Chineses e Portugueses debatem aprofundamento das Relações Portugal/Europa com a China
O regresso da China à posição de um dos mais importantes países no panorama mundial tem levantado a oposição crescente dos EUA, que tentam envolver outros países numa “guerra fria” contra a China. Apesar da China não impor o seu modelo político às nações com que se relaciona e respeitar as regras da Organização Mundial de Comércio, os EUA usam estes argumentos para tentar impedir a concorrência económica. Os EUA não reconhecem que já estamos num Mundo Multipolar e não querem perder a hegemonia sobre as outras nações. Neste contexto de mudança de paradigma político, a União Europeia tem afirmado o seu interesse em ser mais autónoma e ter um papel mais ativo nos palcos internacionais. A sociedade civil de vários países europeus tem vindo a afirmar o interesse geoestratégico da Europa, sem alienar os seus aliados ocidentais, em aprofundar as relações com a China. Gostaria, assim, de referir duas iniciativas exemplificativas desta perspetiva, em Portugal: uma conferência com a Academia de Ciências Sociais da China, e a criação de uma União de Associações de Cooperação e Amizade Portugal-China.
O Futuro da Cooperação Sino-Portuguesa e Sino-europeia, no âmbito da Nova Rota da Seda, foi o tema discutido na conferência digital realizada no final do passado mês de maio[1]. Esta iniciativa foi organizada pelo Centro de Estudos Chineses do Instituto de Estudos Europeus, da Academia de Ciências Sociais da China, em colaboração com a Academia Sino-Lusófona da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, com a participação do Observatório da China e de alguns outros convidados. Contou com a presença de académicos e de convidados especiais, como os embaixadores dos dois países (Zhao Bentang, Embaixador da República Popular da China em Portugal, e de José Augusto Duarte, Embaixador de Portugal na China), que reafirmaram o interesse comum em aprofundar as relações entre Portugal e a China, nos diversos domínios – institucionais, culturais e económicos. O Presidente do Conselho de Administração do Porto de Sines em Portugal, José Luís Cacho, reafirmou o interesse numa parceria privilegiada com a China, visando investimento no terminal portuário oceânico, para que possa receber os grandes navios da China que atravessam o Canal do Panamá e que, através de outras ligações marítimas e da ligação ferroviária transeuropeia, poderá ser um redistribuidor importante do comércio chinês na Europa. O Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça de Portugal, Júlio Pereira, referiu-se, nomeadamente, ao longo e pacífico relacionamento de Portugal com a China, à adesão de Portugal à Nova Rota da Seda e à cooperação em diferentes áreas económicas e científicas. Destacou, ainda, o papel de Macau no aprofundamento da ligação da China com a Lusofonia, como é o caso do Fórum para a Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, também conhecido como Fórum de Macau.
O Presidente do Observatório da China destacou três desafios globais e incontornáveis da atualidade que, para serem resolvidos com sucesso, necessitam do conhecimento e da colaboração empenhada da China e do Ocidente: a pandemia de Covid-19, o agravamento das alterações climáticas e os movimentos migratórios de emergência.
A evolução da atual pandemia de Covid-19 demonstra a necessidade de maior colaboração dos países mais ricos na distribuição de vacinas nos países mais pobres e periféricos. Só estaremos seguros quando 70% a 80% da Humanidade estiver vacinada, atingindo assim a imunidade de grupo.
As mudanças climáticas provocadas pela ação humana têm colocado em risco a vida do Ser Humano na Terra como a conhecemos. A China tem sido um dos países na vanguarda da descarbonização, com investimento maciço nas energias renováveis e na aceleração da recuperação do meio ambiente.
Os movimentos migratórios para a Europa estão cada vez mais associados ao crescimento da pobreza e da desigualdade. A Europa (e em particular Portugal, pelas suas ligações aos países africanos de língua portuguesa) deveria encarar o estabelecimento de parcerias com a China, com vista ao desenvolvimento económico e social sustentável da África, valorizando o seu potencial humano.
Para promover o intercâmbio económico, político, académico e cultural entre Portugal e a República Popular da China, foi fundada, a 10 de junho de 2021, por sete membros institucionais[2], a União das Associações de Cooperação e Amizade Portugal-China. Esta União defende que Portugal e a China devem concertar posições sobre as principais questões internacionais, no âmbito da Organização das Nações Unidas, da sua carta de princípios e na valorização do G20, designadamente pelo apoio firme ao sistema multilateral de comércio e a promoção de um sistema económico mundial aberto. A União pretende contribuir para um futuro assente nos princípios de coexistência pacífica, igualdade, reciprocidade, respeito e benefício mútuos, assim como da não interferência nos assuntos internos de outros países e ambientalmente sustentável. A União desenvolverá iniciativas que, entre outras, esclareçam o interesse para Portugal (sem esquecer os países de Língua Oficial Portuguesa) da iniciativa do Cinturão e Rota, de aprofundamento da cooperação bilateral no comércio, investimento, energia, infraestruturas e cultura.
Na minha opinião, os desafios globais, com que o mundo se confronta, só podem ser resolvidos através da cooperação entre os países Ocidentais e a China, envolvendo a sociedade civil, com soluções globais sustentáveis e pacíficas.
Por Rui Lourido, presidente do Observatório da China
[1] 25 de maio de 2021, intitulada "A Nova Rota da Seda, Verde entre EU-China (China Portugal) e a Cooperação num Mundo em Mudança”.
[2] Observatório da China, Liga dos chineses em Portugal, Câmara de Cooperação e de Desenvolvimento Portugal-China, Instituto para Cooperação e Desenvolvimento Portugal-Oriente, Centro de Investigação Internacional, Associação de Cooperação Portugal-Grande Baía, Câmara do Comércio Portugal-China PME. A presidência da União será rotativa com a duração de mandato de seis meses, mas terá um Secretariado Geral permanente, que dará continuidade às orientações gerais.