O segundo dia em Jincheng começou cedo. Às oito da manhã deixamos o hotel em direção ao Castelo Imperial, ou Casa do Mandarim. Uma das relíquias da vila de Huangcheng, que nos transporta para o importante legado histórico da província de Shanxi, berço da civilização chinesa, e que foi em tempos a residência oficial de Chen Tingjing, ministro durante a dinastia Qing, e que viria a publicar o primeiro dicionário oficial de língua chinesa, o Kangxi Zidian.
Mas Chen Tingjing constitui apenas o expoente de uma família com forte tradição no sistema de administração pública na China antiga. Durante as dinastias Qing e Ming, emergiram entre os Chen, 41 estudantes da academia imperial, 19 vencedores do exame a nível provincial, nove vencedores dos exames imperiais, seis académicos, 38 oficiais e 33 poetas. Números que impressionam, como impressiona a grandeza do Castelo Imperial, dividido entre o castelo interior, erguido durante a dinastia Ming, e o exterior, construído na dinastia Qing.
Após chegarmos ao monumento, fomos de imediato recebidos com uma cerimônia de Recepção ao Imperador, um espetáculo alusivo à época, e que constituiu apenas o início de uma visita que nos iria transportar para o passado da região, de forma genuína, e que incluiu várias performances com música e dança, entre as quais se destacam uma peça de Bangzi de Shangdang, e várias outras interpretadas com Bianzhong, um instrumento bem antigo, originário na província de Shanxi.
Do espaço destacam-se ainda o belíssimo jardim de Zhiyuan, e a residência para as mulheres, assim como as inúmeras peças artesanais e de mobiliário, trabalhadas à mão, e mantidas até à atualidade. Uma relíquia entre as montanhas de Shanxi, pronta a ser descoberta pelos visitantes, e que promete surpreender pelo seu excelente estado de conservação, e imensa herança cultural.
Uma tarde cinematográfica
O início de tarde em Huangcheng foi acompanhado da exibição do filme "A Pousada da Sexta Felicidade", um drama baseado na história verdadeira de Gladys Aylward, uma mulher que dedicou a sua vida a fazer o bem pelos outros. Nos anos 30, Gladys decidiu partir para a China, tendo vivido por muitos anos no município de Yangcheng, onde chegou para ser missionária, tendo mais tarde sido designada pelo mandarim Hsien Chang, para inspecionar as zonas rurais, com a finalidade de fazer cumprir a lei do governo contra o atrofio dos pés das meninas chinesas. O seu trabalho junto dos mais carenciados, levou-a a conquistar o afeto e confiança da comunidade local, tendo inclusive alterado a sua nacionalidade para a chinesa, e o nome para Jenai, que significa "aquela que ama as pessoas". Mas o grande feito de Jenai acontece quando, durante a invasão japonesa da China, ela consegue levar uma centena de crianças sem lar para um local seguro atravessando um território dominado pelo inimigo.
A visita ao local onde Gladys Aylward viveu, na então remota província de Yangcheng, foi um momento especial que encerrou este segundo dia em Jincheng. A nossa visita, mereceu uma grande atenção por parte da comunidade local, entusiasmada pela chegada de vários jornalistas estrangeiros. Entender mais acerca da cultura e história local, é o principal desafio para os próximos três dias. Não será um trabalho fácil, pois em cada canto, e rua de Jincheng, existe uma herança milenar, lembrando que Shanxi é o berço da civilização chinesa.