Maputo, Moçambique – O primeiro contato que a moçambicana e docente universitária Olga Marlene teve com a língua chinesa foi em 2015. Na altura, era tudo diferente e novo para ela: os sons, a grafia e a cultura, mas nem mesmo isso a impediu de prosseguir.
“Embora fosse tudo novo e, até certo ponto engraçado, prossegui, e não desisti”, conta Olga Marlene ao Grupo de Mídias da China (CMG), sentada num restaurante na cidade de Maputo, capital moçambicana.
Na primeira aula, Olga lançou-se às gargalhadas, devido à distância e diferença fonética entre o mandarim e a sua língua materna, o português. Foi sempre nesse clima de descontração e diversão que nasceu e cresceu a paixão pela língua chinesa.
“Quando dei por mim, eu estava interagindo nas aulas com frequência. Comecei a gostar e a destacar-me positivamente”, conta a professora, enquanto vasculha, na mente, memórias do ano em que frequentou o curso livre de mandarim no Centro do Instituto Confúcio, em Maputo.
Ela recorda que quando se inscreveu para o curso livre de mandarim apenas buscava uma ocupação para os tempos livres, depois de ter concluído o curso médio em jornalismo.
“Inesperadamente, essa busca por ocupação nos tempos livres foi substituída e brotou, então, um amor imenso ao ponto de” - sublinha a primeira docente moçambicana de mandarim - “atualmente já não me vejo distante da língua e cultura chinesas.”
Durante o curso livre, com duração de três meses, Olga Marlene começou a perceber a lógica do idioma deste povo com uma cultural milenar, “a cada dia de aulas eu ia tendo mais interesse pela língua.”
Apesar disso, os três meses não foram suficientes para a fazer falar mandarim, “eu entendia, ao fim dos três meses, como funcionava o chinês, mas eu não falava”, referiu.
“Os Analectos de Confúcio marcaram minha passagem pela universidade”
Com noções e entendimento da lógica do mandarim, no ano seguinte, 2016, e com a idade para frequentar a universidade, Olga Marlene, tendo feito o curso livre e introduzida a língua, cultura e literatura chinesas, decidiu prosseguir com os estudos em mandarim. Essa era a única certeza que tinha.
“Concorri exatamente para o curso de mandarim para fazer a minha licenciatura”, disse Olga Marlene.
Mas desta vez, tudo seria um pouco mais diferente. As aulas seriam diárias. Teria mais disciplinas por assistir e o seu futuro dependia disso, “assim como no curso livre, aqui também voltei a destacar-me.”
Entre as aulas de avaliação da fala e da audição e artes marciais chinesas, decorreu o percurso universitário da jovem que mais tarde se tornaria a primeira professora moçambicana a lecionar mandarim no país.
“Tive uma professora chinesa que encorajava muito aos estudantes”, disse.
Em resposta aos apelos da professora, Olga Marlene dedicou-se bastante e viria a ser uma das melhores estudantes e posteriormente docente da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a primeira e a mais antiga universidade do país.
Segundo ela, no curso estava previsto viagens de intercâmbio para China e Olga Marlene participou em dois destes intercâmbios, “ter viajado para China foi bom para mim, pois estive com os nativos e esse intercâmbio ajudou-me a melhorar, cada vez, o meu entendimento do idioma.”
Ela disse que, no fim do curso, os Analectos de Confúcio a marcaram bastante pelo facto de ter sido possível, por meio destes, perceber a filosofia e cultura chinesas.
“Por meio deste foi possível perceber como é que o povo chinês pensa. A coletânea não foi organizada por ele. Os discípulos dele foram coletando seus pensamentos a partir daquilo que ouviam e foram escrevendo. Foi muito bom para mim aprender aquilo. Se eu tivesse oportunidade de aprender um pouco mais, faria, porque aprendemos de forma muito superficial.”
“A escrita do povo chinês revela sua inteligência”
Desde 2015 até hoje, Olga Marlene soma mais de cinco anos de contacto com a língua chinesa e, nestes anos todos, o seu amor pelo idioma tem aumentando, mas é a escrita que a deixa mais apaixonada.
“A escrita me impressiona, porque mostra o quão inteligentes eles são. São um povo muito inteligente e isso, para mim, revela-se na sua escrita. Os traços têm uma lógica. Eles não só escrevem. Há aqueles caracteres que são formados a partir do som, há aqueles que são formados a partir da imagem, e há aqueles que são formados a partir do significado, então a escrita deles me impressiona muito.”
Continuando, pegou numa caneta e um papel e deu um exemplo escrevendo, “e mesmo quando juntamos esses traços não vai ser de forma desregrada que só vais e escreves. E eu ainda prefiro os caracteres ao Pin Yin”, disse.
Em seguida, Olga Marlene refere: quando vejo os caracteres, eu tenho a plena certeza do que se está a dizer. E voltando à caneta e papel, escreveu um caracter onde evidenciou que a pronúncia é a mesma, mas os carateres são diferentes.
Por outro lado, a professora conta que a preservação da cultura milenar é uma das coisas que ela admira deste povo.
“Eles ensinam essa cultura aos filhos, netos e na escola e é assim como eles mantêm essa cultura ao longo de anos”, salienta.
“Do outro lado: De estudante para docente”
Depois do curso, com a dedicação, ela se destacou e não tardou que a UEM expressasse interesse em tê-la como docente. Na altura, ela passou por uma avaliação e foi aprovada.
Neste momento, Olga Marlene saiu do lado de estudante e passou para o lado de professora. Se antes, estava sentada ouvindo, hoje ela fica em pé ensinando estudantes.
“No início, foi muito difícil trocar a personagem, mas agora já entendo”, afirmou.
Nessa altura, ela disse que uma das dificuldades estava em lecionar a estudantes que tinham sido seus colegas, mas que tinham reprovado e estando agora juntos na mesma sala, mas em posições diferentes.
“Agora tenho um enorme prazer de estar a lecionar mandarim que é uma das minhas maiores paixões.”
Olga Marlene é graduada em Língua, Cultura e Literatura Chinesa pela UEM.
Por repórter Hilário Taimo