Beijing 2022: equilíbrio ambiental deixa desafio às edições futuras
Há duas décadas já nos acostumamos a celebrar as Olimpíadas não a cada quatro anos, mas a cada dois. A popularização dos Jogos Olímpicos de Inverno, antes restritos ao clube dos países frios e montanhosos, tornou-se uma realidade, com as transmissões de TV a cabo e, em seguida, os vídeos na internet. Hoje, mesmo as redes de TV aberta e jornais dos países da América Latina, África, Sudeste Asiático e Oceania, incluem as Olimpíadas de Inverno na sua grade de transmissão.
Por isso, a China aproveitou o seu papel de sede do evento de 2022, com Beijing, para transformá-lo numa oportunidade de, além de promover o encontro das culturas através do esporte, também discutir uma questão fundamental para a humanidade: a preservação do meio ambiente. Beijing 2022 foi a primeira edição dos Jogos a trabalhar, desde a organização, com o objetivo da emissão zero de carbono, chegando bem perto do objetivo, por meio de estratégias bem executadas ao longo de sete anos. A maioria passou por reaproveitamento de estruturas e uso de energias limpas.
Foram 119 ações em três áreas específicas: impacto ambiental positivo, desenvolvimento regional e melhorias dos índices sociais.
Beijing já havia sediado os Jogos, com as Olimpíadas de Verão de 2008, que tinha sido um sucesso e instituído um novo padrão para realização de eventos, naquela vez com a eficácia no cumprimento de prazos e provimento de logística e estruturas modernas e esteticamente arrojadas, como o estádio Ninho do Pássaro e o centro de esportes Cubo d’Água. Por isso, para cumprir com os ganhos ambientais propostos, Beijing 2022 aproveitou diversas praças de 2008, atualizando-as para as exigências de segurança, conforto, conectividade e sustentabilidade desta década, com uso extensivo das inteligências artificiais em 5G.
Desta forma, o Ninho do Pássaro permaneceu a sede das cerimônias de Abertura e Encerramento, e o Cubo d’Água passou a se chamar Cubo de Gelo, para receber as provas do curling, o curioso esporte em que um atleta desliza uma pedra no gelo, enquanto os colegas limpam o caminho com uma vassourinha. O ginásio de basquete, por sua vez, deu lugar às competições de hóquei sobre o gelo. Para as provas de esqui Alpino, foram recuperados 3,5 mil metros quadrados de vegetação original.
Além da zona urbana de Beijing, os Jogos também serão abrigados no distrito de Yanqing e na cidade de Zhangjiakou, província de Hebei, para as competições de montanha. E, para a construção de todas essas estruturas, foram utilizadas fontes de energia limpas, como eólica e solar. Além disso, 100% da energia das praças esportivas vem de energia limpa. Mais de 80% dos transportes utilizados pelos organizadores, tanto para a elevação dos parques esportivos, quanto para a logística durante o evento, foram executados por automóveis e ônibus com energia verde, ou seja, elétricos ou híbridos.
O principal resultado ambiental é a redução de carbono em 320 mil toneladas, comparados às mesmas obras, se feitas sem as medidas adotadas pela organização. Isso equivale à média de CO2 absorvida por 32 milhões de árvores num ano.
Assim cumprindo o seu primeiro objetivo, o desenvolvimento social e a melhoria da qualidade de vida local foram alcançados, inicialmente, pela própria melhoria da infraestrutura e das emissões de carbono, um problema que a China combate há alguns anos. Além dos empregos gerados, entretenimento, intercâmbio cultural e promoção da prática do esporte em nível pessoal e profissional, que se convertem em ganhos reais para a classe trabalhadora chinesa.
Segundo o diretor do Departamento de Planejamento Geral do Comitê Organizador Olímpico, Li Sen, longo de seis anos, reduziu-se ao máximo possível as emissões de carbono no estádio, transporte e escritório, e foram adotadas medidas compensatórias como o sequestro de carbono florestal e a doação empresarial. Sobre o reflorestamento em Yanqing, ele afirma. “Já na primavera, você pode ver o gramado verde e flores coloridas, que compõem uma pintura harmoniosa junto com as instalações olímpicas.”
O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, assinalou que “ações como a redução das emissões de gases do efeito estufa são muito eficazes e diversificadas”. Ele está satisfeito que, além de ajudar as Olimpíadas a realizar a neutralidade de carbono, as instalações também usarão mais energia renovável.
O caso de Beijing 2022, assim como já fora em 2008, é fundamental para entendermos o futuro dos Jogos Olímpicos. Em sendo um evento caro e muito visado por empreiteiras, patrocinadores e Governos como forma de geração de lucro e publicidade, as Olimpíadas não podem existir sem a integração com a sociedade. Isso pode acontecer por meio de seu objetivo direto, a promoção do esporte, mas também pela preservação do meio ambiente, integração cultural da comunidade e melhorias concretas para a vida das pessoas.
Um paralelo com a Rio 2016 é necessário. Embora a organização da edição brasileira tenha promovido ganhos na revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro e na criação de novos modais de transporte, como os ônibus expressos e os veículos leves sobre trilhos (VLTs), ela é criticada por ter falhado em outras frentes necessárias, como a ambiental. A despoluição da Baía de Guanabara não se tornou uma realidade, e o Parque Olímpico de Jacarepaguá foi abandonado.
Como uma das principais nações emergentes do mundo, cedo ou tarde o Brasil voltará a sediar grandes eventos, como a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas de Verão. Igualmente, Argentina e Chile podem vir a receber os Jogos de Inverno. Sendo assim, o exemplo de planejamento e execução da China, que se estende às edições também orientais de Pyeongchang 2018 (Inverno), na Coréia do Sul, e Tóquio 2020, serve ao Brasil e à América Latina como exemplo de sucesso num aspecto fundamental para o crescimento de um país: a entrada no mercado do intercâmbio cultural, esporte e entretenimento.
Autor: Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional