Por António dos Santos Queirós, professor e Investigador da Universidade de Lisboa
Quais foram os resultados, desde o início da pandemia, em janeiro de 2020, até fevereiro de 2022, segundo as estatísticas mundiais do Covid-19, elaboradas pela Organização Mundial da Saúde e aqui republicadas, comparadas com outros países? Os números demonstram que a política de “zero-Covid” da China salvou a vida de muitos milhares de chineses, sobretudo a vida dos mais idosos e vulneráveis, o valor da vida de todos os cidadãos colocado acima dos valores da economia, pública e privada. E reduziu o impacto internacional da pandemia.
Comparemos o número de infeções na China por 1 milhão de habitantes, com outros países: China, 157. Logo a seguir estão o Irão, com 84.025; o Canadá, 102.263; a Rússia, 126.106; a Turquia, 175.139…dois lugares acima surgem os EUA, com 265.180; a Espanha, 271.033; a Itália, 302.463; a Irlanda, 314.521; a Alemanha, 329.376, e Portugal 505.133.
Comparemos os 5.200 mortos na China, com os 1.040.805 nos Estados Unidos da América; 524.999, na Índia; 670.459, no Brasil; 149.317, na França; 140.734, na Alemanha; 179.927, no Reino Unido; 380.892, na Rússia, e 168.102, na Itália.
E se observarmos o rácio de falecidos por 1 milhão de habitantes, então a diferença é abissal: a China registrou 4 mortos por 1 milhão, logo a seguir a Noruega, com 596; a Alemanha é o décimo país, com 1.669 por 1 milhão; a França pior, com 2.278; Portugal, 2.369; Reino Unido, 2.623, e os EUA, 3.108.
A partir de fevereiro de 2022, com a chegada de novas variantes do vírus, importadas do exterior, depois do alívio geral das medidas iniciais de confinamentos, a China teve de enfrentar vários surtos localizados, conseguindo controlá-los e diminuindo progressivamente o seu impacto e morbilidade. A OMS validou sempre estes dados, mas a sua direção nunca deixou de estar sob a pressão dos governos ocidentais que têm a consciência pesada. São valores que nunca podem perder de vista a dimensão populacional da China.
Com uma população de 1.400 milhões de habitantes, a China administrou quase 3,4 biliões de doses de vacinas, com uma taxa de vacinação superior a 90% e forneceu mais de 2 biliões para todo o mundo. A China desenvolveu 13 vacinas contra a Covid-19, usando cinco tecnologias diferentes: vacina inativada, de vetores virais, de proteína recombinante, de influenza viva e atenuada e de ácido nucleico. Criou uma vacina inalável e outra em spray nasal.
Melhorar a vacinação e proteção dos idosos
Em 13 de dezembro de 2022, 228,6 milhões de pessoas com mais de 60 anos na China estavam totalmente vacinadas (86,6%), com duas doses e reforço, assim como 23,76 milhões com mais de 80 anos (66,4%). Cerca de 25 milhões de pessoas com mais de 60 anos ainda não receberam as vacinas, são cidadãos muito idosos que têm reservas e preconceitos sobre a vacinação. A Comissão Nacional de Saúde determinou que os casos graves entre idosos sejam levados diretamente aos hospitais de 3º nível, os mais avançados. Mas a proteção dos idosos, conforme concluíram diversos trabalhos científicos, publicados na revista Lancet, assenta sobretudo nos valores morais da solidariedade entre gerações que prevalecem na sociedade e na governação da China e estão a desaparecer nas democracias liberais: a China tem mais de 260 milhões de idosos, mas a família, os vizinhos e o estado socialista toma-os ao seu cuidado e só os institucionaliza quando as suas condições de saúde se tornam demasiado precárias. As equipas de saúde visitam os idosos, e multiplicaram-se as unidades de saúde de proximidade. Na Europa, os Lares foram um dos focos mais mortais de propagação da pandemia e o número de idosos institucionalizados precocemente e solitários, sobe em flexa a vários dígitos.
A China planeou a transição para um regime mais aberto durante os últimos anos, em parceria com a OMS e em conformidade com os avanços científicos no combate à doença, ouvindo as pessoas, ajustando medidas, corrigindo práticas rígidas e desadequadas, onde as autoridades e as comunidades as detetavam.
Porque decidiu a China criar um novo programa de prevenção e controle do Covid-19? A doença pode agora ser tratada como uma infecção de Classe B, em vez de uma infecção de Classe A. A vacinação generalizada e reforçada com novas doses e o surgimento de medicamentos de eficácia comprovada, alteraram a capacidade da população para se proteger autonomamente e superar a doença, e a sua perigosidade e morbilidade.
Acresce que o próprio Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), a agência de saúde pública da União Europeia para as doenças infeciosas, afirma agora que “as variantes que circulam na China já estão a circular na UE e, como tal, não são um desafio para a resposta imune dos cidadãos da UE/EEE. Além disso, os cidadãos da UE/EEE têm níveis relativamente altos de imunização e vacinação”.
Usemos a razão para questionar as notícias falsas, e a memória histórica para reconhecer o contributo da China para descodificar o genoma do novo vírus e partilhar com a OMS, e o mundo, as vacinas e todo o saber científico e técnico que a sua nação investigou e produziu.
Quais são os objetivos da sua política atual? Proteger a vida e a saúde dos povos, controlar a propagação do vírus, identificado como algumas das variantes da Ómicron, importadas pela China de outros países. Reduzir a pandemia, com os novos métodos, à perigosidade de uma infeção respiratória, conquistar a imunidade natural de grupo sem a dor e o luto de milhões de seres humanos.