, e a base da cooperação do BRICS mais consolidada.
Para sinalizar a inclusão, os países do BRICS devem aprender um com outro, e ampliar sua abertura ao exterior em busca de ganhos compartilhados. As diferenças das situações nacionais e culturais podem resultar em opiniões diferenciadas sobre certas questões. Essa diversidade e dessemelhanças, porém, não se devem tornar em obstáculos, mas sim a importante força motriz para a cooperação inclusiva do BRICS baseada nas suas vantagens complementares. A cooperação do BRICS não se direciona ao aperfeiçoamento exclusivo, e pelo contrário, visa ao desenvolvimento comum de todo o mundo. Durante a Cúpula de Fortaleza, será realizada uma sessão de trabalho entre líderes do BRICS e dos países da América do Sul. Espero que por meio desta sessão, todas as partes participantes possam trocar plenamente observações sobre questões regionais e internacionais de interesse comum, de modo a aprofundar o conhecimento mútuo, impulsionar a cooperação e discutir a cooperação pragmática no domínio econômico-comercial e humanístico.
Para transmitir a confiança, o BRICS deve consolidar a união e confiança mútua, reafirmar a sua perspetiva do desenvolvimento e fortalecer a confiança do mercado e do público nas suas economias. Diz uma frase chinesa que é sempre necessário olhar o mundo com visão panorâmica. Todos os membros do BRICS enfrentam a necessidade de promover a reforma da estrutura econômica e o desenvolvimento inovador, e ao mesmo tempo almejam salvaguardar a justiça internacional e defender os interesses comuns dos países de mercado emergente e em via de desenvolvimento. Desde que os países do BRICS aprofundem a confiança mútua política, intensifiquem os concensos, façam ouvir mais vozes e proponham mais planos, podem fornecer mais energia positiva para o crescimento econômico mundial, o aprimoramento da governança econômica global,e a promoção da paz e desenvolvimento do mundo.
O Brasil tem sido um participante ativo da cooperação do BRICS. Fez muitos trabalhos efetivos para preparar a Cúpula de Fortaleza. Estou convencido de que, sob a presidência do Brasil, a Cúpula de Fortaleza irá certamente escrever mais um capítulo maravilhoso na história de cooperação do BRICS.
2. Como é que o Senhor avalia o nível da Parceria Estratégica Global China-Brasil? Quais são as áreas de interesse da parte chinesa quanto à cooperação entre os dois países? A parte chinesa pretende ampliar seus investimentos no Brasil? (Valor Econômico, Brasil)
A China e eu próprio atribuímos alta importância ao desenvolvimento da Parceria Estratégica Global China-Brasil. Constato com satisfação que, graças aos esforços conjuntos, a confiança mútua política e estratégica entre a China e o Brasil atingiu um patamar mais alto do que nunca, enquanto a cooperação pragmática se estendeu a uma profundidade e amplitude inédita.
No ano passado, mantive duas reuniões com a presidente Dilma Rousseff à margem de eventos multilaterais e conversamos por telefone, durante as quais trocamos observações, de forma aprofundada, sobre o relacionamento bilateral e questões de interesse comum, e alcançamos importantes concensos sobre o reforço da cooperação amistosa e de benefício mútuo em todas as áreas.
Também no ano passado, o fluxo comercial bilateral ultrapassou US$ 90 bilhões. A China manteve sua colocação como o maior parceiro comercial do Brasil enquanto o Brasil se tornou no 9º maior parceiro comercial da China. Registram-se resultados frutíferos de cooperação de benefício mútuo nas áreas de energia, recursos, indústria manufatureira, finanças, agricultura, entre outros. A cooperação pragmática China-Brasil não apenas beneficia cada vez mais os nossos dois povos, mas também faz com que os desenvolvimentos dos dois países fiquem mais estreitamente interligados.
A China e o Brasil, ambos importantes países em desenvolvimento e de mercado emergente, mantêm coordenação efetiva em torno de temas globais de alta relevância, empenhando-se juntamente em construir uma ordem econômica internacional justa e razoável bem como salvaguardar os interesses comuns dos países em desenvolvimento.
Este ano marca o 40º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil. Confúcio disse que "aos 40 anos, a pessoa se livre de perplexidade." Gostaria de aproveitar a minha visita de Estado ao Brasil para resumir com os líderes brasileiros as experiências do desenvolvimento do relacionamento bilateral e deliberar medidas efetivas, a fim de intensificar ainda mais a cooperação pleni-direcional e elevar o nível das relações sino-brasileiras. A parte chinesa quer junto com a parte brasileira insistir em se tratar mutuamente como importante parceiro, aderir ao princípio de benefício mútuo e ganhos compartilhados, promover o crescimento contínuo e estável do comércio bilateral, e em conformidade com seus próprios planos de desenvolvimento, realizar ativamente a cooperação em investimento industrial, e explorar novos domínios de cooperação, a fim de melhor impulsionar o desenvolvimento econômico e social de ambos os países.