Milton Pomar analisa reserva chinesa diante da segurança alimentar
O encarecimento de alimentos está cada dia mais sendo sentido pelo mundo por conta do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, ou seja, entre os dois principais exportadores de cereais. Para a China e o Brasil, também produtores agrícolas globais, é importante reforçar a coordenação e pensar de forma estratégica para encarar os desafios conjuntos no futuro, salientou Milton Pomar, jornalista especializado na agricultura e consultor das relações Brasil-China.
Com 25 anos de experiência conhecendo quase todas as regiões da China, o especialista observa que o país asiático ainda pode ter certa tranquilidade nesse ano com seu estoque de comida apesar da preocupação crescente com segurança alimentar. “A China é um país com planejamento e as passadas fomes deixaram o país sempre se preparar para uma eventual crise,” analisou. Supõe que se houver 20% de quebra de safra na China, já são mais de 120 milhões de toneladas de grãos. “O mercado internacional não tem disponibilidade desse tamanho, portanto, a China tem que ter reserva.”
No caso do Brasil, a questão de fertilizantes agita o mercado, enquanto a produção gigantesca de produtos agrícolas continua prosperando o agronegócio do país, prevê Pomar. Entretanto, lamentou que, infelizmente, o problema do Brasil não é falta de comida, mas sim falta dinheiro na mão das pessoas comuns para comprar carne e cereais.
Ao longo de duas décadas, Milton Pomar tem acompanhado o socialismo com características chinesas no tratamento da questão agrícola. Citando resultados da estratégia de revigoramento rural, ele enxerga que o governo chinês tem trabalhado para criar condições de moradia e bem-estar para agricultores. “Porque precisa ter gente para produzir e proteger gente é proteger o conforto deles,” falou de forma direta. Porém, chamou atenção de que apenas 12,68% do território chinês é cultivável e grande parte fica nas encostas que não têm espaço para o uso de grandes maquinários.
O aumento de produtividade cai no desenvolvimento da tecnologia. Milton Pomar avalia que a nova iniciativa de Agricultura 4.0 deve modernizar ainda mais a agricultura chinesa com ampla aplicação dos meios digitais. Ele deseja uma maior cooperação do que se tem hoje entre Brasil e China no desenvolvimento agrícola, para lidar com questões ambientais na produção de alimentos.