CRI: No Brasil, ainda há algumas pessoas, até mesmo políticos, que consideram os produtos chineses um prejuízo ao mercado nacional, e até pedem ao governo para adotar medidas restritivas. Ao mesmo tempo, também surgem as disputas comerciais entre os dois países no mercado internacional. Como se acham esses conflitos comerciais?
Embaixador: Vamos analisar com calma. O comércio aumenta, e isso é benéfico para ambos os lados. O comércio tem que ser, como se diz, um caminho de dois sentidos. A China compra do Brasil, e muito, e vende bastante ao Brasil. Então quem sofre? Quem ganha, todos sabemos. Na verdade, os dois países estão ganhando juntos. O Brasil ganha com o comércio que tem com a China, a China ganha também mantendo o bom comércio com o Brasil. Os consumidores brasileiros se beneficiam muito com os preços competitivos e a boa qualidade dos produtos chineses. Claro, evidentemente, acredito que no Brasil há três correntes de opiniões diferentes sobre o comércio bilateral com a China. Uns que acham que o Brasil deve vender mais. Está certo. Mas tem que saber vender. Não é você ter um produto e esperar que os outros compradores venham. Isso não existe mais. Quando eu estava no Brasil, eu falava muito isso para os empresários brasileiros: "Vocês têm que atacar com agressividade o nosso mercado. Fazer com que vocês possam vender no nosso mercado". Se todo mundo vende na China, por que não o Brasil? A China tem quase 2 trilhões de comércio bilateral com o mundo inteiro; o Brasil com a China não chega nem a 3% dessa cifra. O Brasil, pelo tamanho e potencialidade que tem, pode vender muito mais. Este é o primeiro ponto. O segundo ponto: comércio é assim. Você tem competitividade, preço bom, qualidade boa. Se você consegue vender, você ganha. Se você não vende, você perde. Isso com certeza. Isso faz parte do jogo. Todo mundo sabe. Então eu acho que não há nada a temer. Na China se diz: "se você é bom ou mau, vamos dar uma caminhada sobre o cavalo, para ver se o cavalo vai dar para a batalha ou não". Então acho que competitividade é isso. É até cruel, mas faz parte do processo. Aliás, todos nós somos membros da OMC [Organização Mundial do Comércio], então nós temos de seguir as regras da OMC. Se infringir essas regras, você pode processar, pode denunciar – dentro das regras. Você tem que respeitar as regras. outro ponto, eu acredito, entre a China e o Brasil há a complementaridade comercial e econômica é muito grande. O importante é saber identificar ainda os pontos. Acho que no ano passado, o governo brasileiro, através do Itamaraty, do Ministério do Comércio, Indústria e Desenvolvimento Econômico, do Comércio Internacional e também do Conselho Empresarial Brasil-China, queria publicar um livro, "Agenda China". Justamente para ajudar a promover a venda de produtos brasileiros na China. Acho que, talvez neste ano, devido à crise financeira internacional, o volume absoluto entre China e Brasil, em vez de cair, aumentou, proporcionalmente. Até isso é bom. Isso mostra que Brasil e China se completam bem. Então não há nada que temer. Agora, se houver problema, a gente pode conversar, com calma, analisar os motivos para chegar a um consenso e encontrar soluções interessantes. Até eu diria, outra coisa que é interessante, assim que eu cheguei no Brasil no ano de 2006, eu já interpretava de outra forma os conflitos, e disse assim: "Vocês, vejam. Antigamente, parece que nunca houve conflito comercial entre a China e o Brasil. Nunca houve briga, porque o comércio era quase zero. Agora, o comércio aumenta, o fluxo aumenta e há brigas, isso é até um bom sinal". Até amigos brigam também. Sem querer pisam no pé do amigo. Você nunca vê uma briga entre estranhos, que não se conhecem. Isso é muito natural. E o importante é que nós temos que saber enfrentar isso com calma, com seriedade e encontrar soluções.
CRI: De acordo com o seu conhecimento, quais as áreas da China que os empresários brasileiros podem investir mais?
Embaixador: Olha, sabe que agora, investimento do Brasil na China já se vê em várias áreas. Fabricação de aviões (chamados jatos regionais), que já tem uma fábrica em Harbin, através da Embraer e HAFEI AVIATION INDUSTRY Co., Ltd da China. Isso é um ponto. Segundo a Weg, de Santa Catarina, que tem uma fábrica de motores sofisticados na China. Eu conheço bem a fábrica lá em Jaraguá do Sul, no estado de Santa Catarina, no Brasil. No ano passado eu fui lá em Guandong para visitar a fábrica. Queria saber como eles funcionavam e como estavam se comportando no mercado chinês. E o resultado é satisfatório. E o caso mais exemplar é a Embraco. A Embraco, desde 95, já faz 14 anos, tem fabricado muitos compressores para geladeira na China. Já ocupa quase 15% do mercado chinês. Então realmente o Brasil tem produtos bons, projetos bons que podem investir no nosso mercado. [Pode investir] Aços especiais também, autopeças, que o Brasil tem coisas boas. Eu diria que ainda falta muito conhecimento sobre os dois lados. Tanto a China sobre o Brasil como o Brasil sobre a China. O importante agora é que o empresário seja mais pró-ativo, tome mais iniciativa, porque a China é uma economia de mercado. De verdade. A competitividade aqui é muito séria. Se você não conseguir se instalar, perde. Se você conseguir penetrar este mercado enorme, enorme não só na China, como a Ásia em geral. A Ásia, como todo mundo sabe, já virou um foco para todo mundo. Então o Brasil não pode perder esta oportunidade.