O Rei do Chá de Pubuxianming e a viagem ao passado com os Hemudu
O chá é uma bebida associada sobretudo à ideia de relaxamento e tranquilidade. Para que isto possa ser verdade no que diz respeito aos consumidores é, no entanto, necessária uma grande máquina de profissionais que trabalham para disponibilizar o melhor produto possível ao mercado.
A nossa passagem por Yuyao coincidiu com a organização da 6ª edição do concurso O Rei do Chá Pubuxianming, que ajuda os produtores a avaliar a sua produção de chá, não apenas em relação às próprias colheitas de anos anteriores, como em relação aos seus concorrentes.
Como em qualquer área profissional, a troca de pontos de vista e a discussão de ideias entre pares é amiga da inovação e da excelência. Ao entrarmos de manhã numa sala reservada para o encontro, deparámo-nos com uma atmosfera alegre e saudável convivência. Inúmeros tabuleiros com amostras de chá alinhavam-se perto da janela, onde as folhas refulgiam à luz que entrava pelas grandes janelas. Produtores e especialistas do negócio do chá (entre os quais reconheci pelo menos um professor do Departamento de Estudos da Cultura de Chá da Universidade de Agricultura e Silvicultura de Zhejiang), passavam revista aos chás trazidos para avaliação, marcados com anónimos números e livres de qualquer favorecimento ou consideração que não o mérito da sua qualidade. E qualidade era a palavra que rolava em todas as bocas. O consenso era que, de forma geral, à 6ª edição do concurso é já visível um aumento na qualidade do chá da região, o que naturalmente favorece todos os produtores e o bom nome da indústria. Os especialistas presentes disseram de sua justiça e a análise das suas opiniões e pontuações determinou a entrega de alguns certificados, que servem não só como reconhecimento do bom trabalho feito, mas também de incentivo à continuação do mesmo. Foram, na ocasião, proferidas as conclusões, elaborado um resumo da situação do chá regional e entregues, por fim, os prémios a quem de direito. Deixando de lado o espírito desportivo e a neutralidade requerida ao único estrangeiro presente na cerimónia, não consegui disfarçar o natural contentamento ao ser anunciado que o prémio de prata atribuído aos melhores chás a concurso tinha sido galardoado ao nosso anfitrião e guia destes dias: o senhor Wang.
Após a cerimónia, e para estreitar laços, dirigimo-nos todos a um refastelado almoço, onde a natural presença do chá foi completada com algum álcool e muitos brindes, entre conhecidos e desconhecidos - tudo em nome da boa convivência.
A parte da tarde resultou num regresso ao passado que não se quantifica apenas com os dedos das mãos. E já que jogamos com a anatomia, nem mesmo com a ajuda dos dedos dos pés lá chegamos também... Na moderna Yuyao encontra-se o Museu Arqueológico de Hemudu. As ruínas e vestígios desta cultura foram descobertos por mero acaso nos anos 70, quando em Yuyao se escavavam canais de irrigação para as culturas locais. Como tantas vezes acontece na História, este acaso veio alterar a percepção que os chineses tinham dos seus povos ancestrais e desvendar toda uma cultura até então desconhecida.
Os Hemudu foram um povo que viveu durante o período neolítico, por volta de 5000 a.C.. Os vestígios que sobreviveram até nós dão conta de um povo que dominava uma série de técnicas de cultivo e domesticação de animais e que se servia de ferramentas de grande sofisticação para cumprir as tarefas do dia-a-dia. Potes de barro e diversos objectos esculpidos em jade, osso ou marfim atestam o nível artístico já atingido pelos Hemudu. O museu apresenta, de forma muito bem organizada, esta cultura que habitou outrora o sul da bacia de Hangzhou, ajudando a estreitar, com sucesso, os 7000 anos que separam os Hemudu dos tempos de hoje. E assim, num agradável dia de Abril de 2013, um português e os seus amigos chineses exploraram Yuyao e espreitaram o que seria viver nessa mesma região uma série de anos antes - tantos que os dedos das mãos não chegam para dar uma ideia...