Por José Reinaldo Carvalho, jornalista, editor internacional do Brasil 247 e secretário-geral do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontra-se nesta sexta-feira (19) com o chanceler chinês Wang Yi no quadro de uma visita oficial ao Brasil de uma das maiores autoridades da República Popular da China e do Partido Comunista da China, força dirigente da construção do socialismo no país asiático. A pauta é abrangente, porquanto a reunião tem relação direta com a preparação da Cúpula do G20, que se realizará em novembro no Rio de Janeiro, sob a presidência brasileira. O evento desponta como um dos mais importantes acontecimentos de 2024, em torno do qual é grande a expectativa de vivas discussões sobre a economia e os conflitos geopolíticos cada vez mais globais e ameaçadores à paz mundial. Para países do Sul Global, como Brasil, China, parceiros do Brics e integrantes de grupos relevantes no seio das Nações Unidas, como o G77+China e o Movimento dos Países Não Alinhados, será mais um palco para o protagonismo das reivindicações dos países emergentes, fator incontornável no mundo multipolar.
O encontro entre Lula e Wang é fato importante também porque ambos os lados discutem sobre tópicos importantes da relação bilateral. Este ano marca o 50o aniversário do estabelecimento dos laços diplomáticos entre os gigantes asiático e do Cruzeiro do Sul, efeméride que merece as maiores comemorações. Por mais extensas que sejam as cordilheiras e vastos os oceanos que nos separam, Brasil e China criaram ao longo do tempo fortes e profundas ligações, uma lição para o mundo de que as civilizações ganham mais com o encontro do que com o choque.
Incontornavelmente, na audiência entre Lula e Wang, entra em pauta o tema Taiwan. O Brasil reitera a posição de princípios delineada há tempos por nossa diplomacia, não importando qual seja o governo de turno nem o ambiente mais ou menos tenso da situação global. O Brasil apoia o princípio de "uma só China" e não respalda os intentos separatistas de forças políticas de Taiwan estimuladas por potências imperialistas hostis à China e que aspiram à hegemonia mundial.
A eleição que no dia 13 de janeiro manteve a atual administração local de Taiwan, muito embora minoritária no parlamento local, em nada altera a posição da China de que Taiwan é uma questão interna da República Popular da China, que reitera o propósito da reunificação pacífica entre os dois lados do Estreito.
Para se aquilatar a importância que a questão de Taiwan tem para o governo chinês e o Partido Comunista, é preciso atentar para o fato de que dois dias após a proclamação dos resultados da eleição em Taiwan, a revista teórica e ideológica do Partido Comunista da China, publicou um artigo do presidente Xi Jinping, que é também o secretário-geral do partido e o chefe da Comissão Militar Central. Xi exortou a realização de um trabalho de frente única para fortalecer as forças patrióticas unidas em Taiwan e se opor aos atos separatistas das forças de "independência”. No mesmo dia, o Ministério da Defesa do Estado alertou em um artigo na rede social chinesa WeChat que a Lei Anti-Secessão é "uma espada afiada pendurada sobre as cabeças dos secessionistas de Taiwan", afirmando que a espada está visando apenas os secessionistas em vez dos compatriotas de Taiwan, a fim de salvaguardar a soberania e a integridade territorial da China. Os dois pronunciamentos são uma demonstração de como a China trata de maneira diferenciada os compatriotas e os secessionistas de Taiwan. O governo chinês e o Partido Comunista incentivam as forças patrióticas a se unirem para conter as forças de “independência de Taiwan".
A República Popular da China e o Partido Comunista tratam a reunificação completa da China como uma missão histórica irrenunciável, trilhando o caminho do desenvolvimento pacífico. É uma missão vinculada a uma meta ainda maior, a de revitalização da nação chinesa. Documentos oficiais do Partido Comunista da China e pronunciamentos do seu líder máximo têm reiterado a responsabilidade da China para fazer avançar a união entre a parte continental e o outro lado do Estreito e comemoram êxitos alcançados nessa direção. O obstáculo para isso continua sendo a ação separatista de determinadas forças políticas que ameaçam com a declaração unilateral de independência, contando com o respaldo de potências imperialistas, designadamente os Estados Unidos, que vendem armas a Taiwan, assim violando compromissos solenemente assumidos perante a China e a comunidade internacional.
Nesse contexto, ao reafirmar o compromisso com o princípio de que no mundo só existe uma China e se opor ao separatismo de Taiwan, o Brasil adota a única posição justa na questão e do lado da paz.