Assistir a um espetáculo da Ópera de Pequim é, definitivamente, programa indispensável a quem visita a capital chinesa. Sempre resisti, influenciada pelos comentários de outros ocidentais, que diziam trata-se de um evento chato e sem graça. Até que, no fim de 2009, a Rádio Internacional da China organizou uma excursão ao teatro Liyuan, para que os funcionários estrangeiros conhecessem a chamada "quinta-esssência", umas das mais famosas especialidades de Beijing, ao lado do pato.
Fomos eu e Fernanda, amiga e colega de Cri que, na faculdade onde estudou mandarim, teve contato com esse e outros aspectos da cultura chinesa. Ela já havia assistido a peças mais simples do teatro tradicional chinês e ficou encantada com o que viu. Era a mais empolgada com a oportunidade!
Ao chegar, a primeira grata surpresa. Tivemos acesso ao camarim dos atores, onde pudemos observá-los e fotografá-los se maquiando. Sim, não existe um maquiador como nas grandes produções teatrais, que exigem um especialista para manipular os detalhes que dão vida à personagem. Faz parte da formação desses atores desenvolverem a habilidade - que classifico de dom - de usar as tintas para caracterizar as quase 60 complexas e sofisticadas figuras existentes na Ópera de Pequim.
Já dentro do teatro, ocupamos as privilegiadas mesas da primeira fila, repleta de acompanhamentos para um chá de jasmim que nos foi servido de maneira espetaculosa. O máximo! Uma pena que as fotos que tiramos não traduzam esse espetáculo à parte.
O show foi aberto por uma banda de nove músicos que tocavam instrumentos de corda, percussão e sopro. Aquela melodia aguda, bem chinesa, trouxe-me de volta o sentimento do quanto é especial estar na China, às vezes engolido pela rotina que nos enreda onde quer que estejamos.
Os atos seguintes foram uma mescla de kung-fu, dança, acrobacia, mímica, interpretação e canto, tudo sincronizado à música da banda. De onde estávamos, era possível enxergar o suor que escorria dos rostos dos atores extremamente hábeis, técnicos e bem preparados. Aquelas performances só podem ser fruto de muitos anos de treinamento e concentração. Até a heroína, uma moça de aproximadamente 25 anos, deixou a todos de boca aberta quando fez algo que lembrou muito a nossa ginasta Daiane dos Santos! Os cenários da peça são simples e fixos, assim como as luxuosas indumentárias e os raros objetos cênicos. Fundamental é, portanto, a imaginação dos espectadores, magistralmente aguçada por aqueles artistas que, sem o auxílio de muitos artifícios cênicos, conseguem com sua técnica revelar o caráter da personagem, os sentimentos e as intenções dela. Meu ato preferido foi aquele no qual dois atores simularam uma luta de espadas no escuro, ainda que estivessem muito bem iluminados. Muito mais não posso dizer, pois nada entendi dos diálogos em chinês, e em chinês eu só sei dizer "Olá, Obrigada, Quanto custa e Até logo".
O que era pra ser um programa entediante se revelou uma das minhas mais surpreendentes experiências em Beijing. E que quero repetir e apresentar aos parentes e amigos que, se Deus quiser, receberei aqui na capital chinesa.
Não vou me meter a explicar detalhes da Ópera de Beijing. Isso não é uma reportagem, apenas um relato. Se quiserem mais informações, no site da própria CRI é possível ler alguns textos interessantes e didáticos sobre o assunto.
http://portuguese.cri.cn/152/2007/08/22/1@73770.htm
http://portuguese.cri.cn/152/2006/08/02/1@48340.htm
http://portuguese.cri.cn/152/2008/05/13/1@88467.htm
http://portuguese.cri.cn/chinaabc/chapter19/chapter190101.htm