Mostrei o meu tíquete ao motorista e subi no ônibus. Sentei no último banco do lado esquerdo, na janela. Deitei o encosto, coloquei os fones de ouvido e cochilei. Em pouco mais de uma hora chegaríamos a Zhouzhuang, uma pequena cidade à oeste de Shanghai, 30 km a sudeste de Suzhou. Às duas horas da tarde, em ponto, o motorista arrancou e o Estádio de Shanghai ficou para trás. "Deixa a vida me levar", do Zeca Pagodinho, tocava no iPod.
Era meu último dia livre em Shanghai, poderia visitar mais alguns pontos turísticos. Mas eu já conhecia a cidade, tinha ido lá duas vezes. Resolvi visitar uma das antigas cidades aquáticas que existem perto de Shanghai. Já passava das 10 horas da manhã e, na portaria do hotel, descobri que existia uma "central de turismo" ali perto, no estádio de futebol da cidade.
Há um ditado popular aqui na China que diz "上有天堂,下有苏杭 / Shang you tiantang, xia you suhang". A tradução é algo como "Acima há o céu (paraíso), abaixo há Suzhou e Hangzhou". Alguns dizem que essas duas cidades são a representação do paraíso na Terra. Também dizem que em Suzhou estão as mulheres mais bonitas da China.
Já que eu tinha tempo, queria ir até lá para conferir de perto os motivos para tanta adoração. Mas, para minha tristeza, o único passeio que consegui foi para Zhouzhuang, uma cidade que eu nunca tinha ouvido falar. "Você vai gostar", disse a mulher que me atendeu, "É a cidade aquática mais antiga da China. E a mais perto daqui".
Paguei 150 yuans pelo pacote, que incluía passagem, entrada na cidade e ingresso para um show. "Paciência. Suzhou fica para a próxima", pensei.
Por volta da 3h30 da tarde, chegamos à entrada da cidade. A guia, que só falava em chinês, distribuiu os mapas e os ingressos para o show "Todas as estações de Zhouzhuang".
-O show é às 7h e o ônibus sai desse mesmo lugar às 9h. Não se atrasem.
Como qualquer cidade antiga da China, Zhouzhuang é rodeada por uma cidade bem mais nova, moderna, que vive de outras atividades além do turismo. A cidade antiga, que tem cerca de 900 anos, é cercada, protegida, e é preciso pagar entrada. Logo que entrei, ao subir na primeira ponte, me encantei com o lugar.
Me imaginei dentro de um filme antigo, daqueles que passam a toda hora na TV da China, e mostram como era vida nessa região há centenas de anos. Até o ar parecia mais leve que o ar de Shanghai ou Beijing. Só não fiquei mais contente porque as ruas e vielas estavam tomadas por centenas de turistas chineses e meia dúzia de estrangeiros.
Por sua localização privilegiada, Zhouzhuang foi, nos tempos áureos, um dos principais centros de distribuição de comodities da china, como seda, porcelana, artesanatos e grãos. Ocupa uma área de meio quilômetro quadrado e conta atualmente com uma população de 20 mil pessoas. Os moradores, em sua grande maioria, vivem do turismo, vendendo artesanato, pilotando barcos de passeio, servindo refeições ou hospedando visitantes.