A alimentação foi sempre uma das grandes questões na China. Long Yongtu, atual secretário-geral do Fórum da Ásia de Bo´ao, nasceu em 1943 em Changsha, cidade situada no centro da China, e relembrando o passado, revelou que a grande maioria dos chineses passava fome.
"Além de muitas outras necessidades, muitos de minha geração passaram fome. Não havia comida suficiente e costumávamos matar a fome com abóbora cozida, e é por isso que até hoje sinto repúdio ao cheiro de abóbora."
Na China, país de tradição agrícola, a esmagadora maioria de sua população se dedica à lavoura. Nos anos 1940, época em que nasceu Long Yongtu, com os meios de produção agrícola atrasados e de baixa produtividade, somados às influências da guerra civil prolongada e de calamidades naturais por anos consecutivos, como estiagem e inundações, o país enfrentava uma carência significativa de produtos agrícolas. Naquela época, muitas pessoas não tinham alimento ou sequer moradia. Em 1949, o consumo de cereais per capita foi de apenas 180 quilos.
Em outubro de 1949, proclamou-se a República Popular da China. Em três anos uma reforma agrária distribuiu terras, ferramentas e gado, antes concentrados nas mãos de latifundiários, entre os agricultores. Graças às políticas de estímulo, a produção agrícola foi recuperada e alcançou rápido desenvolvimento em pouco tempo. A partir de 1952, a China promoveu grandes campanhas de construção de infra-estruturas hidráulicas e divulgou novas técnicas em escala nacional, o que contribuiu para o melhoramento das condições de produção e dos produtos agrícolas. Até o final dos anos 70 as produções de grãos e de algodão duplicaram em relação às de 1952.
Apesar do crescimento da produção cerealífera, a China continuava pressionada pelo próprio engrandecimento de sua densidade demográfica. Yang Jiliang, camponês da aldeia de Bisheng, nos subúrbios da cidade de Chizhou, província de Anhui, revelou que a alimentação tinha prioridade na vida de sua aldeia.
"Nos anos 60 e 70, não tínhamos cereais suficientes e até recolhíamos ervas silvestres comestíveis para matar a fome."
Naquele tempo, as terras cultivadas se encontravam sob administração unificada, os aldeãos participavam das atividades produtivas e todos os produtos eram distribuídos igualmente aos membros da aldeia. Nos finais de 1978, habitantes de Xiaogang, província de Anhui, tomaram a iniciativa de distribuir as terras que pertenciam à propriedade coletiva para os agricultores individuais, e no mesmo ano, a produção cerealífera da aldeia foi quatro vezes maior que a produção média nos dez anos anteriores.
Em 1980, o governo chinês decidiu estabelecer por todo país esse modelo de aldeia, que passou a ser chamado de sistema de responsabilidade familiar pela produção.
Segundo Yang Jiliang, sua aldeia também adotou esse modelo.
"Com a aplicação do sistema de responsabilidade pela produção, passamos a ter autonomia e nos tornamos ativos, de maneira que o problema da alimentação e da falta de abrigo foram basicamente resolvidos."
Segundo estatísticas, entre 1978 e 1984 a produção agrícola da China manteve o crescimento anual de 8%, e desde aquele período, a produção de grãos aumentou estavelmente até o ano 2008, quando chegou a 500 milhões de toneladas.
Liu Dongzhu, funcionária da Administração Estatal de Alimentação da China, informou que os chineses, através de seus próprios esforços, resolveram o problema da alimentação. Em 7% das terras cultivadas do mundo, a China sustenta 22% da população mundial, o que é realmente um milagre.
"Em relação ao problema da alimentação, o governo defende seu princípio de apoiar-se na própria força para garantir a oferta. Nos últimos anos, o volume total de consumo e de produção se mantiveram equilibrados, e o índice de auto-suficiência cerealífera ultrapassou 95%."