Da teoria de Hangzhou à prática em Yuyao
Deixámos hoje de lado a teoria do chá para nos embrenharmos na realidade prática desta bebida. Depois de todos os conhecimentos sobre a história e cultura de chá partilhados pelos professores do Departamento de Estudos da Cultura do Chá da Universidade de Agricultura e Silvicultura de Zhejiang, estavamos preparados para ir de encontro à "acção" e ver com que linhas se constrói a indústria do chá em Zhejiang.
Hangzhou acordou-nos com a sua expectável temperatura optimista. As ruas do campus da universidade agitavam-se com a habitual procissão de estudantes a caminho do refeitório para tomar o pequeno-almoço. Os vários especialistas dos diferentes departamentos da CRI que participam nesta viagem aproveitaram a manhã e este momento social para se despedirem uns dos outros: nos próximos dias estariamos em diferentes localidades para descobrir a indústria do chá chinesa através dos testemunhos dos produtores locais.
O Departamento de Português conta, nesta missão, com a preciosa ajuda do senhor Wang, o dono de uma propriedade nas imediações de Hangzhou (mais precisamente em Yuyao, a mais de uma hora de carro da carro da capital), onde se cultiva e processa o chá.
O senhor Wang real e o senhor Wang que imaginei ao ler no programa da viagem que passaria três dias em casa de cultivadores de chá em nada se assemelham. O último será a minha ideia, porventura ultrapassada, de um homem de roupas tradicionais, um homem de família ligada à terra e que com dificuldade sobrevive desta, mantendo o negócio aberto mais por hábito e amor do que por outra coisa. O senhor Wang que de facto me cumprimentou é um homem que guia um moderno carro, veste camisa e calças perfeitamente arranjadas e sorri com toda a cara ao ajudar-nos a arrumar no porta-bagagens as malas que carregamos.
A sua simpatia foi desde logo evidente e esta impressão não desvaneceu no caminho que nos separava de Yuyao. À chegada fomos recebidos num delicioso almoço por um grupo organizado para nos dar as boas vindas. Para além do senhor Wang, encontravam-se presentes a sua contabilista, o responsável pela pasta da agricultura da região de Dalan, uma equipa de reportagem de uma estação de televisão de Yuyao que veio registar o momento, bem como vários residentes locais chamados ao momento.
A refeição foi preparada com óbvio cuidado, numa demonstração do que de melhor a gastronomia local tem para oferecer. Entre uma série de pratos que são habituais em qualquer boa mesa chinesa (vegetais diversos cozidos ou fritos em alho, simples ou acompanhados por pedaços de carne de porco ou de vaca) brilhavam diversos pratos de marisco, umas favas cozinhadas com cebola absolutamente deliciosas e a jóia da coroa, e um dos pratos mais típicos e conhecidos desta região, o Porco Dongpo. Esta receita torna a carne do porco, cozinhada sem qualquer pressa, quase impossivelmente tenra, desfazendo-se esta na boca em inspirados sabores - uma maravilha! Entre um pedaço de porco e um ou outro brinde em honra das várias pessoas presentes, recuperámos a energia para a tarde de trabalho que ainda se estendia à nossa frente!
A paisagem ao redor das colinas cobertas pelos arbustos do chá era, e não esperava outra coisa, belíssima. O verde vigoroso galgava as encostas, cortado a espaços por coloridas árvores em flor. Respirava-se uma tranquilidade rural muito agradável. Aqui e ali viam-se os trabalhadores de largos chapéus que os protegiam do sol impiedoso. As suas mãos experientes escolhiam as folhas frescas que satisfaziam os critérios dos padrões de qualidade impostos pelas autoridades locais e reforçados pelo senhor Wang. Aqui cultiva-se chá verde, da variedade pubuxianming.
A tranquilidade do exterior e a forma artesanal com que se desenvolve a apanha do chá contrastam com a complexidade e modernidade das instalações onde as folhas ganham o carácter tão apreciado por muitos chineses (e vários estrangeiros, uma vez que parte da produção é dirigida à exportação para países como os Estados Unidos da América ou o Canadá). Até que isso aconteça, há todo um grupo de pessoas que se socorre de pesada maquinaria e morosas técnicas que dão corpo e aroma ao pubuxianming. O principal objectivo dos processos a que se submete o chá é secá-lo e baixar a presença da água na sua composição para valores abaixo dos 6%, limite a partir do qual o seu sabor ganha renovada expressão, a folha adquire um corpo que até então não tinha e é fácil a armazenagem e transporte das mesmas. Ao mesmo tempo, há que separar as eventuais folhas más que se tenham escondido entre as folhas de boa qualidade. O chá passa, assim, por salas onde descansa em largos tabuleiros, passa por máquinas onde é aquecido, soprado, misturado, batido, passa por postos de controlo de qualidade onde uma e outra e outra vez é verificado o estado do processo e o sucesso do mesmo, em etapas que algumas vezes se repetem.
No final da visita espera-nos um copo de pubuxianming no escritório do senhor Wang, a bebida onde se combinam uma certa tradição com modernas técnicas de produção e para a qual contribuiu o trabalho e empenho de tanta gente. Satisfeitos, sentamo-nos e desfrutamos com tempo...