Por: Noa Taimo
Maputo, Moçambique – Uma voz trémula e ténue irrompeu de uma sala de cirurgia do Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade hospitalar de Moçambique.
“Muito obrigada doutor, muito obrigada”, insistiu uma mulher com a aparência ainda debilitada, agradecendo ao médico Zhang Hao, chefe da equipa médica chinesa e cirurgião hepático, biliar e pancreático, pela resseção do carcinoma hepatocelular no fígado.
O corpo da paciente ainda estava frágil, mas transbordava alegria. Na posição em que se encontrava, deitada, contemplava Zhang Hao, oriundo da província de Sichuan, no sudoeste da China.
“Este tem sido um dos maiores motivos da minha alegria. Saber que estou contribuindo para o bem-estar e a garantia de melhor qualidade de vida para os moçambicanos”, disse Zhang Hao.
O médico chinês faz parte da geração que dá continuidade ao processo iniciado pelo primeiro grupo enviado, há 60 anos, pela China ao mundo para ajuda médica internacional.
A primeira equipa foi enviada para Argélia, em 1963, onde os profissionais da saúde chineses já realizaram serviços de partos que contribuíram para dar à luz a mais de 2,07 milhões de bebés neste país africano e trataram mais de 27 milhões de pacientes.
Antes de iniciar a cirurgia, Zhang Hao atravessou a Eduardo Mondlane, uma das principais e maiores avenidas do país, em direção ao Hospital Central. Chovia bastante em Maputo. Por isso, ele entrou no hospital encharcado.
As águas da chuva que caíam molhavam seus sapatos. “Quando iniciamos a operação eu estava molhado, e quando terminamos, de tanto transpirar durante a cirurgia, não sabia se a água no meu corpo era da chuva ou do suor.”
Ele acrescentou que a cirurgia foi um sucesso. Zhang relatou que, na manhã daquele dia, antes da cirurgia, chovia em Maputo. Depois da cirurgia, a chuva se foi e o sol apareceu. Nesta altura, a paciente já estava melhor e curada.
“Creio que com a minha presença aqui temos estado a aumentar a confiança aos moçambicanos. Uma das pacientes que ajudei revelou-me que se sentia mais confortável por saber que tinha um médico chinês no hospital e que este, no caso eu, seria o responsável por cuidar dela.”
Sinto-me orgulhoso por fazer parte
Todas as manhãs, quando Zhang Hao acorda e se desloca ao hospital recorda-se sempre do princípio que sempre guiou os primeiros médicos chineses que se deslocaram a vários países.
“Procuramos sempre seguir os mesmos preceitos que aprendemos dos primeiros médicos e é um dos princípios que nos guia é conceito de sinceridade, praticidade, simpatia e boa fé”, referiu.
Em Moçambique, a primeira equipa foi enviada há cerca de 50 anos, logo depois da independência. Atualmente, o país conta com cerca de 30 milhões de habitantes.
Com o seu trabalho, Zhang Hao tem sido responsável por trazer esperança a diversos pacientes moçambicanos que padecem de diversas doenças.
A missão desta equipa, que chegou em Moçambique em 2022, termina no ano em curso, devendo ser enviada uma outra equipa ainda neste ano. Ela é constituída por 10 médicos que trabalham no HCM.
De 1976 a esta parte, a China enviou 359 médicos a Moçambique, divididos em 24 equipas.
Durante esse período, os médicos chineses trataram cerca de 1,1 milhão de pacientes na cidade de Maputo e em outros cantos do país. Realizaram mais de 150 mil operações, resgataram 15 mil pacientes críticos e trataram cerca de 640 mil pacientes com medicina tradicional chinesa.
No âmbito da promoção da cooperação em saúde, as equipas médicas chinesas realizaram mais de 600 visitas médicas itinerantes e formações, treinando aproximadamente 10 mil médicos moçambicanos.
Ademais, foram doadas grandes quantidades de materiais médicos às instituições de saúde moçambicanas e exploraram ativamente a construção de um modelo moderno sino-moçambicano de operação médica que integra a telemedicina.
Nos últimos dez anos, a China propôs o conceito de construção de uma comunidade de saúde humana e ajudou ativamente os países beneficiários a desenvolverem sistemas médicos para melhorar suas capacidades de serviços médicos.
A primeira cirurgia como o caminho para os laços se estreitarem
Quando o médico chinês aterrou em Maputo, em outubro de 2022, ficou nervoso, pensando que seria difícil trabalhar em Moçambique, mas logo depois da primeira operação cirúrgica ele mudou de ideia.
“A primeira cirurgia que tivemos foi um sucesso e esse foi o momento em que as nossas relações se estreitaram. Com a nossa primeira cirurgia, bem-sucedida, conseguimos estreitar os nossos laços de amizade.”
De acordo com Zhang, com a confiança, mais cirurgias foram feitas em cooperação entre os profissionais dos dois países ao ponto de o Serviço de Cirurgia III, onde eles trabalham, ser reconhecido como um dos melhores do hospital.
Entre a saudade de casa e o sentido de missão por cumprir
Em casa, na China, ficou a sua família: esposa, filho e seus pais. “Sinto muitas saudades deles. O meu pai esteve com uma doença pulmonar e, estando longe de casa, sem o ver por perto, me senti às vezes preocupado. Mas sei que eles sabem que estou numa missão pelo nome do nosso país.”
Ele referiu ainda que o West China Hospital of Sichuan University onde ele trabalhou na China dava grande apoio e cuidado ao pai dele e fez de tudo para que ele melhorasse. Finalmente, o pai de Zhang recuperou-se.
“Os meus colegas do hospital onde trabalhei na China ficaram a cuidar bem do meu pai e ele se encontra melhor. Estou muito satisfeito e emocionado com isso e muito grato por eles terem cuidado do meu pai”, afirmou. Ele concluiu dizendo que “a minha família sabe que estou aqui a comprimir a minha missão”.