O sistema de navegação por satélites da China, também conhecido por BeiDou ou BDS, é uma das grandes obras de arte contemporânea da tecnologia moderna e foi criado para fins de segurança nacional e econômica da China, bem como para o desenvolvimento social do país oriental. Afinal, não é de hoje o interesse e grande curiosidade dos nossos amigos asiáticos em desenvolver novas tecnologias para o bem-estar de toda a humanidade. Basta lembrar que o primeiro sistema de direcionamento e localização inventando pelo ser humano foi a bússola, arquitetado e construído por ninguém menos que o povo chinês.
Outra curiosidade é que o nome do projeto não foi escolhido à toa, uma vez que BeiDou significa “Ursa Maior”, representando uma clara referência às grandes navegações e embarcações movidas a vela que eram altamente dependentes de sistemas de localização. Em culturas antigas, a Constelação da Ursa Maior ainda é reconhecida como a verdadeira bússola que orienta as pessoas durante a navegação, simbolizando a direção e o propósito de diversas civilizações.
Similar ao nosso sistema de GPS, a tecnologia chinesa vai muito além, ao tornar o Grande Dragão totalmente independente no quesito da geolocalização. Eles conseguiram adquirir autonomia total com o passar dos anos ao desenvolverem de forma autônoma sua própria tecnologia de satélites e monitoramento, sem depender de influências externas. Nesse contexto, o sistema está ativo desde os anos 2000 e vem oferecendo serviços de navegação e monitoramento não apenas para a China, mas também para regiões vizinhas.
Porém, para atingir tamanho feito a tarefa não foi fácil. Foram necessários mais de 20 anos de trabalho duro dos chineses que, à época, ainda não dominavam a tecnologia e tiveram que começar literalmente do zero, com testes e protótipos simples. Até que em dezembro de 2012 os cientistas chineses fizeram um importante avanço ao colocarem em operação a fase do projeto do BDS-2, que contava com 14 satélites. Tal feito foi fundamental para o progresso do desenvolvimento global, impulsionando a necessidade da tecnologia chinesa.
Alguns anos mais tarde, em julho de 2020, o presidente da China, Xi Jinping, anunciou que a fase do projeto BDS-3 havia sido finalizada com o seu comissionamento, tendo como grande resultado prover serviços globais para todos. Além disso, é considerada uma tecnologia exclusivamente chinesa, sendo o primeiro e único sistema de navegação por satélite de constelação mista do mundo, na medida em que possui diferentes inovações de satélites mistos para o monitoramento: 3GEO (Órbita Terrestre Geoestacionária) + 3IGSO (Órbita Geossíncrona Inclinada) + 25 MEO (Órbita Terrestre Média).
O BeiDou da China também é o BeiDou do mundo todo. Do BDS-1 ao BDS-3 as descobertas chinesas beneficiarão não apenas o povo chinês, mas também povos de outros países, sendo um dos quatro principais sistemas globais de navegação por satélites. Reconhecido, inclusive, pela ONU, que em outubro de 2022 realizou o encontro global sobre navegação por satélites em Abu Dhabi, contando com a participação especial da China, ocasião em que os chineses reforçaram o compromisso de promover a cooperação internacional para a utilização de seus satélites, além de oferecerem a sabedoria chinesa para o desenvolvimento da causa na navegação estelar.
Nesse contexto, devemos lembrar que a grandiosa rota da seda que a China vem construindo nas últimas décadas não pode ser vista unicamente como um desenvolvimento terrestre. Ela é sim uma rota da seda espacial que foi possível por conta do BeiDou. Isso porque, nos arredores da China e nos países ao longo do cinturão foram possíveis diversos avanços, como o transporte e a gestão portuária do Paquistão, o planejamento terrestre e o monitoramento do transporte fluvial de Mianmar, a agricultura e o controle de pragas no Laos, a modernização urbana de Brunei, o turismo e as aplicações marítimas integradas da Indonésia.
Amplamente utilizado em técnicas de agricultura, transporte, monitoramento climático e ambiental, piscicultura, previsão de tempo, telecomunicação, segurança pública e em diversas outras áreas, o BeiDou está contribuindo para mudar profundamente a produção e o estilo de vida das pessoas para melhor. Definitivamente, não é um benefício exclusivo para os chineses, uma vez que os objetivos que estão sendo alcançados trarão uma vida melhor para todos nós. O potencial do projeto é magnífico e já está ajudando o Brasil a crescer ainda mais com os laços e parcerias que vem desenvolvendo com a China, como por exemplo o projeto CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres).
Por Raphael Taucei Panizzi, coordenador de engenharia e consultor de soluções tecnológicas do Brasil