CRI: Quer dizer que os empresários brasileiros tem que ser mais ativos?
Embaixador: Sim, eu diria com mais agressividade, com mais força. Não pode fazer as coisas só através da internet. Isso não dá.
CRI: Durante o seu mandato no Brasil como embaixador chinês, você foi entrevistado por muitos veículos de imprensa brasileira, e até deu palestras e discursos. Por quê? Você acha que os brasileiros não conhecem ainda muito bem os chineses e a cultura chinesa?
Embaixador: não, falta muito. Eu diria que, mesmo meus amigos brasileiros comentam: "Embora com seu trabalho, o conhecimento do Brasil sobre a China ainda é muito escasso". Porque o povo brasileiro conheceu a China através das Olimpíadas, e agora vai através da visita do Lula, e em outras ocasiões. Talvez no ano que vem, na exposição mundial de 2010, em Shanghai, os brasileiros vão ter chance também de entender mais sobre a China. Mas, de modo geral, o conhecimento é muito escasso. O povo chinês também conhece pouco. Conhece mais o Ronaldinho, o Ronaldo, futebol, café, samba. Mas, de resto, não conhece. Então, para que as relações possam atingir um nível mais satisfatório, os dois lados têm que trabalhar. Sobretudo, eu espero, a mídia; os veículos de imprensa têm que trabalhar muito mais. Eu diria que a imprensa brasileira deveria ser mais trabalhadora, investir nessa área. Porque não pode só copiar versões que vem da Europa ou dos Estados Unidos. Isso não funciona. O Brasil tem que encarar frente à frente a China. Procurar entender, como nós também devemos fazer a mesma coisa.
CRI: O porta-voz da chancelaria chinesa já confirmou essa visita do presidente Lula à China, durante os dias 18 e 20. Mas se tratando de um ambiente da crise financeira, como o senhor vê essa visita e qual é o significado dessa visita?
Embaixador: Eu pessoalmente acredito que essa visita vai ser muito importante, porque o Brasil e a China são dois países emergentes e fazem parte do bloco Bric. Mas, na verdade, o Brasil e a China compartilham quase inteiramente os pontos de vista sobre essa crise. Sua origem, sua dimensão, suas influências negativas à economia mundial. E também acho que os dois lados têm trocado com muita frequência as opiniões, em um consenso quase total, quase geral sobre os assuntos. Tanto em Washington, como agora a segunda em Londres, o presidente Hu Jintao se encontrou com o Lula, e acho que os dois se entenderam muito bem. Agora há uma versão que diz que as relações China-Brasil já ultrapassam a esfera bilateral, já dispõem um significado mundial. Caso a gente queira ou não, os dois países, sentados juntos, trocam opiniões, fazem o mesmo apelo. Sobretudo, queremos que os países sejam mais estimados, que possam desempenhar um papel mais atuante na economia mundial, no FMI [Fundo Monetário Internacional], no Banco Mundial, etc. aliás, a última cimeira em Londres já deu sinais muito positivos neste sentido, reconhecendo o peso dos países em desenvolvimento, sobretudo a China, Índia, Brasil e outros países. Por isso acho que, nessas circunstâncias, a visita do Lula só vai intensificar esse entendimento. Acho que posso dizer mais ainda: a China e o Brasil, no modo de enfrentar essa crise, dispõem da mesma atitude – incentivar a demanda interna, baixar impostos para neutralizar ao máximo as influências negativas da crise financeira que assolou o mundo inteiro. Aliás, essa crise não começou por nós. Começou dos países desenvolvidos. Mas também sofremos, mas também só reclamar não vai funcionar. Temos que trabalhar.
CRI: Você disse que as relações entre China e Brasil ganham destaque no cenário internacional. Você acredita no aumento de participação desses dois países, dos países emergentes, nas decisões de problemas internacionais?
Embaixador: Eu acredito que sim. Porque não se pode subestimar os países em desenvolvimento. Não só o Bric, como também outros países, o bloco africano, o bloco árabe, toda a Ásia. Os países em desenvolvimento devem ter mais voto, direito à voz, a decisões, a deliberações mundiais, porque este mundo já não é mais como era antes, só poucos ditam, outros seguem. Tem que mudar a regra do jogo. Tem que chegar a vez dos países em desenvolvimento terem mais chance de participação.
CRI: Quais são suas expectativas futuras das relações sino-brasileiras?
Embaixador: Posso dizer, com muita confiança e muito otimismo, que as relações entre a China e o Brasil, a qual eu contribuí durante toda a minha vida diplomática, eu acho que as relações só vão se desenvolver cada vez mais e melhor, porque as relações de 74 para agora já atingiram este nível. Daqui para frente, quem sabe daqui a 15, 30 anos, vai subir para um novo patamar. Eu não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Porque os dois países, a China e o Brasil, há uma versão que diz: "Se um dia nós pudermos fazer um túnel, para ligar a China ao Brasil com facilidade". Agora, a cooperação entre a China e o Brasil só se dá no satélite remoto. Uma das razões físicas é porque China e Brasil estão na mesma órbita, e isso não é só científico. China e Brasil vem mesmo atuando na mesma órbita. Basta aumentar mais conhecimento, identificar mais áreas, novas criações, sobretudo novos modos e métodos de intensificar essas relações. Eu acredito que as relações vaio ser cada vez melhores, sem dúvida nenhuma.