Gigantesca obra de defesa
A Grande Muralha era um complexo sistema de defesa militar que integrava passos, torres de vigia, fortalezas e almenaras e absorvia grandes investimentos financeiros, humanos e materiais. Muito embora haja uma gama de diferentes argumentos que justifiquem os investimentos em diferentes períodos, um deles foi constantemente utilizado. Ao se abrir o mapa da China, nota-se que sua extensão coincide com a linha que demarcava naturalmente as diferentes regiões agrícolas e pastoris durante a antigüidade. Alguns pesquisadores contemporâneos consideram que os ataques dos nômades ao Sul em grande envergadura tinham a ver com as mudanças climáticas em quatro períodos frios na história.
Durante os ataques irregulares, os nômades, hábeis cavaleiros e atiradores de flechas, fugiam quando perseguidos ou atacados. Quando cessava o perigo, retornavam. As tropas das guarnições militares, em número reduzido, não podiam enfrentar os frequentes assaltos. No entanto, os custos de manutenção para concentração de maiores e mais poderosos efetivos militares ao longo da fronteira eram altos. Isto impunha, de fato, uma série de limites à mobilização e ao apoio logístico às tropas. Para os seus adeptos, a Grande Muralha impunha um alto preço aos inimigos ao exigir um tempo relativamente longo para que rompessem sua defesa. Isto daria o tempo necessário à corte para mobilizar e concentrar suas tropas.
Durante as dinastias Tang (618 -907), Yuan (1279 - 1368) e Qing (1644 - 1911), a Grande Muralha foi quase relegada à tranqüilidade. Em 628, o imperador Taizong da dinastia Tang, afirmou: "Acabo de terminar as operações militares no deserto, não irei sacrificar a população", quando alguns ministros sugeriram a construção da Grande Muralha. Nas dinastias Yuan e Qing, os nômades detinham o poder no país e controlavam eficazmente as vastas pradarias e desertos no norte, deixando de lado a construção da Grande Muralha.
Estrutura
A edificação da Grande Muralha utilizava as vantagens oferecidas pelos acidentes naturais. Fortalezas foram erguidas em pontos estratégicos e de difícil acesso desconsiderando as árduas e adversas condições de trabalho. O trecho construído durante a dinastia Ming é o maior exemplo disto. Os segmentos de Beijing e suas áreas adjacentes foram priorizados por constituírem a defesa da Capital. Séculos depois, tornaram-se grandes pólos de atracão turísticos, especialmente os Badaling, Mutianyu e Simatai em Beijing, o Passo Shanhai e Jinshanling em Hebei, bem como o Passo Huangya em Tianjin.
A dinastia Ming empregou tijolos, blocos de pedras ou taipa de pilão em sua construção. Nos segmentos de Beijing, Hebei, Shanxi e Gansu, ela mede 8 metros por 4 metros de largura, em média. O muro exterior, com cerca de 2 metros de altura, está ponteado de janelas de vigia e troneiras. Havia ainda as almenaras de dois andares. No geral, o andar superior se destinava à torre de vigia e o inferior servia de depósito de munições, alimentos ou alojamentos aos militares.
As torres de almenara foram construídas em toda sua extensão. Edificadas em determinadas distâncias, destinavam-se a transmitir informações militares através de sinais de fumaça durante o dia e com fogueiras à noite.
Considerando a questão do apoio logístico, as tropas empregadas em sua defesa dedicavam-se à produção agrícola. Desta forma, surgiram cidades e vilas nas antigas regiões desertas. Em tempos de paz, os portões dos Passos costumavam ficar abertos e os campos de batalha se transformavam em feiras populares. Os comerciantes estrangeiros entravam com seus cavalos e rebanhos de ovelhas, trazendo couro. Quando saíam, levavam suprimentos, chá e tecidos.
Durante mais de dois milênios, a Grande Muralha atendeu à mesma necessidade estratégica: sem guerra no país. Não se sabe com exatidão quantos homens participaram da sua construção. Entretanto, das pedras e tijolos desta gigantesca obra, se transmitia o mesmo clamor de gerações em gerações: a Paz.
Em 1987, a Grande Muralha foi tombada como patrimônio cultural mundial.