Especialista brasileiro: China não tem pretensão de assumir lugar igual dos EUA dentro do sistema mundial
Fonte: Viomundo Published: 2024-06-21 09:54:33

Recentemente, o professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro do Brasil, José Luís Fiori, publicou no site Viomundo o artigo A ”multipolaridade” e o Declínio Crônico do Ocidente, no qual criticou os Estados Unidos por minar a ordem interancional em busca de seus próprios interesses. Também comentou que a China não tem pretensão de assumir lugar igual dos EUA dentro do sistema mundial.

Segundo o artigo, na década seguinte, os EUA se aproveitaram de sua nova posição de poder e assestaram um último e definitivo golpe na “ordem multilateral” que eles haviam criado, no momento em que atacaram a Iugoslávia, em 1999, sem autorização prévia do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A mesma coisa que voltariam a fazer em 2003, quando invadiram o Iraque sem contar com o aval do Conselho de Segurança e, desta vez, com a oposição da maioria absoluta da Assembleia Geral da ONU. 

Na nova ordem unipolar, os EUA se reservaram desde o início o direito unilateral de fazer “guerras humanitárias”, e de declarar e atacar o “terrorismo” em qualquer lugar do mundo, segundo seu exclusivo arbítrio, e já sem nenhuma preocupação com as Nações Unidas e seu Conselho de Segurança, que foram sucateados literalmente em 1999. 

Muito antes de tudo isto, entretanto, as “guerras sem fim” dos EUA, que começaram no final do século XX, desvelaram aos poucos uma “dimensão oculta” dessa nova ordem mundial, escondida por trás da retórica da globalização: a construção de uma infraestrutura militar global, com mais de 700 bases militares distribuídas ao redor de todo o mundo, e controlada diretamente pelos EUA, mesmo no caso de organizações regionais como a OTAN. E é essa ordem mundial “imperial cosmopolita” que está “perdendo fôlego” e já entrou em acelerado processo de desintegração. 

No artigo, José Luís Fiori comentou que a China não tem pretensão nem deve assumir um lugar igual ao que é ocupado hoje pelos Estados Unidos dentro do sistema mundial. A Rússia e a Índia não têm esta pretensão, nem dispõem dos recursos para exercer a função de “polícia militar” do mundo. 

Nesta hora, olhando para o futuro, o que se consegue ver, para além dos conflitos imediatos, é um mundo atravessando um período muito longo de turbulência, instabilidade e imprevisibilidade, com uma sucessão de conflitos e guerras locais. E se for isto que se está chamando de “transição para a multipolaridade”, então é melhor “apertar os cintos”, porque a trepidação vai ser intensa, e deve se prolongar por muitos anos ou décadas. 

“O que existe de fato é guerra, militarização, decomposição econômica e crise social, e uma perda generalizada das referências éticas construídas pelo Ocidente nos últimos séculos”, disse o professor brasileiro no artigo.   

De acordo com o artigo, sobretudo depois que os Estados Unidos e seus aliados europeus caíram prisioneiros da armadilha que eles mesmos montaram na Palestina, sendo obrigados a armar e sustentar o Estado de Israel, mesmo sabendo do genocídio que está sendo praticado contra o povo palestino na Faixa de Gaza. Uma armadilha que vem corroendo a ideia da “excepcionalidade moral” do Ocidente, e erodindo os fundamentos éticos de sua hegemonia cultural dentro do sistema internacional.

https://www.viomundo.com.br/politica/jose-luis-fiori-a-multipolaridade-e-o-declinio-cronico-do-ocidente.html?s=09