Visão-Afeganistão: É impossível trazer a democracia pela guerra
No entanto, o Afeganistão possui uma imensa riqueza de recursos naturais inexplorados, e muitos elementos de “terras raras”. Um memorando do Pentágono afirmava que o Afeganistão poderia tornar-se a “Arábia Saudita do lítio”.
Os soldados americanos e dos 32 países da OTAN destacados no Afeganistão, nada sabiam da história e da cultura dos povos que constituíram a nação afegã, e da natureza política desta guerra, comportando-se como uma força opressora, que não conseguia distinguir os combatentes dos civis e diabolizava o inimigo.
No topo da responsabilidade por esta conduta e acima dos chefes militares, está a política seguida pela presidência e o governo dos seus país de origem. Uma política de ocupação violenta e não de implantação da democracia liberal, que a prática sistemática do blooding pelas tropas da OTAN representou: Em julho de 2010, o site WikiLeaks divulgou 92 mil documentos secretos do exército dos Estados Unidos, reportando a morte de milhares de civis no Afeganistão, por militares norte-americanos. Desde o massacre de Dasht-i-Leil de prisioneiros talibãs e da Al-Qaeda, da responsabilidade da Aliança do Norte (sofisma que esconde a realidade dos “senhores da guerra” locais), em dezembro de 2001, passando pelas execuções de civis e prisioneiros reconhecidas pelo alto responsável militar australiano, o general Angus Campbell, a lista dos bombardeamentos de civis, prisões e execuções sumárias não tem fim.
A decisão de não combater das forças armadas e de segurança do Afeganistão, que sofreram mais de 65 mil mortos, 20 vezes mais que os EUA e a OTAN, soldados e oficiais recrutados entre os mais de 50% afegãos vivendo abaixo da pobreza extrema e outros tantos desempregados, não foi entendida pelo governo americano: residiu na tomada de consciência de que o governo representava as forças da OTAN e estas eram forças de ocupação.
Nos países da OTAN, tem predominado a propaganda negativa sobre o novo regime e a defesa da mesma estratégia que os EUA adotaram perante o Irão e que assenta no boicote económico, impiedosamente mantido mesmo durante a pandemia e atos repetidos de terrorismo de estado, assumidos pelo governo americano e os seus aliados. É um caminho de continuação da guerra, por outros meios, que não conduz a nenhuma solução política.
A China, neste momento crucial de mudança de regime, emerge, em conjunto com as Nações Unidas, como o interlocutor internacional com mais autoridade política e moral para contribuir para a pacificação e o desenvolvimento independente do Afeganistão.
A China, apesar do estado de guerra, incluiu o Afeganistão no seu projeto da Rota da Seda, tornando-se o terceiro mercado das exportações afegãs e nunca deixou de apoiar os seus projetos de desenvolvimento. A sua política, baseada na aplicação dos cinco princípios da coexistência pacífica, parece ser neste caso a melhor estratégia para um Afeganistão integrado na comunidade internacional, comprometido com a paz e o progresso comum da humanidade.