A fim de prover equilíbrio entre as nações, a China promove a Iniciativa de Civilização Global, para atuar na proteção cultural dos povos e proteção de seus valores
Embora já vivamos numa sociedade totalmente conectada, em que quaisquer países, os mais distantes possível, estão sujeitos aos mesmos estímulos midiáticos, culturais, comportamentais, geopolíticos e econômicos, tal relação ainda não resultou, por exemplo, no estabelecimento do nosso mundo como um espaço comum a povos e nações.
Tal celebração das diferenças e fraternidade entre os povos ainda não se verifica na geopolítica global. Seguem existindo países com mais e menos vantagens nas trocas comerciais e, portanto, no seu desenvolvimento externo. Os aparelhos midiáticos dos países mais ricos ainda influenciam, por meio de seus produtos, hábitos e costumes dos países para os quais exportam seus custos produtivos. As discussões sobre meio ambiente partem dos países mais ricos do mundo, afigurando-se extremamente punitivas em relação aos países mais pobres.
Desde o dia 15 de março de 2023, a República Popular da China, a qual figura entre as potências emergentes, começou a apresentar sua nova proposta para um conjunto transversal de aspectos que devem ser mudados no curso do tempo quanto à forma como os povos se relacionam. Durante a Reunião de Alto Nível para Diálogo entre o PCCh e Partidos Políticos do Mundo, o presidente chinês, Xi Jinping enfatizou que a tolerância, a coexistência, os intercâmbios e a aprendizagem mútua entre diferentes civilizações desempenham um papel insubstituível no avanço do processo de modernização da humanidade e fazem florescer o jardim da civilização mundial, pois o futuro de todos os países está intimamente ligado no momento.
Portanto, quatro conceitos foram estabelecidos para nortear esta busca por uma relação multilateral, tolerante e de mútuo aprendizado entre diferentes culturas.
1. Defesa do princípio da diversidade entre as nações. Igualdade, diálogo, inclusão e aprendizado mútuo devem ser pontos inegociáveis. Eles vão permitir trocas culturais que superem qualquer tipo de estranhamento, graças ao trabalho educacional e a uma mídia saudável. Desta forma, o aprendizado torna-se mais relevante do que disputas comerciais e sentimentos de superioridade.
2. Defesa dos valores comuns da humanidade. Paz, desenvolvimento, justiça, democracia, equidade e liberdade como valores comuns de todos os povos. A apreciação das diferenças por diferentes civilizações deve ser incentivada entre cidadãos, sem que haja valores, costumes ou formas de organização política impostas pelos povos mais ricos sobre os povos menoos pugentes.
3. Preocupação com a herança e inovação das civilizações. A plataforma de desenvolvimento e intercâmbio dos países, que ocorre nos cada vez mais constantes encontros entre culturas (seja em grandes eventos, seja em diálogos via redes sociais), deve ser alimentada pela história e pela cultura dos povos em questão. Pelos valores simbólicos que os constituem como tal e a partir do orgulho de cada um sobre eles.
4. O intercâmbio pessoal deve ser a base para o fortalecimento das relações globais equânimes. Os países devem incentivar iniciativas e programas para ampliar o contato entre indivíduos de culturas diferentes. Destes múltiplos encontros, nasce a tolerância e a fraternidade e, desde aí, uma melhor visão dos problemas do mundo, que pode fornecer caminhos para solucioná-los do ponto de vista das pessoas comuns.
Segundo Wang Yiwei, diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Renmin, estas ideias partem do ideal de Futuro Compartilhado, uma proposta da China para um mundo com mais equilíbrio, harmonia e prosperidade, pleno de conscientização e de relações multilaterais tanto na economia, quanto na cultura social.
“O conceito da Comunidade com Futuro Compartilhado para a Humanidade contém cinco pilares principais: política, segurança, economia, cultura e ecologia. A China tem constantemente apresentado iniciativas relacionadas a estes conceitos. Primeiramente, a Iniciativa de Desenvolvimento Global, depois a Iniciativa de Segurança Global e, agora, a Iniciativa da Civilização Global”, disse o diretor à agência russa Sputnik.
Da ideia de desenvolvimento global, que incide sobre a necessidade de construir um mundo mais próspero, passando pela segurança global – visando a um mundo livre de turbulências causadas por ações violentas ou pressões econômicas –, a Iniciativa de Civilização Global localiza-se no campo do simbólico. Por simbólico, entende-se o que opera no imaginário, no campo da abstração, mas que determina como projetamos o mundo e agimos nele.
Hoje, Europa, Estados Unidos e Japão dominam esse segmento importante para a prevalência do norte-ocidental como região central do mundo. A transmissão cultural é atualmente unilateral. No futuro idealizado pelo PCCh e liderado pelo presidente Xi Jinping, será fundamental a quebra desse sistema, substituindo o atual conceito de globalização por outro mais inclusivo e abrangente. Isso é imprescindível para o surgimento de uma sociedade global capaz de avançar conjuntamente para o Futuro Compartilhado, uma ideia chinesa para um mundo mais fraterno, com relações comerciais mais justas e intercâmbio cultural respeitoso, a fim de promover avanços mais robustos para as décadas e séculos seguintes.
Por Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional