De Yuan Longping a Tianwen-1, uma contribuição para a humanidade
No último dia 22 de maio, a China lamentou a morte de um dos maiores cientistas de sua história. Yuan Longping era agrônomo e criou, na segunda metade do século XX, um tipo de arroz que poderia ser cultivado em diversos tipos de solo, o chamado “arroz híbrido”. Muitos desses lugares eram improdutivos para várias espécies de cereais, e portanto a fome era um problema estrutural, ou seja, não causado pela pobreza, mas pelas características geográficas. Na China e em outros países da Ásia e da África, foram centenas de milhões de beneficiados, que se estendem até hoje, quando o país erradica a pobreza extrema.
Yuan Longping é, ao mesmo tempo, um pé no passado e outro no futuro da ciência chinesa. No país em que a tradição e o futuro se equilibram, o agrônomo deu a solução para uma demanda antiga da ciência chinesa, a segurança alimentar. Agora, sua herança se apresenta como inspiração para os desafios futuros, os quais o país quer resolver não apenas para melhorar suas condições internas e enriquecer, mas para colaborar com as demais nações e construir uma comunidade de futuro compartilhado e harmonioso entre os povos.
Por isso, já no dia 28 de maio o presidente Xi Jinping discursou na abertura de evento que reuniu a 20ª Conferência de Membros da Academia Chinesa de Ciências, a 15ª Conferência de Membros da Academia Chinesa de Engenharia e o 10º Congresso Nacional da Associação Chinesa de Ciência e Tecnologia. O líder chinês exortou os cientistas do país a acelerar os esforços para fazer da China uma das líderes mundiais em ciência e tecnologia. Ele disse que o setor deve buscar as fronteiras do conhecimento, a fim de servir à nação nos principais desafios econômicos, e extrair daí benefícios para a saúde e a prosperidade do povo chinês.
Hoje, a China realiza muitos trabalhos com sucesso, todos com benefícios para a humanidade. O mais conhecido é o desenvolvimento da quinta geração de transmissão de dados virtuais, a chamada 5G, que promete revolucionar a forma como trocamos informações. Desta vez, a troca não é apenas entre pessoas que utilizam um computador ou celular, mas entre o ser humano e suas máquinas, capazes de assimilar e transmitir dados de tal forma que uma pessoa poderá operar os aparelhos domésticos enquanto está na rua, ou um carro poderá, via GPS, orientar-se sem necessidade de motorista.
Embora a 5G já seja uma realidade, algumas dessas funcionalidades estão em fase de pesquisas, mas todas já estão demonstradas em feiras de tecnologia apresentadas frequentemente no país. Em 2019, em Tianjin, o World Intelligence Congress mostrou os veículos orientados exclusivamente por inteligência artificial, capazes de identificar as ruas e a topografia do terreno por sensores e GPS, e saber a movimentação dos demais veículos através de informações fornecidas por eles próprios, com uso de emissores e receptores de 5G instalados.
A China lidera o desenvolvimento do setor, respondendo por 40% da tecnologia verde para transportes. Dispensando a queima de combustíveis fósseis, o país pretende reduzir ao mínimo a emissão de gás carbônico. A fabricação de carros elétricos requer não apenas a produção e venda, mas também a criação de estruturas adequadas para abastecimento e manutenção, no que o país também é líder: até 2019, mais da metade dos postos de recarga de baterias no mundo estava na China.
Por fim, outro exemplo de destaque dos chineses no desenvolvimento tecnológico é a exploração do espaço. Considerada fundamental para o entendimento das condições de surgimento da vida e a segurança do ser humano como espécie, a pesquisa espacial chinesa é hoje uma das mais avançadas do mundo. Além de manter o maior número de cooperações internacionais com países emergentes, inclusive o Brasil, que tem com a China o seu principal programa de lançamento e operação de satélites, a potência asiática também enviou, em 2020, a sua primeira sonda ao planeta marte. A Tianwen-1, como é chamada, chegou a Marte nas últimas semanas e já realiza pesquisas sobre o solo e a atmosfera locais.
Com esses e muitos outros investimentos, que passam por otimização dos alimentos para erradicação da fome, agilidade dos meios de transporte para integração nacional e sistemas de reconhecimento facial para melhoria da segurança por câmeras, os chineses adentram o século XXI com a perspectiva de tornarem-se a maior potência tecnológica do mundo. Entretanto, eles não têm só esse objetivo.
Querem, também, tornar o mundo igualmente produtor de tecnologia, estabelecendo parcerias multilaterais com vários países pobres e emergentes. A finalidade é cumprir com a meta do futuro compartilhado. A China pretende fazer uma contribuição para o mundo.
Autor: Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional