Harmonia entre os povos e o meio ambiente
Harmonia entre os povos e o meio ambiente
----Conceito tradicional chinês tem papel central no discurso de Xi Jinping na Cúpula do Clima
A busca do equilíbrio entre desenvolvimento econômico e conservação do meio ambiente vem sendo um desafio para todos os países de economia desenvolvida ou em desenvolvimento. Durante décadas, a fórmula do crescimento era o aumento da produtividade a partir da extração de riquezas naturais, para a sua transformação em bens industrializados, com uso e criação de novas tecnologias. Hoje, tal equação encontra no futuro sustentável do planeta o seu novo fator.
Por isso, durante a Cúpula do Clima de 2021, realizada no dia 22 de abril por meio de uma conferência virtual (em razão da pandemia de Covid-19), o presidente chinês, Xi Jinping, conclamou seus pares, chefes de Estado de outros 39 países, a tomar decisões governamentais que busquem o desenvolvimento de suas economias com o zelo pelo meio ambiente.
Conforme Xi, este momento de dificuldades sem precedentes requer medidas corajosas para a reação econômica com equilíbrio ambiental. Uma delas é o trabalho em conjunto entre todos os países ricos e emergentes, para o alcance, o mais cedo possível, das metas de sustentabilidade para o século XXI.
Mais uma vez mostrando-se disposto à conciliação com os Estados Unidos, o líder chinês citou o país como parceiro central nesse trabalho conjunto. “A China está ansiosa para trabalhar com os Estados Unidos para melhorar a governança global. Nós lutamos por uma sociedade mais equilibrada e priorizamos o meio ambiente, queremos atingir nossas metas climáticas antes de 2030 e a neutralidade na emissão de carbono antes de 2060. Queremos sair do pico do carbono para carbono zero em um tempo mais curto que outros países desenvolvidos”, disse o presidente[1].
Xi fez o compromisso de que a China atingirá o pico da emissão de carbono até 2030 e reduzirá até o zero carbono antes de 2060, o que está à frente das metas iniciais. No mesmo evento, o presidente norte-americano, Joe Biden, sinalizou o retorno ao Acordo de Paris e disse que até 2030 o país deve reduzir em até 50% as emissões de carbono, em comparação com os dados de 2005.
O presidente sustenta que essa colaboração mútua não existiria sem a ideia de mutilateralismo, um dos princípios fundamentais da diplomacia internacional chinesa. Sobretudo desde os anos de 2010, a China vem apresentando as relações multilaterais como alternativa às relações verticais existentes até o fim do século XX e princípios deste, quando os países mais ricos monopolizavam as principais forças produtivas e acordos financeiros da economia mundial. Segundo a perspectiva chinesa, uma economia mais saudável e melhor para todos os países é aquela em que todas as nações possam ganhar oportunidades e produzir em relação de equidade no mercado internacional, permitindo assim que o mundo cresça em harmonia.
Harmonia, por sinal, é a palavra-chave no olhar da China e do presidente Xi Jinping para todos os aspectos das relações humanas, o que inclui o encontro entre as nações e entre o ser humano e o meio ambiente. Por isso, o líder chinês aponta a necessidade de dar a cada nação a sua responsabilidade neste processo, conforme suas dificuldades econômicas e estágio de desenvolvimento. Requerer de uma nação pobre a ampliação de fontes energéticas de zero carbono, por exemplo, não é o mesmo que pedir a um país europeu que possua toda a estrutura para fazê-lo. A Europa deve, além de fazer seu papel, colaborar com os mais pobres. Esse é um dos motivos para que o presidente aponte a centralidade da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Acordo de Paris como órgãos de mediação dos direitos, deveres e interesses dos países, de modo a garantir a governança global orientada pelos valores da liberdade e da harmonia.
A “harmonia”, para os desafios do século XXI, surge como um complemento e, mais que isso, um desdobramento, visto que ela faz acertos em problemas que o simples conceito de “liberdade” não consegue resolver, como as disputas de poder, o egoísmo, o desequilíbrio entre ricos e pobres e a exploração desmedida da natureza. Xi Jinping, desta forma, apresenta a contribuição da China, com seus mais de 5.000 anos de história, trazendo um de seus conceitos milenares à geopolítica global e à defesa do meio ambiente.
[1] CNN Brasil: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2021/04/22/china-acena-aos-eua-e-diz-que-pretende-neutralizar-emissao-de-carbono-ate-2060
Autor: Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional do Brasil