O conselheiro cultural da Embaixada da China no Brasil, Shu Jianping, concedeu a seguinte entrevista ao correspondente da Rádio Internacional da China.
CRI - Sabemos que o senhor trabalha muitos anos na área de cultura, especialmente no intercâmbio cultural entre a China e o Brasil, então, como é a sua carreira neste aspeto?
Shu - Eu, na realidade, comecei a trabalhar no Brasil na década de 80, o meu primeiro mandato no Brasil foi entre 1986 e 1989. Depois, voltei ao Brasil na dêcada de 90, passei um tempo curto, e há três anos, estou aqui mais uma vez como conselheiro de assuntos culturais. Adoro o Brasil, até comento para os meus amigos que na minha veia corre o sangue do elemento cultural do Brasil e acho-o como a minha segunda terra natal.
CRI - O seu primeiro mandato é na década de 80. Pode apresentar-nos como era a situação de intercâmbio cultural entre a China e o Brasil?
Shu - Acho que as coisas mudaram muito desde o meu primeiro mandato na decada de 80 até o dia de hoje. Naquela altura, a China era menos conhecida, diriamos que hoje a China também não é muito conhecida, mas naquela altura, as pessoas confundem toda a hora a China com outros países da Ásia, e nós, chineses, somos assim reconhecidos como japoneses. A China é praticamente desconhecida e os brasileiros desconhecem por completo a cultura da China e o povo. Mas acho que hoje em dia, a situação já mudou completamente, todo o mundo quer saber da China e as pessoas já conhecem muito sobre a China e sobre a cultura chinesa. Neste sentido, a Embaixada chinesa no Brasil desempenha um papel fundamental. Estamos trazendo muitos eventos e atividades culturais da China, não só para o Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, mas diversos lugares do território brasileiro, do Norte até o Sul. E acho que pouco a pouco, os brasileiros vão conhecer cada vez melhor a China.
CRI - O conselheiro pode nos dar alguns exemplos de eventos culturais organizados pela Embaixada e como são os efeitos conseguidos?
Shu - Temos organizado alguns eventos importantes. Em 2003, por exemplo, organizamos no Parque Ibirapuera de São Paulo, a exposição sobre os guerreiros de terracota e o tesouro do Palácio Imperial da China. Mais de 800 mil pessoas visitaram a exposição, e as pessoas até ficaram sete horas na fila para ver a exposição. Eu diria que essa foi o maior acontecimento cultural da China no Brasil. E depois, nos anos seguintes, também realizamos alguns eventos culturais em São Paulo, Rio e Brasília, trouxemos exposições importantes e grupos artisticos, como grupo do Templo de Shaolin, companhia de dança moderna de Beijing, companhia de canto e dança tradicionais de Sichuan, e alguns grupos artísticos chineses participaram dos diversos festivais no Rio Grande do Sul, no interior de São Paulo e no interior de Minas. Este ano, organizamos um grande evento em Ouro Preto. Trata-se do evento cultural mais importante que temos organizado em Minas com duas exposições interessantes, uma sobre arte popular da região de guerreiros de terracota e outra sobre a evolução da escrita chinesa. Além disso, apresentamos ao público brasileiro dois artistas e sua arte de teatro de sombra, e eles foram muito bem aplaudidos, por exemplo, depois de apresentação de vinte minutos, o público aplaudiu de pé. Isto quer dizer que a arte chinesa é bem recebida pelo público brasileiro, só que muitas vezes, essa arte não está chegando com tanta frequência ao Brasil. O programa cultural que se realizou no Ouro Preto, contou com a presença de vários diretores, atores e atrizes chineses de filme de grande renome além de passar filmes chineses de grande sucesso. No Rio de Janeiro, foi realizado um evento "Focus na China" no âmbito do Festival do Rio de Cinema. É a primeira vez que o festival do Rio organiza uma unidade sobre a China, e passando 21 filmes chineses, através do qual o público brasileiro obtem uma idéia geral sobre o cinema chinês. Acho que esses acontecimentos culturais ajudam muito aos brasileiros a conhecer melhor a China e a sua cultura.
CRI ? Segundo sua apresentação, o intercâmbio cultural entre a China e o Brasil tem obtido êxitos ou resultados positivos. Mas para algumas pessoas, o comércio entre os dois países vem desenvolvendo muito rápido, o que o intercâmbio cultural não está acompanhado. Quais são seus comentários a este respeito?
Shu - Podemos dizer que o intercâmbio cultural não está acompanhando o ritmo da expansão dos intercâmbios comerciais e dos laços políticos. Existem dois motivos, acho eu, que possibilitam o fenômeno, por um lado, a grande distância geográfica que separa os dois países, e por outro, os programas de intercâmbio cultural implicam no investimento financeiro. Mas nós temos que ter essa consciência de que o intercâmbio cultural não gera diretamente o dinheiro, mas é um investimento para o futuro. Só com o conhecimento mútuo, os empresários vão ter mais interesse em investir no outro país. Acho que, com um pouco mais de conhecimento, ambas as partes poderão conhecer melhor o mercado cultural um do outro, e acho que já temos obtido alguns resultados nesse sentido.
CRI - Para finalizar a nossa entrevista, poderia enviar uma mensagem para os nossos ouvintes brasileiros?
Shu - Acho que o Brasil é um país muito interessante e o povo chinês tem a simpatia natural pelo povo brasileiro. Uma coisa muito interessante, eu diria, depois da última Copa Mundial de Futebol femenino, a Embaixada brasileira em Beijing colocou uma faixa na fachada do edifício da Embaixada, agradecendo o apoio e a simpatia dos torcedores chineses à seleção brasileira. Isso quer dizer que o futebol brasileiro tem muitos fans na China. Mas isso não só acontece com o futebol, o povo chinês nutre grande interesse pela cultura brasileira.
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