Bebendo pubuxianming na cascata
Guiados pela sabedoria do senhor Wang, continuámos hoje a nossa aprendizagem pelos meandros da produção do chá. E porque a conveniência da tecnologia não substitui a experiência humana, focámo-nos de manhã em técnicas de produção mais artesanais.
Perdidas entre os tapetes rolantes que transportam o chá para o interior das máquinas onde este é tratado, mãos calejadas trabalhavam com afinco folhas de pubuxianming numa bacia electrificada. Com paciência infinita, sentado num pequeno banco, dobrado, habituado ao calor emanado pelas paredes curvas, o trabalhador revolvia as folhas do chá, amassava-as, comprimia-as contra o calor interior, secava-as, numa, noutra, noutra, noutra volta...
Fascinado com o processo, aproximei-me e durante alguns momentos procurei imitar o que via. Apesar de a técnica não apresentar dificuldade de maior, há obviamente uma desenvoltura que só se ganha com o tempo e a temperatura do recipiente electrificado não é, de facto, para qualquer um. Pela minha parte tive de calçar umas luvas para impedir que os dedos queimassem... Esta precaução resultou numa série de gargalhadas e piadas, picardias naturais perante o lado mais "fraquinho" revelado pelo visitante. Nada que estragasse a experiência, pelo contrário, contribuiu para que todos os envolvidos relaxassem e desfrutassem do momento.
A tarde foi passada a percorrer os campos de chá. Depois de toda a teoria que tivemos em Hangzhou, e de espreitarmos a parte mais técnica na fábrica do senhor Wang, passear pelos campos com tempo e vagar foi uma óptima forma de entrar em contacto com o espírito do chá. E uma actividade que sabe particularmente bem se se tiver em conta que quem a descreve visita o lugar vindo de Pequim, capital onde o urbano se sobrepõe à natureza e não é tão fácil o contacto com esta.
Em Yuyao percorremos, sob uma agradabilíssima temperatura e céu limpo, os socalcos por onde se espraiam os corredores de chá. À nossa volta apenas verde, um verde que não acabava mais, de onde espreitavam aqui e ali os chapéus dos trabalhadores na azáfama da apanha. Tendo por banda sonora um ou outro pássaro mais inspirado, deixámo-nos dirigir pelo vento e a vontade do momento, conversando com calma sobre a vida, os nossos países, expectativas futuras e claro... chá!
O bonito passeio culminou numa cascata, onde fomos levados pelo senhor Wang como homenagem ao pubuxianming, uma vez que pubu é a palavra chinesa para queda de água. Rodeada por um denso bosque de bambu que parecia inclinar-se à nossa passagem, quem sabe se as árvores dobradas à curiosidade de ver o estrangeiro de visita, a cascata caia numa agradável nuvem de espuma, formando uma pequena lagoa (talvez um exagero chamar lagoa à tímida quantidade de água) que oferecia uma refrescante paisagem. Bem preparado para a ocasião, o senhor Wang distribuiu copos de chá da cascata, que bebemos satisfeitos observando a paisagem abençoada pela água que caia.
E como parece ter-se tornado tradição, o dia culminou numa excelente refeição, onde a camaradagem estabelecida durante as experiências com os processos de produção de chá, os passeios pelos bonitos campos cobertos pela planta e a subida à colina onde a cascata caia foi reforçada com um saboroso conjunto de pratos regados, com alguma parcimónia (já que pela frente tínhamos ainda um texto para escrever...), com alguns brindes de baiju!
Este foi o nosso último jantar com o senhor Wang, uma vez que amanhã regressamos a Hangzhou. A passagem por Yuyao foi extremamente positiva e saímos daqui com um conhecimento mais profundo acerca do chá local, bem como com o prazer de termos tido a companhia de tão simpático anfitrião ao longo destes dias.