Em 1956, o xadrez chinês foi incluído nas modalidades dos esportes nacionais, o que promoveu de forma inédita a sua divulgação. Como passatempo, educação psicológica e treinamento de raciocínio, tornou-se uma importante forma de recreio cultural.
Na história, o xadrez chinês foi divulgado no Japão, Coreia, Filipinas, Vietnã e outros países asiáticos. Nas últimas décadas, entrou em certos países das Américas e da Europa.
Mas, continua sendo jogado principalmente pelos chineses.
Quando passeamos por Beijing durante o sufocante verão, podemos encontrar dois jogadores, sentados sob a sombra de uma árvore, cada um a um lado do tabuleiro feito de papelão, pano, chapa de madeira, ou simplesmente num papel ou jornal velho, inteiramente concentrados no jogo, e rodeados, às vezes, por vários até dezenas de contempladores. A atmosfera é geralmente silenciosa, pois observam a regra: verdadeiro cavalheiro não fala enquanto contempla jogo de xadrez. Mas, nem todos são cavalheiros, há os chatos que não se contêm e pretendem orientar um ou outro jogador, sugerindo-lhe uma táctica. Esse tipo de gente é censurada geralmente com um simples olhar de desdém, um protesto silencioso, pois os verdadeiros cavalheiros não falam…
Segundo uma lenda, um jovem camponês foi tirar lenha na montanha e encontrou dois velhos jogando num atalho. E o lenhador, também muito fã desse tipo de recreio, meteu uma ponta de seu machado no chão e passou a contemplar o jogo. O tempo passou. Quando os dois velhos terminaram o jogo no empate, o jovem lenhador foi retirar o seu machado e percebeu que a parte enterrada na terra já havia sido apodrecida, e ele próprio, já com barbas brancas crescidas. Foi um verdadeiro grande cavalheiro, pois contemplou um só jogo durante dezenas de anos sem dizer uma só palavra.
Claro, os jogadores da rua usam geralmente peças rústicas feitas de madeira, enquanto na antiguidade os fidalgos usavam peças de marfim, eis porque em chinês o xadrez é "Xiang Qi", isto é, xadrez de elefante. E hoje, além de madeira, as peças são feitas de ossos de animais, de pedra, de plástico. Mas as peças feitas de madeira continuam sendo as mais usadas, sobretudo entre os velhos.
Aqui lembro-me de uma poesia muito bela de Du Fu, um dos grandes poetas na história chinesa, que descreve a fineza do gosto de um intelectual da antiguidade. Eis a tradução do verso:
Na Primavera, cai chuva em todas as casas,
Cantam rãs entre as ervas e nas lagoas.
Passada a meia noite, à espera da visita
Sem nada a fazer, venho batendo com uma peça de xadrez na mesa.