Exclusiva com Embaixador: China e Portugal partilham visão global e voltada para o futuro
Fonte: CMG Published: 2024-02-08 21:20:13

“A China e Portugal têm vindo a desenvolver laços bilaterais de forma constante, rápida e saudável e suas colaborações pragmáticas alcançaram êxitos frutuosos,” sumarizou o embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, sobre o 45º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas, comemorado no dia 8 de fevereiro.

Pela ocasião, o diplomata sênior concedeu uma entrevista ao Grupo de Mídia da China, analisou minuciosamente as conquistas substanciais da parceria estratégica abrangente entre a China e Portugal e delineou um futuro repleto de novas dinâmicas para esse laço de longa data. Confira o texto integral da entrevista:

  

1.    Num contexto de mudanças complexas e profundas na situação internacional, a parceria estratégica abrangente entre a China e Portugal tem ganhado novas conotações. Especialmente a partir da visita do presidente chinês, Xi Jinping, a Portugal em 2018, os dois países vêm consolidando ainda mais suas relações entrelaçadas de longa data. O Sr. Embaixador poderia nos atualizar sobre os resultados de cooperação China-Portugal? Essas interações corresponderam às expectativas da parte chinesa? 

    Em dezembro de 2018, o presidente chinês, Xi Jinping, fez uma visita histórica e bem-sucedida a Portugal, alcançando resultados frutíferos e impulsionando a parceria estratégica abrangente China-Portugal para uma nova fase de desenvolvimento. Em abril do ano seguinte, o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, foi convidado a participar no 2° Fórum “Uma Faixa e Uma Rota” para a Cooperação Internacional e efetuou uma visita de Estado à China. A troca de visitas entre os dois chefes de Estado em menos de meio ano reflete plenamente o elevado nível de progressos nas relações bilaterais e apontou a direção para o desenvolvimento da parceria estratégica abrangente China-Portugal na nova era. 

    No último ano, o vice-presidente chinês, Han Zheng, e o chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), Ho Iat-seng, visitaram Portugal com sucesso, aprofundando ainda mais a cooperação pragmática entre os dois países em todos os domínios. Estamos muito satisfeitos por ver que, desde que a China e Portugal estabeleceram a cooperação na Iniciativa “Uma Faixa e Uma Rota”, sob a atenção e impulso dos líderes das duas nações, bem como com os esforços conjuntos dos dois povos, os laços bilaterais têm vindo a desenvolver-se de forma constante, rápida e saudável, e a colaboração pragmática tem alcançado êxitos frutuosos. 

    A cooperação económica, comercial e de investimento está em franca expansão. Os dados mais recentes mostram que, entre janeiro e novembro de 2023, o volume total do comércio China-Portugal totalizou US$7,938 bilhões. A China manteve a posição de maior parceiro comercial de Portugal na Ásia durante anos consecutivos. Segundo as estatísticas portuguesas; o estoque de investimento direto da China em Portugal atingiu 3,473 bilhões de euros, abrangendo energia, finanças, seguros, medicina e outros campos. Reciprocamente, o investimento de Portugal na China também cresce de forma estável. Ao intensificarem a cooperação tradicional, ambos os lados vêm estendendo a parceria para novas áreas, como a economia digital, a proteção ambiental e a inteligência artificial. Além disso, Portugal é também o primeiro país da União Europeia (UE) a estabelecer formalmente uma “parceria azul” com a China. Ambas as partes possuem longas linhas costeiras e ricos recursos marinhos, sendo, assim, parceiros naturais no desenvolvimento da economia marítima, repletos de amplas perspectivas de cooperação. 

    A cooperação bilateral no setor financeiro está em crescimento. A colaboração sino-portuguesa é pioneira e desempenha um papel positivo como modelo para a promoção dos contatos entre a China e a UE. O governo português concluiu com sucesso a emissão do primeiro lote de Obrigações Panda no valor de 2 bilhões de yuans, tornando-se o primeiro país da zona euro a vender dívida em renminbi. Portugal é também o primeiro país europeu a emitir cartões da UnionPay através das próprias instituições financeiras. O Banco da China, o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), o Grupo FOSUN e várias instituições chinesas, como o Banco Bisen e a China Tianying, investiram no setor bancário e de seguros de Portugal.

    A cooperação no mercado de terceiros está a florescer. A China e Portugal ganharam bons benefícios económicos e sociais nos seus respectivos países por meio do investimento mútuo, enquanto transcenderam o âmbito bilateral e alcançaram resultados frutíferos no desenvolvimento conjunto de mercados de terceiros na Europa, África, América Latina e outras regiões. A Corporação das Três Gargantas da China, junto com o Grupo EDP (Energias de Portugal), venceu licitações para projetos de energia hidroelétrica e eólica no Brasil, Polónia, Itália, Reino Unido, Peru, Colômbia e outros países. A State Grid Corporation da China ajudou a empresa portuguesa REN (Redes Energéticas Nacionais) a abrir a porta do mercado chileno de transmissão de energia. A China Communication Construction Company e o Grupo Mota-Engil de Portugal obtiveram em parceria as licitações de vários projetos de infraestruturas na África e na América Latina. Pode dizer-se que a cooperação no mercado de terceiros é um destaque da parceria estratégica abrangente China-Portugal, especialmente na colaboração pragmática bilateral.

    Os intercâmbios interpessoais e culturais continuam a aprofundar-se. A amizade profunda entre os povos é a chave e a força motriz para as boas relações entre os países. Ao longo dos últimos tempos, o governo chinês tem vindo a otimizar as políticas de vistos e outras medidas para facilitar o fluxo de pessoas entre a China e Portugal. A cooperação sino-portuguesa na área da língua e cultura está a progredir rapidamente, experimentando uma "febre da língua portuguesa" na China e uma "febre do mandarim" em Portugal. Mais de 40 universidades chinesas oferecem cursos de língua portuguesa e em Portugal há cinco Institutos Confúcio. O Workshop Lu Ban, organizado conjuntamente pelas instituições de ensino superior dos dois países, levou a tecnologia chinesa ao cabo mais ocidental do continente europeu, fazendo com que o espírito artesanal chinês saia ao mundo. Cada dia mais jovens se tornam participantes, herdeiros e promotores da cooperação pragmática sino-portuguesa, o que injeta contributos contínuos e positivos para o aprofundamento do intercâmbio interpessoal e cultural e para a promoção da construção de uma comunidade de futuro compartilhado para toda a humanidade.

    A prática fala tudo. A Iniciativa "Uma Faixa e Uma Rota" está em conformidade com a tendência dos tempos e satisfaz as aspirações dos dois países para uma cooperação vantajosa para ambos e um desenvolvimento global. Esperamos sinceramente que, com os nossos esforços conjuntos, a China e Portugal continuem a expandir a escala do comércio, aprofundar a cooperação em ciência e tecnologia, educação, cultura e outros domínios com base nos resultados existentes, e ampliar a cooperação tripartida e multipartidária nos mercados globais, impulsionando assim a construção conjunta de alta qualidade da "Uma Faixa e Uma Rota" pela China e Portugal, com vista a beneficiar os dois povos.

2.    Após assumir o cargo, o Embaixador tem sido muito ativo na promoção de intercâmbios e entendimento mútuo entre os dois povos. Na mídia portuguesa, o senhor fez um bom esclarecimento sobre as políticas chinesas e as oportunidades de comércio e investimento. Aqui, gostaríamos também de escutar como o senhor enxerga Portugal? No que diz respeito às relações bilaterais e às questões internacionais e regionais de interesse comum, como é que a China posiciona as relações sino-portuguesas?

    Nos três anos desde que cheguei a Portugal para assumir o cargo, já conhecia as cinco regiões continentais e as duas regiões autónomas insulares do país. Pelas visitas, percebi plenamente que Portugal é um país amigável, inclusivo e culturalmente diversificado. O astro do futebol Cristiano Ronaldo e o melodioso fado são aplaudidos em todo o mundo. As obras clássicas dos escritores como Luís de Camões, Fernando Pessoa e José Saramago têm sido amplamente conhecidas.

    Portugal dispõe de uma boa segurança social, infraestruturas completas, sistema judicial sólido e um elevado grau de mercantilização, o que torna o país um terreno propício ao investimento de muitas empresas internacionais, incluindo as empresas chinesas que buscam mercados globais. Nos últimos anos, uma variedade de especialidades portuguesas, como os vinhos do Porto e Madeira, a cerveja, os produtos de cortiça, a carne de porco preto e muitos outros produtos de alta qualidade, vem ganhando mais atenção dos consumidores chineses.

    Em termos de relações bilaterais, a China e Portugal possuem uma sólida base política e de opinião pública. Desde o estabelecimento das relações diplomáticas, os dois Estados têm aderido aos princípios da compreensão mútua, do respeito mútuo, da confiança recíproca e da cooperação mutuamente benéfica. A persistência no diálogo aberto e franco e o aumento do entendimento mútuo criaram uma atmosfera favorável à cooperação bilateral e multilateral entre a China e Portugal, bem como entre a China e a União Europeia. A parte portuguesa tem atribuído apoio firme à China em questões relacionadas com os interesses fundamentais e as principais preocupações, e a China, por sua vez, também concede alta importância ao papel positivo desempenhado por Portugal na União Europeia e no cenário mundial.

    O mundo hoje não está pacífico. As práticas hegemónicas das potências ocidentais causaram sérios danos. A economia mundial tem vindo a recuperar-se debilmente em resultado da proliferação de argumentos como "muros altos no quintal pequeno", "desacoplamento de cadeia de suprimentos" e "de-risking". Como um grande país responsável, a China tem defendido a justiça no meio da turbulência mundial e tomado ação em momentos importantes e críticos, facto pelo qual Portugal manifestou sua alta apreciação e reconhecimento.

    Apesar de sistemas sociais e antecedentes históricos diferentes, a China e Portugal partilham uma visão global e preparada para o futuro. Apoiam firmemente o multilateralismo, opõem-se ao unilateralismo e defendem o livre comércio em vez de protecionismo. Os dois países mantiveram uma comunicação e coordenação estreitas sobre questões regionais relevantes, especialmente sobre a crise na Ucrânia e o conflito Palestina-Israel, desempenhando um papel construtivo na promoção da paz e na resolução de diferenças através do diálogo. 

    Na mensagem de Ano Novo de 2024, o presidente chinês Xi Jinping indicou que "a paz e o desenvolvimento continuam sendo os temas principais, enquanto a cooperação ganha-ganha é perene em qualquer situação.” Perante as mudanças pelas quais o mundo passa, o reforço da solidariedade internacional e a promoção da paz e do desenvolvimento são os objetivos comuns e firmes da China e de Portugal. Acredita-se que ambos os lados continuarão a avançar ombro a ombro, salvaguardando conjuntamente o sistema internacional com as Nações Unidas no seu núcleo e a ordem internacional baseada no Direito Internacional, mantendo sua estreita comunicação e coordenação em assuntos bilaterais e multilaterais e atuando como defensores da paz mundial e promotores do desenvolvimento global.

3.    Em vários quadros multilaterais, a China e Portugal coordenaram de forma positiva e contribuíram para impulsionar a conectividade Ásia-Europa e a paz e o desenvolvimento do mundo. Neste novo ponto de partida, que potencial tem a cooperação China-Portugal no futuro?

    Não muito tempo atrás, foi realizada a Conferência Central sobre Trabalho Relacionado com Negócios Estrangeiros do Partido Comunista da China, na qual se definiu claramente a construção de uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade como nobre objetivo a prosseguir na nova era da diplomacia de grande país com características chinesas.

    Agora, o povo chinês está a embarcar energeticamente na nova jornada da construção de um país forte e da revitalização nacional, enquanto o povo português está também a enfrentar as importantes tarefas de garantir a subsistência das pessoas e de melhorar a estrutura económica. O aprofundamento da confiança política mútua entre a China e Portugal e os intercâmbios culturais e interpessoais cada vez mais dinamizados estabeleceram uma base sólida para que os dois países consolidem a cooperação prática em vários domínios, tais como a economia, o comércio e a cultura. 

    Tanto o planejamento de desenvolvimento da China como o Plano de Recuperação Económica de Portugal colocam a tónica na inovação científica e tecnológica e no desenvolvimento verde, proporcionando condições favoráveis para os dois lados explorarem novas oportunidades de desenvolvimento. O novo conceito de desenvolvimento da China também é altamente compatível com a estratégia de transformação económica e energética de Portugal. E, ao mesmo tempo, os dois países são bastante complementares em tecnologia, com um enorme espaço de cooperação em indústrias emergentes, como a economia azul e as novas energias, bem como com amplas perspectivas de parceria nas áreas de comércio eletrónico, veículos eléctricos,  entre outras.

    Um antigo provérbio chinês diz: “Nem montanhas nem rios podem separar os que têm uma mesma aspiração”. Embora a China e Portugal estejam situados nos extremos leste e oeste do continente euroasiático, a distância geográfica não impede o ritmo de aprofundamento da cooperação entre si. Acredito que, sob a direção dos líderes dos dois países e dos intercâmbios amistosos entre os povos, a China e Portugal explorarão ainda mais o potencial de parceria, continuarão a expandir a cooperação tripartida ou multipartidária no mercado, criarão mais novas dinâmicas nas relações bilaterais e levarão suas cooperações pragmáticas em diversos campos no âmbito da "Uma Faixa e Uma Rota" a um nível mais elevado.