Entrevista exclusiva com o ex-primeiro-ministro francês Jean-Pierre Raffarin
Fonte: CMG Published: 2024-05-18 19:54:08

Por ocasião do 60º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a França, o Grupo de Mídia da China (CMG, na sigla em inglês) teve acessso a uma entrevista exclusiva com o ex-primeiro-ministro francês, Jean-Pierre Raffarin. 

Jornalista: Este ano marca o 60º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a França, e é também o Ano da Cultura e do Turismo China-França. Sendo testemunha e promotor das relações sino-francesas, como que o senhor vê o desenvolvimento futuro das relações sino-francesas?                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

Raffarin: Em primeiro lugar, penso que o 60º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a França é uma grande vitória para os líderes que conceberam esta relação há 60 anos. O general Charles de Gaulle e o presidente Mao Zedong avaliaram a situação e sabiam que a China e a França desempenhavam um papel indispensável na manutenção do equilíbrio mundial. Eles viram o desenvolvimento da China e perceberam a importância da Europa e a necessidade de desenvolver relações pacíficas entre a China e a França, a China e a Europa. Portanto, temos grande respeito pela visão destes dois grandes homens. No que diz respeito às perspectivas das relações China-França, penso que a principal preocupação é a paz mundial. Se existe um país no mundo que realmente se preocupa com a paz, esse país deve ser a China. A China nunca iniciou uma guerra com outros países e só reagiu quando foi invadida. A China e o povo chinês demonstraram o seu amor pela paz. A França, que conseguiu a reconciliação com a Alemanha, também ama a paz. Portanto, o desenvolvimento futuro das relações China-França deve centrar-se na manutenção da paz e do equilíbrio mundiais. 

Jornalista: Sabemos que você leu o livro Xi Jinping: a governança da China, fez longas anotações e as publicou em seu blog. Deve ter sido em 2015 que conheceu o presidente Xi Jinping no Fórum Boao para a Ásia e até lhe pediu um autógrafo. O que acha do valor do livro? 

Raffarin: Acho que é muito importante que os líderes escrevam claramente a sua visão para o país. O presidente Xi Jinping declarou claramente a sua filosofia política no seu livro, o que permite ao mundo exterior compreender as suas expectativas para o futuro do país e a direção que pretende levar o país. A China desempenha um papel chave no mundo de hoje. Naturalmente, temos muitas expectativas em relação à China. Primeiro, esperamos pela paz, e a paz é essencial. A China desempenha um papel importante no Conselho de Segurança das Nações Unidas e até no mundo. A China pode promover a paz mundial e o povo chinês nunca lançou uma guerra contra países estrangeiros. Portanto, a primeira expectativa é que a China possa fortalecer a sua proposta de paz. A segunda expectativa é relacionada com o desenvolvimento econômico. A China é um dos motores do crescimento econômico mundial.  Prestamos muita atenção ao desenvolvimento econômico da China, especialmente à sua reforma e abertura. Também temos grandes expectativas em relação à capacidade e sabedoria do povo chinês na área de inovação. A geração jovem da China é inteligente, trabalhadora e inova constantemente. O mundo precisa de inovação e a China é um país muito inovador. Quando li no livro que a inovação é a principal prioridade na China, fiquei profundamente surpreso. 

Jornalista: A China tem contribuído com a sabedoria chinesa e apresentado as soluções chinesas para a governança global. O presidente Xi Jinping também propôs três iniciativas globais de desenvolvimento, de segurança e de civilização. O que você acha do significado prático dessas três iniciativas? 

Raffarin: Acho muito importante propor iniciativas para a governança global. Hoje, estamos num certo impasse. A governança global está enfrentando obstáculos e, muitas vezes, desequilíbrios. Acho que é muito importante encontrar novas ideias. A China tem razão em se dedicar a propor novas ideias e iniciativas. Para tal, precisamos aliviar a situação mundial, precisamos de paz na Europa, precisamos de paz na África e precisamos que todos os países trabalhem em conjunto para aliviar as tensões. 

Jornalista: Antes de me preparar para sua entrevista de hoje, também li um livro especificamente, que se chama Ce que la China nous a appris, escrito por você e sua esposa. A capa deve ter sido tirada na Grande Muralha. Li uma frase no livro: “Na Europa, pensar é diferenciar; na China, pensar é reunir”. Então, depois de ler o livro todo, pude sentir que o senhor tem uma compreensão muito profunda sobre a filosofia chinesa de “unir, mas diferenciar”. Como você acha que a China e a França deveriam fortalecer a comunicação e eliminar alguns mal-entendidos no futuro? 

Raffarin: Acredito que dois princípios importantes devem ser seguidos para lidar adequadamente o relacionamento entre as duas grandes civilizações. A primeira é o respeito. Você não pode julgar os outros com base na sua própria posição, mas deve perceber que existem diferenças entre os diferentes pontos de vista. Penso que em termos de muitos conceitos ideológicos, como os conceitos de “unidade” e “criação”, temos entendimentos diferentes. Às vezes, precisamos considerar estes conceitos da perspectiva uns dos outros, a fim de promover a compreensão mútua. Ao mesmo tempo, também precisamos trabalhar em conjunto em questões comuns. Somente trabalhando juntos em questões comuns poderemos continuar a fazer progressos. Portanto, acredito que devemos ser honestos uns com os outros, expressar as nossas opiniões e, o mais importante, esforçar-nos para encontrar os pontos comuns. Penso que esta é exatamente a direção das políticas externas da França e da China hoje, que consiste em encontrar o nosso caminho comum e reforçar a compreensão mútua no caminho comum.