O tradicional Festival de Cinema de Veneza concedeu na sua 63ª cerimônia de premiação o Leão de Ouro (ao melhor longa-metragem) ao filme chinês "Sanxia haoren" ("Still Life"), dirigido por Jia Zhangke.
"Sanxia haoren" é ambientado na velha aldeia chinesa de Fengjie, que submergiu durante a construção da gigantesca hidrelétrica "Sanxia" (Três Gargantas). A produção narra a história de um mineiro chinês que chega à aldeia em busca da sua ex-mulher para voltar a se casar e de uma enfermeira que vem ao local para recuperar seu marido.
A atriz francesa, Catherine Deneuve, que presidiu o júri do Festival, explicou em entrevista coletiva que o filme chinês, "com bela fotografia e excelente qualidade da história, surpreendeu o júri".
Nascido num pequeno distrito da província de Shanxi, no Centro do país, Jia Zhangke se formou em Cinema pela Academia de Beijing. Iniciou sua carreira em 1996 como produtor independente e já acumula cinco longas, três dos quais ? "Cais" (2000), "Mundo" (2004) e "Sanxia haoren" (2006) ? entraram na mostra competitiva do Festival de Veneza, o mais antigo do mundo.
A maior parte dos filmes de Jia Zhangke aborda a China atual por meio de histórias de chineses comuns. Sua primeira longa, "Xiaowu" (1998), por exemplo, descreve de forma realista a vida de jovens procedentes da sua terra natal e acabou ganhando o Wolfgang Staudte Award no 48º Festival de Berlim. O Cahier du Cinema, da França, qualificou o filme como "uma produção que marca a renascença do cinema chinês". Seus elencos, muitas vezes, são formados por atores amadores. Em "Sanxia haoren", o protagonista, Han Sanming, que dá vida ao mineiro, trabalhava como mineiro em Shanxi. Ouça o que Jia Zhangke falou:
"Prefiro cinema interpretado de forma natural e realista. Para alcançar o objetivo, o estilo dos atores é essencial. Selecionei atores amadores para interpretar os papéis com os quais se familiarizam".
"O Mundo", que narra a história de um grupo de trabalhadores imigrantes em Beijing, justificou mais uma vez o talento e a perspicácia de Jia Zhangke como um diretor cinematográfico. Para Jia, ele próprio faz parte do enorme contingente de imigrantes na capital, motivo por que decidiu se empenhar em produzir o filme.
"A aceleração da industrialização de Beijing e sua eleição para a cidade sede dos Jogos Olímpicos 2008 amplificaram a migração. Eu, de fato, também sou membro do grupo. Eu tentei explicar no meu filme tudo aquilo que este grupo de pessoas enfrenta na cidade ? suas pressões, angústias, esperanças e dores".
Jia Zhangke entrou para a lista da "sexta geração dos diretores chineses". Para ele, o caminho não foi fácil. Por um lado, lutou para persistir no seu entendimento pela arte do cinema. Por outro lado, enfrentou o desafio provocado pelo resultado da bilheteria. Ouça seu depoimento.
"A observação individual sobre a sociedade e as pessoas que a compõem pesam muito nas minhas produções. Para mim, as experiências e memórias individuais são importantíssimas".
Segundo Memento Films, empresa francesa responsável pela distribuição de "Sanxia haoren", os direitos autorais do filme já foram vendidos em 25 países.
Jia Zhangke é o segundo diretor do continente chinês a ganhar o Leão de Ouro de Veneza, após seu colega Zhang Yimou, que venceu em 1999 com "No One Less".
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