O Brasil, país ainda pouco conhecido pelos chineses, está mais próximo para um grupo de 732 agricultores em Zhejiang, província litorânea no leste da China. O grupo, organizado por Zhu Zhangjin, chefe do Partido Comunista da China da aldeia Huafeng, vila de Xieqiao, cidade de Haining, comprou terras brasileiras para iniciar uma plantação de soja.
Os agricultores da aldeia levantaram mais de cinco milhões de yuans (cerca de US$ 735 mil) em fundos para esta iniciativa criativa no Brasil entre chineses, confirmou à Xinhua uma fonte da aldeia.
Zhu, também presidente da Kasen International Holding Limited, maior produtora de couro na China, também comprou no Brasil, com investimento de dezenas de milhões de dólares, terras para plantar outros cereais e abriu um negócio de processamento de óleo de cereais.
Em 2008, a China, que importa dois terços da soja consumida no país, comprou 37 milhões de toneladas de soja do Brasil.
"Senti que o mercado é enorme. Primeiro, o Brasil goza do clima e das terras mais favoráveis que o nordeste da China, principal zona produtora de soja do país, o que rende uma produção de melhor qualidade. Segundo, o gasto de transporte do Brasil para a China é de aproximadamente US$ 30 cada tonelada, quase igual à despesa da soja produzida na nossa província", disse Zhu. O empresário acrescentou que hoje não há mais muitas terras disponíveis para cultivo no país asiático.
As terras brasileiras compradas pelos chineses também devem servir para a criação de gado, segundo Zhu. A produção dos grãos no Brasil será voltada para o mercado chinês e a plantação de outros cereais deve ser ajustada conforme a necessidade da China.
Sendo o chefe dos agricultores investidores, Zhu acredita, com sua experiência prévia, que haverá um aumento nos ingressos, enquanto o tsunami financeiro afeta muito a meta de duplicar o rendimento per capita da aldeia.
A ação de investimento, porém, não é a primeira da província de Zhejiang, uma das regiões economicamente mais desenvolvidas da China. Vários agricultores já iniciaram seus passos comerciais em mais de 30 países e regiões em cinco continentes, inclusive nos Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, Rússia e Brasil. Alguns deles, como Zhu, já começaram a produzir em escala. Outro exemplo, Xin Zhizhong, agricultor do distrito de Chengzhou, cidade de Shaoxing, possui quatro mil hectares de terra na Malásia, acompanhado com o prazo de uso de 99 anos.
O governo provincial ofereceu todo o apoio para a iniciativa dos agricultores. O vice-diretor da Divisão de Comércio Exterior do Departamento Provincial de Agricultura de Zhejiang, Xiong Jianzhang, disse que os órgãos relevantes estão preparando uma base de dados para os produtores cujos negócios se estendem ao exterior. A base, segundo Xiong, inclui impostos e políticas preferenciais das nações destinadas. Cursos sobre negócios no exterior também serão oferecidos por especialistas e empresários bem-sucedidos no setor.
No entanto, também existe preocupação sobre as atividades comerciais. Por um lado, a cooperação rural tem um sistema diferente das outras empresas, por isso uma operação totalmente igual pode trazer dificuldades ao negócio. Por outro lado, o preço de petróleo não está estável, e se aumentar, a despesa com transporte também cresce. Além disso, não se pode ignorar os impactos causados pelas leis, políticas, culturas e tradições estrangeiras. Os agricultores também enfrentam a escassez de administradores de cooperação agrícola internacional.
Perante a atual crise financeira global, o governo chinês estimula os agricultores a estabelecer negócios no exterior, o que pode aliviar a dura situação de emprego no mercado doméstico. Além disso, os preços de produtos agrícolas nos países estrangeiros são mais altos que os na China, que pode trazer mais benefícios para agricultores chineses.
O Japão tem 1,2 mil hectares de terras fora do país, o que representa três vezes o total da terra cultivada no país. A Coreia do Sul também comprou terras na América Latina, no Sudeste Asiático, até mesmo na Europa. A respeito das críticas sobre este movimento que está começando na China, o professor da Faculdade de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Universidade Renmin da China, Zheng Fengtian, indicou que além de resolver a pressão de alimentos para a grande população chinesa, as tecnologias e a força de trabalho do país asiático também ajudará o desenvolvimento agrícola dos países onde se está investindo e terá impacto positivo no alívio da crise de alimentos globais.