Com eleição de Luiz Inácio Lula da Silva e saída de Jair Bolsonaro, política internacional brasileira priorizará Brics e Mercosul
Por Hélio de Mendonça Rocha, Articulista e repórter de política internacional
No último dia 30 de outubro de 2022, o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva venceu as eleições presidenciais e conquistou seu retorno ao Palácio do Planalto, sede do Governo Federal, para um terceiro mandato. Finalizadas as eleições nacionais, o país entra num novo momento histórico, com a derrota do atual presidente Jair Messias Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), e a vitória de Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT). A transição ocorrerá até janeiro, com a formação de dois gabinetes, um do atual estafe, outro de equipe indicada pela chapa vencedora das eleições 2022. Com isso, inicia-se uma série de mudanças nas diretrizes de governo, para que, de forma suave e ordenada, escolha-se pela continuidade ou pela troca de diversas políticas públicas do atual para o próximo mandato.
Diferentemente do que ocorreu em outras transições, como em 2002, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), transferiu o poder para o primeiro dos dois mandatos de Lula sob o signo da continuidade, a atual mudança deve ser de muitos redirecionamentos, conforme anunciado por Lula durante a campanha eleitoral. Em seu terceiro mandato, o presidente eleito indica que trabalhará pelo fortalecimento do Estado, com uso estratégico das empresas e bancos estatais como fomentador da economia, além de planos governamentais para a redução da pobreza.
Durante o governo de duas décadas atrás, Lula foi um dos mandatários com maior índice de aprovação no mundo, referendado por 87% do país, segundo o Ibope, que foi um dos mais respeitados institutos de pesquisa brasileiros. Isso se deveu, sobretudo, ao seu sucesso na política de combate à miséria, com a retirada de 40 milhões de brasileiros da linha da pobreza, e a implantação de uma política de relações internacionais que redirecionou os interesses da diplomacia brasileira, deixando o guarda-chuva dos Estados Unidos e da Europa, e abrindo novas fronteiras para o país, como a Rússia, os países árabes e africanos, a Índia e a China. Por esta razão, é natural que essas nações se beneficiem das diretrizes do próximo governo para o Itamaraty, como é chamado o órgão que representa a chancelaria brasileira.
Segundo o que vem sendo demonstrado por Lula em seus discursos, bem como os apontamentos do Partido dos Trabalhadores para relações internacionais, o foco de seu mandato será pelo multilateralismo, mantendo diálogo e cooperação com os Estados Unidos, União Europeia, os países do Mercosul (Argentina, Paraguai, Uruguai) e os chamados Brics, grupo de grandes emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Neste aspecto, portanto, rompe-se a doutrina de alinhamento integral à política externa americana, adotada por Bolsonaro, principalmente quando atuava em parceria com o ex-mandatário estadunidense Donald Trump.
Como Bolsonaro vinha isolado internacionalmente, graças à rejeição das lideranças mundiais ante suas formas de lidar com a pandemia e o desmatamento da Amazônia, entre outros problemas, a troca de poder deve dar mais saúde a velhos laços brasileiros. Lula, que visitou a República Popular da China pela primeira vez em 2004, estabeleceu diversos contratos ao longo de seus dois mandatos, além de ter criado o Brics. Treze anos depois, o grupo, que ganhou a parceria da África do Sul, tornou-se o principal acordo entre países independente das grandes potências. Com o retorno de Lula, a tendência é de que ele se fortaleça.
“O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados. É preciso reconstruir a própria alma deste país”, disse Lula, em seu primeiro discurso como presidente eleito. “Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo. Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro”.
Um dia após a vitória, o brasileiro recebeu congratulações e reconhecimento de centenas de chefes de Estado pelo mundo, entre eles o presidente chinês, Xi Jinping, coincidentemente também recém-eleito como novo secretário-geral do Partido Comunista da China. Em sua mensagem, segundo a agência Xinhua, Xi Jinping destacou que “tanto a China como o Brasil são principais países em desenvolvimento e importantes nações emergentes, e compartilham amplos interesses e responsabilidades comuns”. A Xinhua também informou que, “observando que a China e o Brasil gozam de amizade de longo prazo, Xi Jinping disse que aprofundar a cooperação mutuamente benéfica serve aos interesses fundamentais dos dois países e de seus povos, e é conducente à manutenção da paz e estabilidade regionais e mundiais e à promoção do desenvolvimento e prosperidade comuns”.