A CRIPOR e Eu – Uma vida juntos
CRIPOR 50 anos! A minha vida com a Radio Internacional da China começa em 1975. Era apenas um menino e um rádio antigo de meu pai, um velho Oceania de 10 faixas, parte da decoração da sala de então. Ali, após as 19 horas, para fugir da Voz do Brasil e do Projeto Minerva, que ocupava toda a rede até as 20:30 hs, sentava em frente ao monitor e, bem baixinho para não incomodar a família, tentava captar ondas que vinham de longe. Doces tempos aqueles.
Aquela época, interessava-me por tudo. Entre uma captura e outra comemorava e procurava viajar nas ondas de cada pais, a tentar imaginar como viviam seus povos. Então, não tinha eu ainda a noção de que viviamos em pleno regime militar, ditadura que ainda perduraria por mais 10 anos. De fato, até gostava dos desfiles na escola, a marchar e cantar os hinos, quase como um soldadinho.
Mas, aos olhos e ouvidos do menino, a cultura e a vida de vários povos, quase como um filme imaginário, desenrolavam na minha mente. Ali, a censura não existia. E quando na escola escrevia a pedido dos professores, mostrava uma visão que não entendia porque lhes fascinava tanto e por outro lado também causava um certo espanto. De onde esse menino tira tanta informação? "China? Aquele povo que come criancinhas?", bem, nunca me disseram isto, claro, mas devem ter pensado alguns mestres mais conservadores. De fato, lia muito sobre as revoluções do séculos 19 e vinte e em especial a Revolução Chinesa .
A CRI na época era a Rádio Pequim. E entre uma emissão captada e outra, sem saber vencia a censura e acumulava uma bagagem que poucos adolescentes tinham. Conheci muito da China e do mundo e fui vivendo bem mais feliz, quase como um desbravador de mundos desconhecidos e fascinantes.
Então, o mundo foi girando quase como o botão do meu velho rádio. O tempo passou e lá longe ficou aquele menino. Ali, quando os meninos se transformam em homens, naquele fio tênue que só quem vive sabe a hora e o momento. Mudou o Brasil, mudou a China...mas o conhecimento ficou. Nada teria sentido se não tivesse me mudado por dentro. È essa mudança que me transformou num ser humano melhor e me fez mudar o mundo que me cercava.
Agora, aos 50 anos de vida da seção de língua portuesa da Rádio Internacional da China, apenas quatro anos mais que eu, posso dizer que temos uma vida juntos. Vida que segue. Hoje já não tenho o velho rádio de cabeceira do meu pai...tenho um bem mais moderno, tenho a internet...tudo. Mas se pudesse voltar no tempo, recomeçaria tudo de novo.
Longa vida à Rádio Internacional da China. Longa vida à CRIPOR. Estamos fazendo história e apenas no começo da caminhada, afinal, tudo na China é milenar.
Antonio Pereira dos Santos