Por José Nelson Bessa Maia, economista e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países Lusófonos e China-América Latina.
A Feira Internacional de Comércio de Serviços da China (CIFTIS) 2022 foi aberta em Beijing no dia 31 de agosto e será encerrada no dia 5 de setembro. Mais uma oportunidade para empresas e investidores de todo o mundo conhecerem os notáveis avanços e inovações da China nesse promissor campo dos serviços digitais. A edição deste ano, incluiu uma cúpula global de comércio de serviços, exposições, fóruns, lançamentos de novos produtos e tecnologias, rodadas de negócios, bem como outras atividades.
Conforme afirmou o presidente Xi Jinping aos participantes do evento, a China está comprometida neste momento em promover o desenvolvimento de alta qualidade por meio do acesso ao mercado no setor de serviços, facilitar a abertura no comércio de serviços para outros países, expandir as plataformas digitais e buscar estabelecer um sistema de abertura de alto padrão para o setor.1
A China é hoje a segunda maior economia digital do mundo e ocupa a posição de liderança em várias aplicações, incluindo no comércio eletrônico, pagamentos por meios digitais e investimentos em tecnologias digitais. O valor da economia digital da China atingiu US$ 7,1 trilhões em 2021, de acordo com um livro branco sobre a economia digital global publicado pela Academia de Tecnologia da Informação e Comunicação da China. Com isso, a China responde por mais de 18% do valor total acumulado por 47 dos principais países incluídos no livro branco, ocupando o segundo lugar depois dos EUA.2
O domínio da China na infraestrutura 5G apoia fortemente a economia digital do país e dá aos empreendedores chineses uma vantagem no desenvolvimento de novos aplicativos. A economia digital da China e a importância dos dados e serviços eletrônicos também se combinam com sua atividade manufatureira e reforçam a centralidade da China nas cadeias globais de valor (GVC), proporcionando, assim, um enorme espaço para suas empresas exportarem serviços digitais como insumos incorporados em produtos manufaturados.3
Nos últimos anos, a economia digital da China se desenvolveu rapidamente e se tornou uma das alavancas no planejamento do seu desenvolvimento. O livro branco mostra que, de 2012 a 2021, a taxa média de crescimento da economia digital da China foi de 15,9% e a participação do valor do estoque da economia digital no PIB do país aumentou de 20,9% para 39,8%. Dado esse dinamismo, em janeiro de 2022, o Conselho de Estado chinês anunciou um novo plano para o desenvolvimento da economia digital do país, com o objetivo de aumentar a participação do valor adicionado anual deste setor no PIB, passando de 7,8% em 2020 para 10% em 2025, impulsionando tecnologias como 6G e a construção de grandes centros de dados. A transformação digital das indústrias atingirá um novo nível na China, uma vez que os serviços digitais de utilidade pública se tornarão mais inclusivos e o sistema de governança da economia digital melhorará visivelmente.3
Durante a pandemia de Covid-19, a economia digital ganhou em todo o mundo um tremendo impulso contra a paralisia imposta pelas medidas de contenção do contágio da doença, fazendo com que os governos e empresas percebessem a urgência e a necessidade de desenvolver seus setores digitais. Vários países e organismos internacionais buscam agora facilitar a transformação digital, tomando iniciativas para expandir os setores digitais, investir em infraestrutura digital, adotar plataformas de governo eletrônico e lançar parques tecnológicos e incubadoras de empresas.4
No esforço de avançar na digitalização dos serviços, a China não apenas tornou a economia digital uma pedra angular de seu próprio futuro, mas também introduziu várias ações para atingir esse objetivo no plano mais global da cooperação internacional, a exemplo da Rota da Seda Digital (DSR) e da iniciativa Construindo Conjuntamente uma Comunidade Digital com um Futuro Compartilhado. Por meio da DSR, um componente do Cinturão e Rota (BRI), por exemplo, a China, pela liderança que ocupa em inovação tecnológica e pela solidariedade internacional que exercita em suas relações exteriores, tem ajudado a impulsionar o desenvolvimento digital em escala regional e global.5
Assim empresas chinesas contribuem para expandir a construção de infraestrutura em vários países, na Ásia e na África, de modo a facilitar a coleta, transporte, armazenamento e processamento de grandes quantidades de dados nos países parceiros.6 Essa infraestrutura inclui plataformas de comércio eletrônico, sistemas de pagamento móvel, data centers inteligentes, redes 5G, cabos submarinos, satélites, armazenamento em nuvem, cidades inteligentes e inteligência artificial. Nenhum outro país do mundo tem feito tanto em termos de cooperação internacional e parceria no campo da economia digital.
A economia digital não está apenas mudando a face da economia chinesa, mas também gerando oportunidades de negócios para empresas nacionais e estrangeiras. O grande mercado interno chinês dispõe de economias de escala que permitem a rápida comercialização de novas tecnologias digitais. Respondendo por mais de 40% do valor das transações mundiais, a China tem o maior mercado de comércio eletrônico do mundo. O tamanho da base de usuários de internet chinesa incentiva a experimentação contínua e permite que os atores digitais alcancem economias de escala rapidamente.7
Em suma, a força do consumo de serviços digitais da China vai além das vantagens de escala, uma vez que atualmente, quase todos os aspectos da vida cotidiana das pessoas são inseparáveis da tecnologia digital, incluindo educação, saúde, serviços de informação, entretenimento, finanças e comércio eletrônico. Oportunidades de negócios ainda existem para provedores de soluções tecnológicas estrangeiras em especial em áreas como transformação digital industrial, prestação de serviços, soluções para desenvolvimento sustentável e produtos de consumo, dentre outros. As empresas estrangeiras interessadas em investir no mercado chinês podem dessa forma vir a explorar serviços novos e inovadores que podem ser incorporados ao ecossistema digital existente.
Referências:
1 - Xi envia carta de congratulações à feira internacional de comércio de serviços da China. Agência Xinhua, 31/08/2022. Disponível em <http://portuguese.xinhuanet.com/20220831/a68977795cab4176baa2bd1c0a5ac9b8/c.html >.
2 - China's digital economy hits $7.1t: white paper. China Daily, 30/07/2022, Disponível em: <http://www.chinadaily.com.cn/a/202207/30/WS62e4ef9ca310fd2b29e6f520.html#:~:text=Digital%20>.
3 - Joshua P. Meltzer. China’s digital services trade and data governance: How should the United States respond? Brookings, October 2020. Disponível em <https://www.brookings.edu/articles/chinas-digital-services-trade-and-data-governance-how-should-the-united-states-respond/>.
4 - China divulga plano para impulsionar economia digital entre 2021 e 2025, Rádio China Internacional – CRI, 13/01/2022, disponível em < https://portuguese.cri.cn/news/china/407/20220113/728435.html>.
5 - Mordechai Chaziza. China-GCC Digital Economic Cooperation in the Age of Strategic Rivalry, 07/06/2022, disponível em <https://www.mei.edu/publications/china-gcc-digital-economic-cooperation-age-strategic-rivalry>.
6 - China vs the US: The battle for digital supremacy in Africa. Mail Guardian, 22/07/2022. Disponível em <https://mg.co.za/special-reports/2022-07-22-china-vs-the-us-the-battle-for-digital-supremacy-in-africa/ >.
7 - Yi Wu. Understanding China’s Digital Economy: Policies, Opportunities, and Challenges, China Briefing, 11/08/2022, disponível em < https://www.china-briefing.com/news/understanding-chinas-digital-economy-policies-opportunities-and-challenges/>.