Visão-Afeganistão: É impossível trazer a democracia pela guerra
A evolução política do movimento Talibã
Os Talibãs são afegãos. Não são guerreiros do Islão, aventureiros e mercenários como os militantes da Al-Qaeda ou do ISIS. Esta é a sua pátria e a sua terra. O seu mundo não é o do ocidente, nasceram num país semifeudal e, em guerra civil; onde, para a maioria, a única escola aberta era a Madrassa corânica…
A invasão do Afeganistão pelos EUA e a OTAN permitiu-lhes arvorar a bandeira de movimento de libertação nacional. A abertura em 2013 de uma representação política dos Talibã, em Doha, capital do Qatar e país neutro, assinala a fase final da transformação do grupo guerrilheiro num movimento político-militar.
Devido à incapacidade de obter uma vitória na guerra e aos seus elevados custos financeiros e humanos, mais de 2.300 militares americanos mortos, centenas de soldados de 32 outras nacionalidades, num total superior a 3.500 mortos e mais de 22 mil feridos. Em 2011 os EUA e a OTAN anunciaram a sua retirada, mas deixando para trás um exército profissional, e um governo pró-americano, guardião dos seus interesses. Os representantes políticos dos Talibãs, colocaram na mesa de negociações e perante a comunidade internacional como condição fundamental para o fim das hostilidades e a negociação da paz com o governo, a retirada efetiva e programada de todas as tropas estrangeiras. E o projeto de um Emirado Islâmico como a chave da paz duradora, assente na abertura económica e social e no desenvolvimento de relações amistosas com todos os vizinhos e a comunidade internacional.
Com base neste programa político e no domínio da estratégia e da tática da guerra popular conquistaram a hegemonia entre as forças de resistência à ocupação estrangeira. A sua interpretação das leis islâmicas afirma agora o reconhecimento dos direitos das mulheres à educação e ao emprego e uma vontade de paz e desenvolvimento independente. Anunciam uma vasta amnistia.
A queda do governo pró EUA: A falácia da democratização e a falência do modelo económico liberal, impostos pelos EUA e a OTAN
Até 2021, um estudo feito pela Universidade Brown calculou o custo total da guerra em US$ 2,261 triliões de dólares: um soldado dos Estados Unidos no Afeganistão custava 1 milhão de dólares por ano! O complexo militar-industrial que controla o Departamento de Defesa, tinha ido longe demais. Os seus lucros com a guerra, que se mantêm em segredo, abalavam o orçamento do próprio estado americano!
Os resultados da “economia de mercado livre”, proclamada após o derrube do governo Talibã, caraterizava-se vinte anos depois, segundo a última análise do Banco Mundial, por um quadro geral de fracasso:
A economia do Afeganistão é moldada pela fragilidade e dependência da ajuda. O setor privado é extremamente restrito, com empregos concentrados na agricultura de baixa produtividade…Os gastos com segurança (segurança nacional e polícia) são altos, cerca de 28% do PIB em 2019, em comparação com a média de países de baixos rendimentos de cerca de 3% do PIB, representando a despesa pública um total de cerca de 57% do PIB. A economia ilícita é responsável por uma parcela significativa da produção, das exportações e do emprego, e inclui a produção de ópio, contrabando e mineração ilegal.…desacelerou o progresso econômico e social.
O abastecimento de água e saneamento, não chegaram à maioria da população. Mas talvez o seu pior indicador seja a segunda maior taxa de mortalidade infantil do mundo! O setor de serviços crescera efemeramente e tombara com o abandono progressivo do contingente da OTAN. A economia afegã continuou a assentar nas monoculturas e criação de rebanhos.