A narrativa de “democracia versus autoritarismo”: as cruzadas contemporâneas lançadas pelos Estados Unidos
Fonte: MFA Published: 2023-02-22 16:23:11

A história sempre se repete de uma forma surpreendente. Há quase mil anos, as Cruzadas, organizadas pela Cúria Romana, duraram por dois séculos e deram o impacto profundo às relações entre o Oriente e o Ocidente. Hoje em dia, os EUA, figurando a “Santa Sé Política” do mundo ocidental, fabricam a narrativa de “democracia versus autoritarismo” para realizar as cruzadas contemporâneas contra o mundo não-ocidental. Venha conhecer as semelhanças das duas cruzadas.

A mesma invenção dos pretextos

Na história, o Papa Urbano II, que tinha perdido a influência, convocou os crentes para reconquistarem a Jerusalém, a cidade santa, na defesa do cristianismo. Na altura, a civilização cristã de Idade Média já tinha sido deixada para atrás pela civilização oriental, e as pessoas da Europa Ocidental tinham cobiçado por muito tempo a riqueza que se encontrava na costa oriental do Mediterrâneo. As Cruzadas não são nada mais do que uma pilhagem da civilização mais avançada sob o pretexto de eliminar os “pagãos”.

Mil anos depois, os EUA são tão experientes em copiar o jeito das Cruzadas. Da América Latina à Ásia, da União Soviética ao Médio Oriente, da “Doutrina Monroe” à “transformação democrática”, da “Primavera de Praga” à “Primavera Árabe”, das “revoluções coloridas” à “democracia versus autoritarismo”, os EUA trazem, sob os pretextos da “democracia”, uma série de calamidades aos outros países. O presidente do Instituto Francês das Relações Internacionais, Pascal Boniface, descreveu de maneira clara as “revoluções democráticas” que os EUA incitam no mundo como as “Cruzadas do Século XXI”.

A mesma transferência da culpa ao exterior

Na história, antes das Cruzadas, a Europa Ocidental tinha sofrido das devastações perante o perigo iminente. O Império Bizantino, da mesma origem que o Império Romano do Ocidente, estava ameaçado pelos turcos seljúcidas. Para transferir as contradições e manter o domínio, a Cúria Romana recorreu à guerra contra o Oriente e deu início às Cruzadas.

Mil anos depois, os EUA “herdaram o legado” de imputar responsabilidades aos outros. Perante a polarização política e a divisão social, os EUA deitaram, na frente do ocidente, lenha para a fogueira na crise da Ucrânia para arrastar a Rússia e amarrar a Europa, e deixaram descer, na frente do oriente, a cortina de ferro da “nova Guerra Fria” com as provocações no estreito de Taiwan, formando o QUAD ou Diálogo de Segurança Quadrilateral, e da “OTAN Ásia-Pacífico”.

A mesma demagogia

Na história, o Papa Urbano II, que entendia muito bem as propagandas, descreveu a Jerusalém como um “paraíso cheio de alegria” para enganar o povo da Europa Ocidental para embarcar, mesmo a custo de todas as propriedades, em expedições ao Oriente, deixando intermináveis conflitos religiosos e civilizacionais para as gerações posteriores.

Mil anos depois, os EUA herdam o bom uso de engano político e armadilha discursiva. Quanto aos problemas sociais no país, optam por ignorar e assustam frequentemente a população com a afirmação de que “a China está nos ultrapassando e todos nós temos de nos unir para a vencer!”

Quanto aos aliados, aplicam a retórica de que “os irmãos podem brigar em casa, mas sempre lutam como um só contra os inimigos exteriores”. Em nome de “defender os valores compartilhados entre os EUA e a Europa”, tiram lucros dos seus aliados europeus através da política de subsídio verde, a Lei de Redução da Inflação e do aumento da taxa de juros do Sistema de Reserva Federal.

Quanto aos outros países, como a China e a Rússia, inventaram a narrativa de “democracia versus autoritarismo”. Isto é, os que não conluiam com os EUA são denunciados como os “pagãos” e daí contidos e oprimidos.

A mesma decadência de moralidade

Na história, as Cruzadas são marcadas pelas inúmeras tragédias causadas aos muçulmanos, aos judeus e aos outros povos. A Quarta Cruzada até resultou no saque de Constantinopla, cidade que deveria ser resgatada.

Mil anos depois, os EUA alimentam o seu próprio complexo militar-industrial a custo da estabilidade e prosperidade dos outros países com as intervenções militares, as sanções econômicas, as infiltrações culturais, as manobras nas eleições e a incitação dos tumultos,e se beneficiam desproporcionalmente com o “privilégio americano do dólar” em todo o mundo, prejudicando as outras economias até os seus próprios aliados.

A mesma derrota fracassada

Na história, as pessoas chegaram a conhecer a essência hipócrita e sangrenta das Cruzadas. A Cúria Romana foi perdendo sua hegemonia e prestígio, e o poder religioso (poder divino) foi finalmente substituído pelo poder real (poder imperial).

Mil anos depois, testemunha-se o declínio da hegemonia norte-americana. Como alertou o historiador Paul Kennedy, nenhum império escapará o destino de queda se ele procura o hegemonismo.

As Cruzadas já são a história, e os EUA de hoje não são mais aquele país que estava no auge da sua força na altura dos desembarques na Normandia e na queda do Muro de Berlim, mas sim o país de fuga em pânico em Cabul. É hora de os EUA abandonarem a sua obsessão pela hegemonia.

Autor: Xi Pu, observador dos assuntos internacionais com sede em Beijing.