Eram dez e quarenta da noite no horário de Brasília quando as pessoas observavam incrédulas e de olhos arregalados em seus televisores as palavras do diretor do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan na China, Zou Lipeng: “O foguete Longa Marcha enviou a missão Shenzhou-16 para a órbita conforme o planejado, o painel solar do foguete desdobrou-se com sucesso e está funcionado, e agora declaro que o lançamento foi um sucesso total”.
Para quem ainda não tinha se dado conta, ele acabara de anunciar um dos maiores feitos da década para o desenvolvimento da tecnologia aeroespacial, já que essa nova fase da missão chinesa torna possível, pela primeira vez, a aplicação e desenvolvimento tecnológico aeroespacial. Afinal, nessa viagem, também estavam transportando sementes para experimentos de cultivo e reprodução no espaço, o que é fundamental para a maior ambição do projeto que é realizar uma viagem tripulada para a Lua até 2030. Os chineses ainda planejam realizar uma série de outros experimentos científicos de alto nível e complexidade na estação espacial Tiangong, como medicina espacial, física, ciência dos materiais e a observação do planeta Terra.
Não bastasse tantas notícias positivas e motivadoras para todos nós, o aspecto mais espetacular de toda a missão ainda estava por vir. O tempo que a espaçonave levou desde a decolagem até o acoplamento no módulo espacial foi de apenas seis horas, evidenciando a evolução tecnológica desde o início do projeto espacial chinês. Valendo notar que, por si só, tal conquista já pode ser considerada uma marca inimaginável para muitos há apenas alguns anos .
Um fato curioso e bastante especial na missão é que é a primeira tripulação composta por três tipos diferentes de astronautas, um piloto espacial, um engenheiro de voo e um professor da universidade de Beihang, especialista em cargas, sendo este último o primeiro civil a entrar na estação espacial para a troca de turma que acontece a cada seis meses. Afinal, a China pretende manter a estação espacial constantemente ocupada pelos próximos anos.
A missão é muito importante não só para a China como também para todo o resto da humanidade por conta dos resultados promissores que as pesquisas poderão trazer. Nesse contexto, até mesmo o CEO da SpaceX, Elon Musk, parabenizou o feito horas antes do lançamento do foguete ao enfatizar que o programa espacial da China é, de longe, muito mais avançado do que a maioria das pessoas podem imaginar.
Já nas palavras do Presidente da China, Xi Jinping, no relatório para o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, ele confirma meses antes o que tinha sido brilhantemente planejado e que estávamos observando com nossos próprios olhos. Isso porque ele afirma que a China entrou na lista de países inovadores na medida em que estava obtendo conquistas importantes em diversas áreas relacionadas ao voo espacial tripulado, além da exploração da Lua e de Marte que podem trazer diversos benefícios para toda a humanidade.
Os grandes feitos de nosso maior parceiro comercial estão sendo cada vez mais notados pelo Presidente Lula, que não mediu esforços para visitar a China no início do ano, reforçando o compromisso do Brasil em manter os laços comerciais e de amizade com o grande dragão asiático. Não é à toa que ao longo de toda a visita ele destacou que as relações bilaterais sino-brasileiras atingiram outro patamar, abrangendo necessidades cada vez mais tecnológicas em uma relação de cooperação entre os dois países.
Nesse contexto, o sucesso da missão Shenzhou-16 não é exclusivo para os chineses, uma vez que os objetivos que estão sendo alcançados trarão uma vida melhor para todos aqui na Terra, seja no desenvolvimento de novas tecnologias de plantio com vegetais e legumes cada vez mais resistentes, no aprimoramento de plataformas de ensino, nas pesquisas do funcionamento do corpo humano e, até mesmo, no desenvolvimento de meios de transporte mais eficientes e menos poluentes. O potencial do projeto é exponencial, reconhecido e elogiado por diversos cientistas e abre portas para que novos parceiros, como o Brasil, possam sonhar em um dia também navegar ao lado das estrelas.
Por Raphael Taucei Panizzi, coordenador de engenharia e consultor de soluções tecnológicas do Brasil