Donald Trump acusado e a desordem da democracia nos Estados Unidos
Fonte: Xi Pu Published: 2023-05-04 11:06:22

Por Xi Pu

Por suspeita de pagamentos clandestinos e falsificação de registros comerciais, Donald Trump passa a ser o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos criminalmente acusado. O caso pode ser uma reflexão do círculo vicioso de distorção da democracia, incompetência da política e discórdia social nos Estados Unidos.

Desordem: banalização do sistema eleitoral

O dinheiro manipula eleições nos Estados Unidos. O gasto na eleição presidencial em 2020 ultrapassou US$ 14 bilhões, e na eleição de meio de mandato em 2022, mais de US$ 16,7 bilhões. Mais de 90% dos candidatos ao Senado e à Câmara dos Deputados venceram eleições esbanjando dinheiro. Quando o dinheiro e o poder predominam sobre a capacidade e o talento, só vencerão os exibicionistas especializados em demagogia, da qual Trump é o “mestre”. É irônico que Trump ganhe muito mais apoio que seus possíveis adversários do partido, e provavelmente vença nas primárias republicanas e até mesmo volte à Casa Branca no futuro. Nesse sistema, parece que os eleitores podem expressar suas reivindicações com votos, mas de facto, são apenas peças de xadrez no jogo político, com futuro submetido à manipulação dos ricos e poderosos.

Conflito: armamentação do poder do Estado

A Tripartição dos Poderes, concebida para evitar sobreposição de qualquer um, se tornou em uma arma para ataques entre os dois partidos. Por um lado, o conflito entre o Congresso e o governo se intensificou. Há sempre uma oposição mútua entre o governo, do Biden, e a Câmara, que está sob o controle do Partido Republicano. Logo que Trump foi investigado por suspeita de esconder documentos confidenciais, a Câmara atacou Biden pela descoberta de documentos confidenciais na sua residência. Logo que Biden e o Congresso discordaram sobre o aumento do teto da dívida do governo federal, Trump foi processado. Por outro lado, é difícil para o poder judiciário manter independente e imparcial. A Suprema Corte derrubou sucessivamente a decisão “Roe contra Wade” e a lei de Nova York que restringe porte oculto de armas, contrariando de forma flagrante o desenvolvimento social. A “troca de tiros” entre os três poderes, além de ser muito animada, deixam pendentes as questões de governança, como desigualdade de renda, violência com armas, abuso de drogas e descarrilamentos ferroviários.

Divisão: polarização da política partidária

Os dois partidos têm enormes divergências em quase todas as áreas. “Se eu não conseguir o que quero, não te deixo ter o que queres”, esse tipo de divisão é tão severo e prejudica gravemente a eficiência da tomada de decisões e a capacidade de governança. Há uma queda contínua no número das leis que os sucessivos Congressos dos Estados Unidos puderam promulgar -- de 4.247 leis promulgadas do 93º ao 98º Congresso para apenas 2.081 do 111º ao 116º. O número de projetos que podem se tornar em leis, desceu de 6% no 106º Congresso para 1% no 116º. O ciclo vicioso da “política de veto” reflete e exacerba a divisão social dos Estados Unidos. A auto-identidade de "sou estado-unidense" está sendo substituída por antítese de “sou republicano” vs. “sou democrata”. 87% dos democratas acreditam que a investigação contra Trump é justa, enquanto 80% dos republicanos a consideram como uma “perseguição política”. Os Estados Unidos se tornaram, de certa forma, os “Estados Divididos”.

Feiúra: degradação da imagem da democracia

A democracia dos Estados Unidos não conseguiu ganhar mais apoio do povo. O “orgulho” dos americanos com sua democracia diminuiu drasticamente, de 90% em 2002 para 54% em 2022, segundo uma pesquisa conjunta do The Washington Post e da Universidade de Maryland. The Economist criticou os Estados Unidos por se tornar uma “democracia com falhas”. O presidente francês Emmanuel Macron aponta que os Estados Unidos estão enfrentando uma “crise da democracia”. Mas mesmo assim, os Estados Unidos tentam lançar cruzadas contemporâneas contra a China com a narrativa de “democracia vs. autoritarismo”. Isso ocorre não porque a China não é democrática, mas sim porque a China sempre faz o que é certo para o mundo, e na perspectiva dos Estados Unidos, abalou os alicerces da hegemonia deles. Por sua vez, o que os Estados Unidos fazem? Consideram o próprio como “democráticos” e os outros países como “autoritários”, reúnem uma minoria de países ocidentais para intimidar a maioria dos países do mundo, e formam um “grupo de países democráticos” para estabelecer um sistema internacional nada democrático. É falsa democracia e verdadeira hegemonia.

Se alegando “sala padrão”, a democracia dos Estados Unidos é, na verdade, um “edifício podre”. E a acusação de Trump é apenas mais um colapso dele sem surpresa.

 

(O autor é observador de assuntos internacionais com sede em Beijing)

 

 

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