Abertura da China à Europa e ao Mundo
Fonte: CRI Published: 2022-11-15 16:44:21

A 17ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo do G20 decorrerá, nos dias 15 e 16 de novembro, na ilha de Bali, sob a presidência da Indonésia. A crise mundial atual, com uma inflação a atingir máximos históricos e o risco de uma recessão económica global, levou à escolha do tema deste ano - “Recuperação conjunta, recuperação forte”. Esta cimeira do G20 é o culminar de um intenso trabalho realizado em reuniões ministeriais e nos Grupos de Trabalho, ao longo do ano de 2022 e teve nas várias fases o empenho da China.

Os membros do G20 são: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, República da Coreia, Rússia, Turquia e União Europeia. A Espanha é convidada, bem como algumas organizações internacionais e regionais. A presidência do G20 roda, anualmente, entre seus membros, com o país que exerce a presidência trabalhando em conjunto com seu antecessor e sucessor, também conhecido como Troika, para garantir a continuidade da agenda. Atualmente Itália, Indonésia e Índia são os países da Troika.

A organização do G20 indicou três questões prioritárias:

Reconhecer a importância da ação coletiva e da colaboração inclusiva, entre os principais países desenvolvidos e economias emergentes em todo o mundo, como objetivo central. Enfrentar a pandemia global que afetou todos os aspetos da sociedade, da saúde, à educação e ao comércio internacional. Apoiar os países em dificuldades, na resolução dos problemas e crises comuns que enfrentam. Neste âmbito, a Indonésia indicou três pilares principais para sua presidência do G20: arquitetura de saúde global, transição de energia sustentável e transformação digital.

A cimeira conta, também, com iniciativas paralelas, com destaque para a Presidência do G20 da Indonésia, em Bali, onde o Ministro das Finanças do país lançou, a 12 de novembro de 2022, a Agenda e o Manual Ambiental, Social e de Governo (Environmental, Social, and Governance - ESG) para apoio governamental e facilidades no financiamento de infraestruturas.

A cooperação da China, nas cimeiras do G20, tem sido um elemento inclusivo, pacificador e estabilizador da política internacional e do desenvolvimento económico global entre as nações emergentes e as desenvolvidas. A atual cimeira conta com a presença do presidente chinês, Xi Jinping. Ele tem agendadas reuniões com vários presidentes, nomeadamente o francês, Emmanuel Macron; o senegalês, Macky Sall; o argentino, Alberto Fernandez, e o americano, Joe Biden.

A China é o maior parceiro comercial da União Europeia, tendo ultrapassado os EUA em 2020. Num mundo globalizado, a pandemia de Covid-19 e a confrontação de blocos geopolíticos, com as sanções unilaterais ao comércio mundial, afetaram gravemente as sociedades e respetivas economias a Ocidente e a Oriente. A recuperação económica chinesa (após Covid-19) tem sido um dos maiores contributos à recuperação da economia mundial e da europeia em particular. A importância das relações económicas com a China e a necessidade de a UE ter uma estratégia autónoma levaram à aprovação com a China, em dezembro de 2020, do Acordo Global para o Investimento (CAI). A submissão dos interesses europeus aos do governo dos EUA levou à suspensão do CAI, em 2021, apesar de a Presidência da União Europeia (4 de janeiro 2021) ter referido a justeza e o benefício mútuo do Acordo Global para o Investimento entre a UE e a China, afirmando que "garante uma segurança recíproca de abertura de mercado" e "relações de investimento que asseguram e respeitam todas as regras de segurança de um lado e de outro".

No contexto do mundo globalizado, interdependente e multipolar, a China aprovou o 14º Plano Quinquenal (2021-2025) para o desenvolvimento económico e social, e os objetivos de longo prazo (até 2035). No que respeita ao Ocidente e à Europa, em particular, o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China veio reafirmar a sua abertura ao exterior e à União Europeia, considerando-a um parceiro estratégico com quem partilha interesses comuns e não um rival sistémico. Para o aprofundamento das relações entre o Ocidente e o Oriente, em especial com a China, parece-nos inevitável e urgente que o Ocidente desenvolva relações menos ideológicas, mais pragmáticas e inclusivas (enquadradas pelo G20 e pela OMC), de forma a criar um ambiente propício à paz e aos desenvolvimentos económico e sustentável globais.

A visita oficial à China, no início de novembro de 2022, do chanceler alemão, Olaf Scholz, é demonstrativa da necessidade de aprofundamento das relações da Europa com a China. Nesta sequência, destacamos as declarações do ex-ministro da Defesa e ex-presidente do Partido Social Democrata, Rudolf Scharping, o qual referiu que o encontro entre a Alemanha e a China, em Beijing, foi importante para os interesses tanto da Alemanha como da Europa. Afirmou ainda que as relações da China com a Europa não podem ser prejudicadas e que somente através do fortalecimento dos laços com a China, a Europa pode sobreviver à crise económica e energética e retornar ao caminho do desenvolvimento sustentável.

O único país de língua portuguesa membro do G20 é o Brasil. O novo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, já declarou o interesse em reforçar a parceria estratégica com a China e os Brics. Desta forma, assistiremos ao reforço do papel do Brasil no Mundo e no seio do G20.

É nossa expectativa que os líderes dos diferentes países, na cimeira do G20, possam, de forma responsável, encontrar consensos, persistindo na direção da globalização económica e na melhoria da governança global, com o objetivo de restabelecer as cadeias de distribuição mundial. Reconheçam o mundo multipolar (recusando a política de acirrar o confronto entre blocos geopolíticos e as sanções unilaterais não decididas pela ONU), rumo à implementação da paz e de um futuro compartilhado da humanidade!

Por Rui Lourido, historiador, presidente do Observatório da China, presidente da União de associações de Cooperação e Amizade Portugal-China