Por um futuro compartilhado na cultura
Fonte: CMG Published: 2022-11-11 09:54:14

* Discurso feito por Hélio de Mendonça Rocha no painel online “A China na nova jornada e o mundo” promivido pelo Grupo da Mídia da China.

O multilateralismo é a palavra de ordem para todos os países que estão fora do eixo imperialista que dominou as relações culturais e econômicas internacionais no último século, bem como neste primeiro quarto de século XXI.

A construção de um futuro compartilhado para o transcorrer da nossa era requer esforços de união e cooperação dos países ditos da “periferia do capitalismo”, a fim de criar novas relações diplomáticas e comerciais, garantindo um futuro para as relações globais em que as nações dividam espaço e papéis econômicos em relação de maior equidade, comparada à que encontramos hoje no mundo.

Se, por um lado, fica clara a necessidade de melhor ponderação entre as trocas comerciais e acordos internacionais em assuntos políticos estratégicos, ainda vejo carência nesse debate no que diz respeito ao campo da cultura.

Este, como podemos observar facilmente, é fundamental para que um país se faça presente no imaginário de outros povos, e assim angarie simpatia para as suas causas e reivindicações entre as pessoas que consomem cultura no mundo inteiro. Esse campo interseccional, que envolve economia e, inclusive, política, foi muito bem instrumentalizado pelo cinema norte-americano durante todo o século XX, em que muitas agendas americanas foram impostas no imaginário popular, sem que se desse voz a outras visões igualmente legítimas. Exemplo: quem libertou a Alemanha do nazismo? Os filmes contam que foram os Estados Unidos, e 90% das pessoas irão replica-lo, mas conta a história que foi a União Soviética.

Conosco, não é diferente. Nossos países, China e Brasil, ainda são carentes em verem as suas agendas culturais ganharem o mundo, o que é uma barreira para o crescimento econômico e político desses países, rumo a um futuro compartilhado e multilateral. Os esforços por uma cultura em que a China e o mundo tenham conhecimento da primazia da invenção do avião pelo brasileiro Santos Dumont, ou que a criação do arroz híbrido por Yuan Longping seja uma conquista para a alimentação mundial mais importante do que a criação do McDonald’s, por exemplo, são tão importantes quanto o rompimento de barreiras comerciais e o melhor fluxo de investimentos, capitais e projetos de infraestrutura. A simpatia e o conhecimento mútuo entre as culturas dos países é a porta de entrada para os acordos econômicos, como já nos ensinou o cinema americano.

Esse é o desafio, principalmente entre Brasil e China. O principal ativo cultural brasileiro no mundo, o futebol, ainda é pouco conhecido na China, em que sequer a modalidade está entre as mais populares do país. E a China, embora seja a grande parceira econômica do Brasil, ainda não exporta cultura como seus vizinhos, com games, músicas pop e desenhos animados, restando sobre a China uma noção distorcida e preconceituosa do que é comunismo, estancada no século XX.

O 20º Congresso do Partido Comunista Chinês busca ratificar, cada vez mais, a realidade de um regime comunista tolerante, amigo, que busca difundir não um regime de organização social e ideológica, mas um conjunto de relações econômicas e internacionais que provenham mais equidade nas relações capital-trabalho em todo mundo, respeitadas as estruturas internas e culturas de cada país.

Tendo isso em vista, é preciso, urgentemente, partirmos ao imaginário cultural. Ele é a porta de entrada para esse projeto no coração das pessoas, assim como, para o Brasil, de seu projeto de um mundo mais sustentável, sem fome, forte combatente das injustiças sociais de classe, raça, gênero, religião, dentre outras, que volta a nascer com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.