Por Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter da política internacional do Brasil
A terceira década do século XXI marcha adiante e, quando nos demos conta, já estamos em seu quarto ano e muito se passou desde o seu começo. Se os anos 2020 se iniciaram sob a pandemia, que interrompeu quaisquer avanços econômicos em prol da luta em defesa da saúde pública, os dois anos seguintes viram o alvorecer de uma nova revolução tecnológica: as inteligências artificiais. Capazes de executar, via computação, tarefas tão complexas quanto confundíveis com a inteligência humana, elas podem se tornar uma imensa ferramenta de progresso para a humanidade, ao mesmo tempo que podem ser um risco à sua segurança.
Tendo em vista as rápidas mudanças pelas quais a humanidade vem passando, não apenas quanto aos avanços das tecnologias de sistemas computacionais, mas também a necessidade de desenvolvimento de tecnologias verdes e novos modais de transportes, a China tem se preparado para ocupar a vanguarda no que chama de “novas forças produtivas”.
No dia 31 de janeiro, no pronunciamento de abertura da 11a sessão do estudo do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), o presidente Xi Jinping pediu esforços para acelerar o desenvolvimento dessas novas forças e promover firmemente o desenvolvimento de alta qualidade. O líder chinês disse que “o desenvolvimento de novas forças produtivas é um requisito intrínseco e um foco importante para a promoção do desenvolvimento de alta qualidade. É necessário continuar alavancando bem a inovação para acelerar o desenvolvimento de novas produtividades”.
Ainda durante a sessão do Birô Político, Xi Jinping afirmou que “as novas forças produtivas são impulsionadas por avanços tecnológicos revolucionários, pela distribuição inovadora de fatores produtivos e pela profunda transformação e modernização industrial, tendo como conotação básica a melhoria da qualidade dos trabalhadores, dos meios de trabalho, dos sujeitos do trabalho e das suas combinações otimizadas, além de um aumento substancial da produtividade de todos os fatores como sua marca principal”.
Tal desenvolvimento segue o que já é uma toada na economia chinesa. O professor Chen Dengke, em entrevista concedida à agência Xinhua, afirma que “no âmbito das novas forças produtivas, o rápido progresso da China em tecnologia digital e inteligência artificial está injetando um novo impulso no desenvolvimento de alta qualidade de sua economia”, e que “a escala atual da economia digital da China está se aproximando de 60 trilhões de yuans (US$ 8,45 trilhões), representando mais de 40% do PIB total do país”. De acordo com a Xinhua, a pesquisa e o desenvolvimento básicos são o principal fundamento para o surgimento de tecnologias emergentes e do avanço de novas forças produtivas. No entanto, afirma o pesquisador, “persiste uma lacuna notável entre a China e os países desenvolvidos nesse aspecto”.
Buscando chegar aos investimentos e resultados que outros países alcançaram nesse segmento, mais notadamente os Estados Unidos, a China tem estabelecido planos estratégicos para tal, com diversas de suas províncias trabalhando para a organização de programas de desenvolvimento e busca da confluência de interesses privados para o lançamento de novas tecnologias.
Os municípios de Beijing e Chongqing, além da província de Guangdong, assumem fortemente a tarefa de desenvolver veículos com novas matrizes energéticas. Os chamados Veículos de Nova Energia (NEV – sigla em inglês para New Energy Vehicles) são, talvez, um dos setores de tecnologia mais desenvolvidos na China, com linhas avançadas e numerosas de produção de carros elétricos, que utilizam desde motores elétricos até controles eletrônicos. O país também avança para o setor aéreo, com a produção de aeronaves de mobilidade urbana, os chamados “carros voadores”, que estão em fase final de pesquisa e desenvolvimento, para se tornarem parte do cotidiano a partir da década de 2030.
Não à toa a potência asiática é líder em patentes de pesquisa no mundo e vem, a cada ano, superando recordes. No setor computacional, trabalha na criação de interface cérebro-máquina (quando um computador responde ao seu pensamento) e computadores quânticos, que são as máquinas mais potentes em inteligência artificial atualmente existentes, quase todos em mãos das gigantes bigtechs ou Estados do Norte Global. O desenvolvimento e disseminação desses mecanismos, capazes de alta produção de inteligência artificial e, portanto, de interferência na sociedade, é fundamental à soberania dos países do Sul Global, onde estão a China e o Brasil.
Com toda essa marcha ao progresso, a China dá demonstrações de como o socialismo com características chinesas preserva a essência do conceito marxista de materialismo dialético, organizando a classe trabalhadora para a produção de bens materiais de alta complexidade e valor a seu serviço, e não do capitalismo acumulador e desigual do Ocidente. Aí aplicadas as políticas de ganha-ganha das relações comerciais internacionais chinesas, fica claro que os progressos chineses serão partilhados na relação mais justa entre os Estados, e assim o progresso chinês servirá não só a seus trabalhadores, mas aos de todo o mundo.