A China no Fórum Económico Mundial: Esperança e empenho na resolução conjunta da atual crise Mundial
No passado dia em 25 de janeiro o presidente chinês, Xi Jinping, fez uma intervenção, por videoconferência, na sessão de abertura da reunião anual do Fórum Económico Mundial (FEM), em Davos, nos Alpes Suíços, este ano dedicado ao tema "Ano Crucial para reconstruir a confiança”. A presença do leader da República Popular da China, a convite especial de Klaus Schwab, o fundador e presidente executivo do FEM, foi marcante pelo conteúdo do seu muito aguardado discurso. Xi Jinping apresentou, com clareza e entusiasmo, uma mensagem de esperança e empenho da China no apoio à recuperação económica mundial, ao desenvolvimento sustentável, e à necessidade de cooperação entre países no combate urgente à atual pandemia.
Tal como no FEM de janeiro de 2017, a intervenção do presidente Xi Jinping despertou o interesse dos leaders presentes, onde se destacavam os representantes, ao mais alto nível, de inúmeros países (como Alemanha, França, Índia, Japão, Coreia do Sul, África do Sul, Argentina, Espanha e Grécia), da União Europeia e de organizações internacionais (como as Nações Unidas e a OMS). No FEM participaram igualmente o Banco Central Europeu, o Banco de Inglaterra e o FMI. Bem como participaram cerca de 600 CEOs de empresas globais, representantes académicos, e líderes de ONGs, religiosos e os Mídia.
Num período em que, em muitos países Ocidentais se disseminam opiniões irracionais e populistas de negacionismo do perigo da COVID 19, como as desenvolvidas por Trump e Bolsonaro, consideramos importante a determinação de Xi Jinping em seguir as orientações da ciência e continuar a trabalhar com a comunidade internacional para combater a pandemia. A China afirmou que aumentará a cooperação com os outros países no desenvolvimento, produção e distribuição de vacinas, para que estas venham a ser verdadeiramente acessíveis e economicamente viáveis para as pessoas em todo o mundo, como um bem público para todos os povos. Recordamos com agrado que foi a China que, mal descodificou o genoma do vírus, o divulgou a autoridades ocidentais da saúde (incluindo os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA) para que todos pudessem trabalhar na descoberta de medicamentos e vacinas. A China já colaborou com mais de 150 países e 13 organismos internacionais, além de mandar equipes médicas para 36 países.
O Presidente Xi Jinping apresentou 4 tarefas prioritárias para ultrapassar os desafios que a atual crise mundial coloca a todas as nações. A primeira é intensificar a “coordenação conjunta da política macroeconómica e promover o crescimento forte, sustentável, equilibrado e inclusivo da economia mundial”. Uma economia aberta, sem padrões discriminatórios, com regras iguais para todos e a eliminação das barreiras ao comércio, ao investimento e ao intercâmbio tecnológico. Manter as cadeias de fornecimento industrial e agrícola globais estáveis e abertas. Garantir o funcionamento adequado do sistema financeiro global e expandir a procura agregada global, num esforço de maior qualidade e resiliência no desenvolvimento económico. Neste contexto recordamos que a China, ao ter conseguido controlar a pandemia no seu território, foi a única grande economia do mundo a crescer (2,3% do PIB no ano de 2020, segundo o Gabinete de Estatísticas da China), contribuindo, assim, para evitar o colapso da economia mundial. É a segunda vez em 12 anos (2007/9 e 2020), que a China salva o mundo de entrar numa recessão ainda maior.
A segunda tarefa, apontada por Xi Jinping, é a de “abandonar o preconceito ideológico”, em que algumas nações procuram “impor uma hierarquia de civilizações” ao tentar impor aos outros a sua própria história, cultura e sistema social. Para o presidente chinês “Não há duas folhas no mundo idênticas e nenhuma história, cultura ou sistema social são iguais”, pelo que a diversidade das nações deve ser respeitada, devendo caminhar em conjunto, em “coexistência pacífica, cooperação e benefício mútuos”, e promovendo uma base comum para o “progresso da civilização humana".
A terceira tarefa é contribuir para “eliminar a divisão entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento e, em conjunto, gerar crescimento e prosperidade para todos”. Hoje, a desigualdade entre Norte-Sul continua a crescer e corre o risco de se perpetuar. Assim a comunidade internacional deve pensar a longo prazo, estabelecendo e fortalecendo “Direitos, oportunidades e regras iguais para que todos os países possam beneficiar das oportunidades e dos frutos do desenvolvimento”.
A quarta tarefa é a necessidade de nos consciencializarmos de que só temos uma Terra, pelo que temos a obrigação de controlar as alterações climáticas e promover o desenvolvimento sustentável. “Nenhum problema global pode ser resolvido por um país individualmente. Deve haver ação, resposta e cooperação globais”.
Numa alusão, não explicita, à recente política de confrontação americana (de guerras comerciais, de discriminar e punir países e empresas concorrentes, de não cumprir acordos internacionais e de fragilizar organizações internacionais, de impor um espírito de guerra fria interferindo nos assuntos internos de outras nações) e como recado implícito ao novo presidente Joe Biden, o presidente Xi Jinping alertou que essa via só podia levar à divisão entre países, favorecendo um clima de confronto que seria desastroso, perante a complexidade da crise mundial atual. O presidente chinês exortou os líderes mundiais a fortalecerem o multilateralismo.
A China reafirmou o seu empenho em trabalhar em conjunto com todos os países, na defesa do sistema internacional centrado na ONU, no incremento da ordem internacional baseada no Direito Internacional, no reforço da OMC para controle sobre o sistema do comércio multilateral. A China propõe privilegiar o G20, como primeiro fórum económico global de equilíbrio multilateral (por integrar os principais países industrializados e também os emergentes, tendo ganho importância com a eficiência da sua resposta à crise financeira de 2008), em alternativa ao G7 (onde alguns países excluem outros países por critérios ideológicos, como a Rússia e a China), com o objetivo de aperfeiçoar o sistema da governança global, construindo juntos um mundo mais próspero e harmonioso.
O Presidente da China reafirmou a necessidade de aprofundamento do multilateralismo, tornando a globalização econômica mais ampla, inclusiva, equilibrada e benéfica para um futuro partilhado por toda a humanidade.
Rui Lourido
Historiador