Cuidar da saúde ou da economia? A China apontou o caminho
Autor: Leonardo Attuch, jornalista e editor responsável pelo site de notícias Brasil 247
A expansão econômica chinesa comprova que há um único caminho: abordar os dois pilares, saúde e economia, de mãos dadas.
Ao longo de 2020, o debate econômico no Brasil e no mundo foi marcado por um falso dilema: cuidar da saúde pública ou da economia? Os dados econômicos recentemente divulgados sobre o desempenho do PIB chinês no ano que passou, que apontaram crescimento de 2,3%, depois de uma expansão de 6,5% no quarto trimestre, demonstram que havia um único caminho: abordar os dois pilares, saúde e economia, de mãos dadas - e não de forma antagônica.
Desde o surgimento dos primeiros focos de Covid-19 em Wuhan, na China, foi esta a abordagem do governo chinês: cuidar dos doentes e garantir seu total isolamento para evitar a propagação do vírus. Uma estratégia bem diferente do que aconteceu em grande parte dos países do Ocidente, onde houve grande resistência às medidas de “lockdown” e até mesmo negacionismo por parte de alguns governos. O resultado é que várias dessas economias estarão experimentando quedas entre 5% e 10% de seu PIB em 2020.
Mais do que simplesmente crescer em 2020, o que já seria um feito extraordinário, a China lidera as projeções de crescimento mundial em 2021, ano em que sua economia deve registrar expansão próxima de 8%, retomando os níveis de aceleração pré-pandemia. Enquanto isso, países ocidentais, que hesitaram no enfrentamento da doença, ainda sofrem para tirar suas economias do atoleiro em que se encontram.
É também importante ressaltar que a estratégia de desenvolvimento chinês em 2020 foi muito além do simples combate à pandemia de Covid-19. Num ano que foi marcado por guerras comerciais, sanções econômicas e contestações ao processo de globalização, a China decidiu dobrar sua aposta no livre comércio. Exemplo disso foi a formalização da Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, sigla em inglês), um tratado entre os dez estados membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que são Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã, bem como com cinco dos parceiros da Área de Livre Comércio (ALC) da ASEAN: Austrália, China, Japão, Nova Zelândia e Coréia do Sul. Juntas, estas nações representam cerca de metade da população mundial e 39% do PIB global.
Além de focar neste mercado asiático ampliado, a China também fortaleceu seus laços econômicos e comerciais com a União Europeia. Em dezembro de 2020, foi anunciada a aprovação política de um acordo para abrir ainda mais o mercado chinês aos investidores do bloco europeu, marcando um grande passo nas negociações iniciadas em 2013. Um dos pontos decisivos para a concretização deste entendimento foi a determinação por Beijing de um maior acesso ao gigantesco mercado de consumo chinês às multinacionais de origem europeia.
Para o Brasil, os desafios também são imensos. Depois de anos construindo sólidas parcerias econômicas com os países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o governo brasileiro caminhou para uma política de alinhamento automático com os Estados Unidos, a despeito dos seus próprios interesses econômicos nacionais. Basta lembrar que a China é não apenas o maior parceiro comercial do Brasil, com amplo superávit para o lado brasileiro, como também o país que mais investe em nossa economia. A partir de agora, sem o tacão imposto pela administração Trump, abre-se espaço para discussões diplomáticas mais racionais, que levem em conta os interesses de todas as nações e o espírito de um destino compartilhado para a humanidade.
Além da economia, deve-se ressaltar também a importância da parceria entre Brasil e China na questão sanitária. No dia 17 de janeiro, a enfermeira Mônica Calasans tornou-se a primeira brasileira vacinada contra a Covid-19, logo depois que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária autorizou o uso emergencial da vacina Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac. A economia brasileira, tal qual a chinesa, necessita controlar a pandemia para se recuperar plenamente. Para que isso ocorra, é fundamental retomar o espírito da parceria estratégica entre Brasil e China, dois países amigos e de economias complementares.