Tibete: Florescimento e desenvolvimento no topo do mundo

Published: 2021-05-27 16:52:24
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A Caminhada histórica da modernização da sociedade tibetana, rumo ao seu desenvolvimento, faz 70 anos em maio de 2021. Contudo, nem sempre é conhecido, do público em geral, que a ligação da etnia tibetana à Han começou na antiguidade. Assim, gostaria de me referir às principais fases históricas – aproximação aos Han numa primeira etapa e posterior integração na estrutura administrativa do estado Chinês.

Segundo a História da Dinastia Han Posterior, que data do início do Século V, os primeiros contatos entre os Faqiang (antepassados do povo tibetano) e os Han teriam sido estabelecidos em 477 a.C.[1]. No século VII, uma aliança de tribos tibetanas deu origem ao Reino de Tubo (633-842), cujo rei Song Tsen Gambo estabeleceu uma aliança com o então imperador da dinastia Tang, através do seu casamento com a princesa Wen Cheng (falecida em 680) da Dinastia Tang. No ano de 821 viria a estabelecer-se uma aliança mais profunda com os Tang. Mas é no século XIII, com a dinastia Yuan (1271-1368), que o Tibete se integrou administrativamente no império chinês e o governo central passou formalmente a exercer jurisdição e a administrar o Tibete (levantou censos, recolheu impostos, estacionou tropas e nomeou funcionários). Também emitiu e promulgou leis e estabeleceu o calendário Yuan no Tibete. O governo central da Dinastia Ming (1368-1644) continuou a política de soberania, reconheceu e legitimou os funcionários tibetanos anteriormente nomeados pela administração chinesa e continuou a dispensar privilégios feudais, políticos e religiosos, aos nobres do Tibete.

O Tibete Ocidental (o senhorio de Guge) foi visitado pelo português António de Andrade em 1624 e em 1625. Este foi o primeiro encontro direto dos europeus com o território e o povo do Tibete. Os relatos de Andrade foram os primeiros a ser publicados, logo no século XVII, sendo amplamente traduzidos em várias línguas europeias. Neste contexto, a importância dos escritos de António de Andrade aumenta, porque o Tibete é considerado parte integrante da China[2].

Durante a Dinastia Qing (1644-1911), o governo central aprofundou e desenvolveu os laços de administração direta e delegada sobre o Tibete. O governo central conferiu os títulos de Dalai Lama e Panchen Erdeni. O governo Qing nomeou mais de cem Grandes Ministros residentes no Tibete para supervisionar os assuntos militares e políticos locais.

O império colonial britânico tentou influenciar uma parte da elite do Tibete, promovendo a sua separação da China, com o objetivo de fragilizar o império chinês, em meados do século XIX, tal como fizeram com a imposição do comércio do Ópio, droga ilegal na China. Com as Guerras do Ópio procedem à ocupação de territórios e à expolição dos recursos da China, durante cerca de 150 anos. As tropas britânicas chegaram a invadir o Tibete duas vezes (em 1888 e 1903) e em 1959 ainda apoiaram rebeliões das forças que não queriam a abolição do sistema de escravatura e servidão (que representavam 95 por cento da população), mas sem sucesso.

Após a queda da Dinastia Qing, a República da China (ROC) continuou a exercer soberania sobre o Tibete. Em 1912, a ROC promulgou a sua primeira constituição - a Constituição Provisória da República da China, onde se reafirma a soberania do governo central sobre o Tibete. Também a Constituição da República Popular da China exerce a sua soberania sobre o Tibete e este é considerado uma das suas cinco regiões autônomas.

Sendo os tibetanos um dos 56 grupos étnicos do Estado Multicultural Chinês, a contínua defesa e promoção da identidade do povo tibetano é travada em várias frentes: a língua tibetana falada e escrita é protegida por lei e utilizada em todos os serviços e instituições privadas e públicas (sem esquecer os tribunais); a liberdade religiosa é cumprida; a literatura clássica tibetana é protegida e ensinada (em 1984, o estado construiu os Arquivos da Região Autônoma do Tibete); a construção de bibliotecas tem sido um elemento fundamental para a defesa da identidade cultural tibetana (5.464 em aldeias e 1.787 em mosteiros). O Tibete mantem 16 periódicos e 12 jornais em língua tibetana. Os serviços culturais são espaços de exercício cívico de formação e lazer, de liberdade e criatividade artística. O Tibete em 2020 tinha 10 trupes de artes cênicas profissionais, 76 trupes de arte em nível de distrito, 153 trupes de ópera tibetana a operar a tempo parcial, 395 equipes de teatro a nível municipal e 5.492 a nível de aldeia administrativa, com mais de 100 mil artistas, incluindo amadores e profissionais[3].

Gostaria de destacar a recente publicação do Livro Branco sobre o Tibete, por ser da maior importância para o Ocidente: É um único estudo com os principais argumentos chineses para a demonstração do Tibete como parte integrante da China, desde tempos antigos. Demonstra igualmente que o Governo da Região Autônoma do Tibete, com o apoio do Governo Central, tem tido grande sucesso na modernização e desenvolvimento tibetanos. Publica os principais dados sobre a evolução da sociedade (promoção da língua, da educação, da cultura e bem-estar do Tibete), do seu desenvolvimento econômico (desenvolvimento produtivo, infraestruturas, emprego), e do esforço atual, através dos planos centrais e locais, para aplicar um novo paradigma - a Eco civilização, que consiste na modernização e desenvolvimento económico-social, numa perspetiva holística e sustentável, que proteja os recursos naturais e o meio ambiente[4].

O enorme investimento do governo central no apoio ao desenvolvimento local do Tibete é demonstrado, nomeadamente na erradicação da pobreza extrema[5] e na promoção da educação. Atualmente, o Tibete tem 3.195 escolas (sete instituições de ensino superior), recebendo mais de 790 mil alunos. Além disso, mais de 92 mil alunos frequentam escolas fora da região. A taxa de conclusão do ensino obrigatório atingiu 95%[6]. No Tibete a contribuição da ciência e tecnologia para o crescimento econômico atingiu 45,6%. Por outro lado, a rede de energia cobriu todo o Tibete, em 2020. O acesso ao telemóvel e a cobertura de banda larga por cabo ótico atingiu 99%. A indústria e a economia digital de alta tecnologia ultrapassaram RMB 33 bilhões. O ambiente de tranquilidade e de riqueza cultural têm permitido um ritmo de crescimento rápido do turismo na região, recebendo mais de 35 milhões de visitas em 2019[7].

O Tibete tem conseguindo encontrar um caminho de afirmação da sua identidade, de florescimento cultural e de desenvolvimento económico sustentável, continuando a beneficiar do apoio do poder central e das vizinhas províncias chinesas, no âmbito da sua integração multisecular numa China multicultural. No pleno respeito pelo seu estatuto de região autônoma chinesa, o Tibete é parte integrante do futuro compartilhado da humanidade.

Por Rui Lourido, historiador de Portugal

[1] A História da Dinastia Han Posterior (Hòu Hànshū - 後 漢書), cobre a história da dinastia Han de 6 a 189 d.C., um período conhecido como o Han posterior ou oriental. O livro foi compilado por Fan Ye e outros no século V durante a dinastia Liu Song, usando uma série de histórias e documentos anteriores como fontes.

[2] Notícias da China e do Tibete, direção de Luís de Albuquerque; ed. Alfa, 1989, pág.94,

[3] http://www.xinhuanet.com/english/2021-05/21/c_139959978.htm, consultado a 22 de maio 2021, pág. 19.

[4] Em: Tibet Since 1951: Liberation, Development and Prosperity, edição The State Council Information Office of the People's Republic of China, Beijing, May 2021, http://www.xinhuanet.com/english/2021-05/21/c_139959978.htm, consultado a 22 de maio 2021.

[5] No final de 2019, todos os 628.000 pobres registrados de 74 condados pobres identificados no Tibete saíram da pobreza, marcando o fim da pobreza absoluta no Tibete pela primeira vez na história, in http://www.xinhuanet.com/english/2021-05/21/c_139959978.htm, consultado a 22 de maio 2021, pág. 22.

[6] http://www.xinhuanet.com/english/2021-05/21/c_139959978.htm, consultado a 22 de maio 2021, Pág. 20

[7] in http://www.xinhuanet.com/english/2021-05/21/c_139959978.htm, consultado a 22 de maio 2021, pág.18.

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