Seguindo o seu hábito de chamar o dia e de afugentar as noites, os Galos são os grandes críticos do Zodiáco Chinês. Com meticuloso realismo, eles não temem ver nem mostrar o que existe por trás das lânguidas formas noturnas. Francos e diretos, não gostam de adoçar a realidade com sonhos e fantasias.
Há um conto antigo sobre o galo. Nos fins da dinastia Jin do Oeste (265-316), devido às ininterruptas guerras civis, a sociedade encontrava-se em grande agitação e as minorias nacionais do Norte emigraram em massa para o Sul, provocando conflitos com os Han no interior do país. Na altura, uma oitava parte da população que vivia ao longo do rio Huanghe (Amarelo) viu-se obrigada a fugir para o sul, para o vale do rio Changjiang.(Yangtsé).
Zu Ti (266-321) nasceu precisamente nesse período caótico. Alimentou desde jovem a idéia de implantar a ordem e estabilidade em todo o país. Gostava de fazer amigos e especialmente mantinha uma estreita amizade com um jovem chamado Liu Yueshi. Os dois jovens criam ser indispensável dominar as artes marciais para salvar a Pátria e decidiram praticá-las. Dormiam no mesmo quarto e levantavam-se de madrugada todos os dias ao primeiro cantar do galo. Zu Ti disse ao seu companheiro que o canto do galo não era desagradável, pois os despertava a tempo. Desde então, manhãs cedo, praticavam com a espada.
Daí a origem da lenda conhecida como "Exercício de artes marciais ao primeiro cantar do galo". Quando Zu Ti chegou à idade madura, o país vivia uma desordem ainda maior: os xiongnu do Norte do País tomaram Luoyang (hoje na província do Henan), capital da dinastia e Sima Rui(276-322), descendente do imperador da mesma dinastia, recuperou o poder e estabeleceu a dinastia Jin do Leste, ao sul do rio Changjiang. Tomado o Norte, os nobres xiongnu e de outras minorias nacionais aplicaram uma política de opressão nacional, constrangendo os habitantes do Norte para o abismo de sofrimento. Na altura, Zu Ti já se transladara com a sua família para o sul do Changjiang. Zu Ti tomou a iniciativa de visitar o imperador Sima Rui para lhe pedir a autorização de realizar uma expedição ao Norte, dizendo: "Os habitantes do Norte já não podem agüentar mais a opressão da nobreza dos xiongnu e jie, e todos querem rebelar-se. Se Vossa Majestade me der um exército suficientemente armado, posso dirigi-lo, passar o Changjiang, e, os locais colaborarão com certeza conosco, de modo que poderemos recuperar rapidamente os territórios perdidos e regressar triunfante." No entanto, Sima Rui prestava atenção apenas à consolidação e expansão do seu poder no Sul e não tinha o menor interesse em enviar expedições ao Norte, tendo-lhe assim concedido apenas uma magistratura a nível provincial sem lhe entregar um único soldado. Zu Ti não tinha outro remédio senão ir assumir o cargo no Norte, onde recrutou dois mil soldados organizando uma tropa bem disciplinada. Com o apoio dos locais, Zu Ti conseguiu recuperar uma vasta zona situada ao sul e norte do Rio Huanghe. No Norte, Zu Ti envidou grandes esforços para reativar a produção. Mesmo os seus familiares dedicaram-se a cultivar terras e cortar lenha. A economia recuperou rapidamente e os camponeses celebram para ele um grande banquete, em que o elogiaram cantando:"Que boa sorte temos, nós camponeses, livres de sofrimento. Zu Ti, és como nosso pai, estrela refulgente. Levantemos o nosso copo de vinho ao teu mérito. Como te expressaremos devidamente os nossos agradecimentos? Cantemos e dancemos." Não obstante, temendo que a influência de Zu Ti se lhe tornasse desfavorável, o imperador Sima Rui nomeou um confidente seu superior de Zu Ti, a fim de o pôr sob vigilância. Isto indignou tanto Zu Ti que o desgosto o conduziu a uma morte prematura, mal cumpridos os 55 anos de idade.
O nativo de Galo é essencialmente um insatisfeito consigo mesmo. Perfeccionista ao extremo, decepciona-se com suas fraquezas de revolta-se contra seus próprios erros. Acredita sempre que poderia ser melhor, mais cauteloso, mais diplomático e mais inteligente. Daí, talvez as repetidas clarinadas de seu correspondente na escala zoológica pudessem ser interpretadas como tantativas de um virtuose em busca do canto ideal.
Os Galos possuem uma irresistível atração pela novidade, pelo que é diferente. Vivem a vida com um entusiasmo contagiante, fazendo de cada dia algo único e inesquecível. Uma de suas características mais marcantes é a sua maneira meio infantil, meio admirada, de interpretar os pequenos fatos da vida. Loquazes, falam sem parar de suas mais recentes experiências e mudam de assunto com uma facilidade estonteante, como se as palavras não pudessem acompanhar a velocidade de seus pensamentos. Entusiasmam-se com suas próprias palavras e adoram fazer discursos intermináveis e ricos em minúcias. Muitas vezes são incrivelmente mordazes em suas críticas e observações e, quando magoados, expressam-se da forma mais fria e cruel possível. Assim mesmo, uma vez esclarecidos os mal-entendidos, esquecem seus rancores rapidamente. De qualquer modo, mesmo o mais calado dos Galos dirá sempre exatamente o que pensa.
Como eles se interessam por tudo o que esteja ao seu alcance, os nativos desse signo são extremamente agitados. Este nervosismo impede que se aprofundem nos assuntos de forma consistente. No entanto, apesar de nem todos os Galos serem introvertidos, sua natureza é reflexiva e seus pensamentos são mais voltados à análise das situações e de si mesmos. Infelizmente, muitos Galos sentem dificuldade em chegar a conclusões convincentes ou satisfatórias, resultando em nervosismo e impiedosa autocrítica.
Os Galos têm um talento todo especial para o ensino, pois adoram dar explicações sobre tudo o que sabem. Sendo suas vidas uma interminável aventura, transmitem suas experiências com indisfaçável orgulho e didatismo. Mas não deixam de ser um tanto petulante, apregoando seus métodos de vida como os mais eficazes. Por isso, quando ameaçados pelas críticas alheias ou por suas próprias, os Galos mostram as esporas de um modo pouco diplomático e muito constrangedor.
Os Galos possuem uma natureza muito independente. Preferem resolver seus problemas sozinhos e raramente podem ajuda nos momentos difíceis.