China, principal parceiro económico da União Europeia
O sentimento de autoconfiança que se respira na China prende-se com o sucesso das suas políticas socioeconómicas. Nos mais de 70 anos após a fundação da China, sobretudo nos mais de 40 anos desde a Reforma e Abertura, o PIB da China aumentou mais de 170 vezes, transformando-se na segunda economia a nível global. A economia Chinesa aumentou a sua contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) mundial passando de menos de 3% em 1980 para 16% em 2018[1]. O país aumentou a esperança média de vida de 35 para 77 anos. É o próprio Banco Mundial que reconhece que o desenvolvimento sem precedentes da China e as suas estratégias bem-sucedidas de erradicação da pobreza terão retirado desta situação mais de 850 milhões de chineses, com uma queda da taxa de pobreza de 88,3% em 1981 para 1,9% em 2013[2].
A China foi a única grande economia do mundo a crescer em 2020, calculando-se que tenha criado riqueza superior a 12,5 triliões de euros. A estratégia de investimento da China tem motivado elogios e críticas da comunidade internacional. Mas não será inegável que os resultados económicos da estratégia chinesa têm contribuído, decisivamente, para a recuperação tanto da economia europeia como da mundial, nomeadamente na promoção do crescimento e do emprego?
Com o novo 14º Plano Quinquenal, a China aumentará a abertura de sua economia ao exterior, em sintonia com o desenvolvimento do mercado interno, e vai acelerar o desenvolvimento de indústrias menos poluentes e o combate às mudanças climáticas, promovendo uma transição verde global do desenvolvimento socioeconómico sustentável. Estes são objetivos e aspirações, que por serem comuns à China e à Europa, poderão ser campo para a intensificação das parcerias entre ambos.
A China é o maior parceiro comercial da União Europeia, tendo ultrapassado os EUA em 2020. Num mundo globalizado, a pandemia do Covid-19 afetou gravemente as sociedades e respetivas economias a Ocidente e a Oriente. Contudo, em 2020, as exportações de mercadorias da UE para a China aumentaram 2,2% e as importações aumentaram 5,6%, em relação a 2019. Segundo o Eurostat, em 2020, as exportações da Europa para a China foram de 202,5 biliões de euros e importações europeias da China chegaram a 383,5 biliões de euros. Em 2020, o comércio da UE com a China atingiu cerca de 586 biliões de euros, superando o valor do comércio da UE com os EUA (cerca de 562 biliões de euros, correspondendo a menos 13,2% das importações e a menos 8,2% das exportações). As relações com os EUA deterioram-se pelas tarifas impostas pela política isolacionista da “América primeiro”.
As Relações da União Europeia com a China, que foram formal e oficialmente estabelecidas em 1975, têm tido vários períodos de desenvolvimento, a diferentes velocidades e com muitas indefinições, dependendo dos contextos geopolíticos mundiais. Mas os acordos de comércio e cooperação têm vindo a ser alargados e aprofundados em inúmeras comissões setoriais, que vão da proteção ambiental à educação, passando pelos assuntos económicos e pela conectividade, entre outras.
Nos últimos cinco anos, assistimos a uma alteração profunda da trajetória de investimentos externos da China. O investimento externo atingiu o pico em 2016, após uma década de crescimento de dois dígitos. Com o estabelecimento de restrições administrativas chinesas, o investimento caiu vertiginosamente em 2017 e 2018. Em 2019, o Investimento Direto Estrangeiro na UE reduziu-se para os níveis de 2014.
A queda substancial do investimento chinês no estrangeiro deve-se à conjugação de fatores domésticos e internacionais. Na UE, o temor da compra de empresas europeias por investidores chineses resultou em restrições ao investimento estrangeiro para proteger as empresas europeias de aquisições hostis. O receio europeu dos investimentos Chineses na Europa tem sido explorado politicamente por vários lóbis concorrentes, mas sem fundamento económico real. A base de dados da Comissão Europeia sobre participação estrangeira indica que o montante total dos ativos, incluindo IDE, controlados por investidores chineses no final de 2017, era de 2.114 mil milhões de euros, representando 0,89% do total das empresas da UE em termos de valor e 0,18% do número total de empresas na UE.
A rápida recuperação económica chinesa após a primeira vaga do Covid-19 é um dos maiores contributos à recuperação da economia mundial e da europeia em particular. A importância das relações económicas com a China e a necessidade de a UE ter uma estratégia autónoma, levou à aprovação prévia com a China, em dez 2020, do Acordo Global para o Investimento (CAI). Através deste acordo, a China aceitou o alargamento, sem precedentes, no acesso dos investidores da UE ao seu mercado doméstico. O CAI contribuirá, a longo prazo, para a contenção e redução da retórica anti China na Europa. Por outro lado, permitirá diminuir a dependência de ambas as economias para com os EUA. A China aumenta o seu investimento na Europa, relativizando o risco da aplicação excessiva de capitais chineses na dívida pública dos EUA, e a Europa respira de alívio perante a entrada de capital fresco na sua economia e reforça a influência estratégica europeia na Ásia.
Perante a pressão da Casa Branca que demonstrou ser contra este acordo Europa-China, a Presidência Portuguesa da União Europeia reafirmou a justeza e o benefício mútuo do Acordo Global para o Investimento entre a UE e a China, afirmando que "garante uma segurança recíproca de abertura de mercado" e "relações de investimento que asseguram e respeitam todas as regras de segurança de um lado e de outro".
Para o aprofundamento das relações entre o Ocidente e o Oriente, em especial com a China, parece-nos inevitável que o Ocidente desenvolva relações menos ideológicas, mais pragmáticas e inclusivas, de forma a criar um ambiente propício à paz e ao desenvolvimento económico e sustentável globais.
Por Rui Lourido, historiador de Portugal
[1] «Resposta da UE à estratégia de investimento estatal da China», 2020
[2] "China – Systematic Country Diagnostic…", Relatório nº 113092-CN, 2017