As “Duas Sessões” e a China no século XXI

As “Duas Sessões” e a China no século XXI

Severino Cabral

Nesta primeira semana de março de 2018 a atenção mundial deverá estar voltada para um grande acontecimento: a realização das “Duas Sessões”: 13º Assembleia Nacional Popular-ANP e 13º Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês-CCPPCH. No Grande Palácio do Povo, em Beijing, 2.980 representantes discutirão e deliberarão sobre os rumos da China, o modelo de desenvolvimento chinês e o “Socialismo com Características Chinesas para a Nova Era”.

A reunião desse ano parece estar mais densamente abastecida de temas que desafiam os dirigentes e o povo chinês, pois estamos quase ao ponto de chegarmos à comemoração do primeiro centenário de fundação do PCCH. Portanto, urgem os esforços chineses para conquistar, em tempo, o cumprimento da meta de concluir a construção integral de uma sociedade moderadamente próspera.

Esse acontecimento ocorre em um momento de grandes mudanças na conjuntura internacional, que apresenta um horizonte de desafios e oportunidades à China, bem assim ao conjunto da Comunidade Internacional.

Os últimos cinco anos assistiram a uma transição na etapa econômica, social e cultural do desenvolvimento da China no enfrentamento da crise financeira global com impacto considerável nas macrotendências que configuram o sistema internacional contemporâneo. Desde uma visão ampla, a descortinar o horizonte, podemos visualizar o fenômeno da globalização como um fator de mudança e desestabilização que afeta a todas as economias e, logo, a todas as nações, promovendo os empreendimentos maiores e favorecendo os grandes espaços continentais. Desse modo, como se pode deduzir, o fato da China contar com grande espaço e grande população a favorece de modo a torná-la uma das bases econômicas do mundo.

Tema de grande complexidade teórica e prática, ele tem sido abordado pelo Presidente Xi Jinping em vários textos sobre a natureza do desenvolvimento econômico atual: a passagem para uma nova fase de desenvolvimento, que não seja desequilibrado e insuficiente, mas sim voltado mais para a qualidade e eficiência do que para a quantidade e a escala; ela está relacionada ainda ao aprofundamento não só da reforma e abertura, mas também da resposta ao problema teórico crucial da reforma da estrutura “pelo lado da oferta”.

No plano mais geral dos esforços de planejamento de superação dos desequilíbrios internos, os planejadores chineses intentam uma integração harmoniosa das regiões e zonas econômicas do país com o processo de sua interação com a economia mundial. Podemos assinalar neste sentido projetos como a Iniciativa do “Um Cinturão e Uma Rota”, à qual deve ser vinculado o desenvolvimento coordenado da Região Beijing-Tianjin-Hebei (onde está sendo planejada e construída a Nova Área de Xiong´an) e do Cinturão Econômico do Rio Yangtzé. Todos esses projetos visam dar continuidade ao desenvolvimento da China e são certamente decisivos para o desenvolvimento global. Foram desenvolvidos a partir da experiência chinesa e eles são motivo de atenção crescente de todos os países do mundo desenvolvido e em desenvolvimento.

Para o observador internacional essa vasta problemática do desenvolvimento econômico da China deve ser analisada na sua totalidade, o que implica examinar a questão crucial da sua governança. Nesse sentido, dois volumes publicados da “Governança da China” - que compila discursos e intervenções do Presidente Xi Jinping - apresentam as linhas principais da evolução do pensamento atual da liderança chinesa. Neles encontra-se o essencial do projeto de governança da China na etapa da construção integral de uma sociedade modestamente próspera, definida por uma Teoria de um Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era.

Ás vésperas da abertura das “Duas Sessões”, essas e outras questões relativas ao crescimento da economia chinesa e do futuro do sonho chinês de revitalização da nação, serão debatidas pelos representantes de todos os segmentos da sociedade chinesa.