Uma nova era de cooperação espacial para o bem-estar da população
Recentemente, um tema que nos trouxe preocupação veio à tona quando a Agência Espacial da China (CNSA, sigla em inglês) noticiou que pequenos destroços remanescentes da última viagem para a construção da base espacial chinesa iriam retornar à órbita da Terra. Porém esclareceu que não seria motivo de preocupação, porque, além de ser constantemente monitorado pela agência, os estudos dos cientistas chineses indicavam que a probabilidade de causarem danos às pessoas ou construções era mínima.
Coincidência ou não, a agência acertou em cheio e já podemos dormir tranquilos, porque a mais nova notícia é que a maior parte dos destroços foi desintegrada durante o regresso à atmosfera terrestre e o que conseguiu entrar na superfície atingiu o mar Arábico no dia 9 de maio. Isso traz à tona, em mais um exemplo, que as maiores conquistas que já obtivemos não foram fáceis e muito menos isentas de risco. O que se pode tirar de lição é que atividades como essa devem ser realizadas e monitoradas por profissionais extremamente especializados e que são justificadas graças aos diversos desenvolvimentos tecnológicos que beneficiam nosso bem-estar. Representa, ainda, uma oportunidade de estudar a trajetória da queda de detritos espaciais, estimulando o desenvolvimento de novas tecnologias que eliminem essa possibilidade no futuro. Afinal, nosso espaço está repleto por equipamentos que vão se tornar obsoletos, máquinas que já não são mais utilizadas, tecnologias que não deram certo e continuam vagando no espaço e um dia poderão retornar ao nosso planeta. Isso sem falar das diversas vezes que asteroides e meteoritos já nos atingiram e nada pôde ter sido feito para evitá-los, mostrando mais uma oportunidade para evoluirmos e desenvolvermos novas soluções por meio de parcerias e cooperações entre diversas nações.
Nesse contexto, não é novidade que a China vem investindo fortemente na pesquisa aeroespacial e já está ajudando outras nações a desenvolverem tecnologias próprias, como no caso da parceria sino-brasileira para o desenvolvimento do projeto CBERS. Parcerias como essa são de longa data e não apenas com o Brasil. Recentemente foi divulgada pelo The Guardian uma proposta de cooperação entre a China e a Rússia para a criação de uma estação espacial lunar com o objetivo de desenvolver pesquisas experimentais, em que a China quis deixar claro que o projeto estava aberto para todos os países interessados e demais parceiros globais.
Muitos passos foram dados pela humanidade no que tange a exploração do sistema solar, com resultados que deram certo e outros nem tanto. Sejam pelos erros ou pelos acertos, hoje já sabemos que ele é composto por oito planetas que circulam o sol e não o contrário. Sabemos também que sem o sol e as consequências benéficas do efeito estufa, quando controlado é claro, possibilitam a vida na Terra. Porém, não é apenas isso, afinal as viagens espaciais permitiram a criação de micro-ondas, de tecidos mais resistentes, do GPS e da tecnologia a laser que hoje em dia são corriqueiramente utilizados pelas pessoas.
O que seria das nossas vidas sem o entretenimento dos programas televisivos ou sem o monitoramento por meio de satélites? Tecnologias indispensáveis como essas ganham mais força com o desenvolvimento do 5G e com o crescimento da globalização que anseia um mundo cada vez mais conectado e ágil.
Porém não é apenas isso. Estudos científicos com amostras de solo, cultivos de hortaliças em ambientes com poucos recursos, aprimoramento na transmissão de dados e o desenvolvimento de lentes cada vez melhores são mais alguns dos feitos que alcançamos graças a investimentos maciços na área espacial que acabaram sendo despretensiosamente revertidos em novas tecnologias para nós. Por que não começar a sonhar com viagens tripuladas e com a colonização de um novo planeta? Idas não tripuladas a Marte já são uma realidade, basta constatar o projeto Tianwen-1, desenvolvido pela China, e que conseguiu atingir a órbita de Marte em fevereiro deste ano. Sim, estamos vivendo a história sendo feita, história essa que só foi possível ser escrita graças às viagens espaciais e graças à constante superação de desafios como os que os chineses estão sempre superando, sem nunca renunciar às parcerias estratégicas e que são fundamentais para o Brasil.
Autor: Raphael Panizzi - Engenheiro e Consultor de Soluções Tecnológicas